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Temer é citado novamente na Lava Jato


O governo lançou ontem um pacote de medidas para estimular a economia brasileira, mas o impacto do anúncio no mercado doméstico é praticamente nulo. O evento foi visto como uma tentativa do Palácio do Planalto de seguir com a agenda econômica positiva, abafando e até subestimando os efeitos da Operação Lava Jato. Mas uma nova delação de outro executivo da Odebrecht envolvendo o presidente Michel Temer deve agitar os negócios locais hoje, descolando do sinal positivo vindo do exterior.

Reportagens de hoje nos principais veículos de comunicação afirmam que um dos principais executivos da empreiteira, o empresário Márcio Faria da Silva disse ter operacionalizado o repasse de recursos a pedido de Temer e do ex-deputado Eduardo Cunha. A liberação do dinheiro teria como contrapartida a atuação da Odebrecht em projetos da Petrobras.

Segundo o delator, Temer teria participado de uma reunião em 2010 para tratar de doações à campanha eleitoral do PMDB. À época, Temer era deputado federal, presidente do partido e candidato a vice na chapa de Dilma Rousseff. Cunha concorria à reeleição para a Câmara. Faria, por sua vez, era presidente do braço da Odebrecht responsável por obras industriais no Brasil e no exterior.

A reunião entre os três teria acontecido no escritório de Temer em São Paulo, contando ainda com a presença de João Augusto Henriques, um dos lobistas do PMDB na Petrobras. Procurado, Temer afirmou que houve o encontro, com Cunha levando um empresário da Odebrecht a seu escritório em 2010, mas "não pode garantir" que era o "senhor Márcio Faria".

A delação de mais um dos 77 executivos da empreiteira que firmaram acordo com a força-tarefa da Lava Jato segue como o principal fator de instabilidade, em um momento nada bom para os mercados emergentes como um todo. Os países em desenvolvimento têm sido alvo de uma recolocação de recursos, após o Federal Reserve sinalizar que será mais agressivo em relação ao aumento da taxa de juros nos Estados Unidos em 2017.

A sinalização deixada pelo Fed elimina as apostas de gradualismo, enxugando a liquidez global de modo mais acelerado. É verdade que o fim da era do dinheiro fácil para os ativos de maior risco já estava decretado há algum tempo, mas o aumento da velocidade do processo de normalização monetária nos EUA assustou parte dos investidores.

Essa má notícia prejudica, em especial, o Brasil. Apesar dos avanços recentes no ajuste fiscal, as perspectivas econômicas para o país no ano que vem estão comprometidas e a política segue cheia de incertezas, traçando um cenário pouco atrativo ao investidor - principalmente estrangeiro.

A sensação é de que está acabando um ano difícil, mas 2017 não promete começar nada fácil. Ao contrário, a crise política continua comprometendo as chances de o Brasil vencer a crise econômica. Portanto, de pouco adiante o Palácio do Planalto e o Ministério da Fazenda promover um grande evento para anunciar um pequeno pacote, com impacto reduzido na atividade real.

O setor produtivo passou todo o período da gestão Temer em 2016 clamando por medidas de incentivo capazes de estimular a economia, mas tanto a indústria, quanto o comércio e o setor de serviços têm apresentado resultados negativos, adiando para 2018 uma recuperação econômica. O segundo mergulho do Produto Interno Bruto (PIB) no segundo trimestre deste ano, intensificando a velocidade da queda, praticamente elimina as chances de números positivos do PIB na virada para 2017.

E esse cenário de retomada pode ficar ainda mais comprometido, agora que o dólar é o grande beneficiado do sinais do Fed. A moeda norte-americana ganha terreno ante os principais rivais no exterior, sendo negociada no maior nível desde 2003 ante o euro, ao passo que o ouro também é tido como refúgio da perspectiva de inflação mais acelerada nos EUA.

O rendimento (yield) do título norte-americano de 10 anos (T-note) alcançou o nível mais alto em mais de 2 anos. Nesta manhã, porém, a busca por proteção perde fôlego, o que abre espaço para uma recuperação dos índices futuros das bolsas de Nova York. O petróleo também avança, voltando a ser negociado acima de US$ 50 o barril. As principais bolsas europeias têm desempenho misto, assim como observado na Ásia.

Na agenda do dia, destaque para a pesquisa Ibope de avaliação dos brasileiros sobre o governo Temer e o grau de confiança na pessoa do presidente, que a CNI divulga às 11h. Depois, às 14h30, a CNI volta à cena para anunciar as sondagens dos setores da indústria e da construção civil no mês passado.

Pela manhã, a FGV anuncia (8h) uma nova prévia deste mês do índice de preços ao consumidor (IPC-S) e o resultado de novembro dos indicadores antecedente e coincidente da economia brasileira (11h). No exterior, saem a leitura final do índice de preços ao consumidor (CPI) na zona do euro em novembro (8h) e os dados sobre a construção de moradias nos EUA (11h30), ambos referentes ao mês de novembro.

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