Mercado diante da esfinge
- Olívia Bulla
- há 41 minutos
- 2 min de leitura
Mercado se apoia no alívio da guerra comercial sem entender o que está em jogo

O mercado financeiro continua respirando aliviado com a suavização da angústia tarifária. O Ibovespa renovou a máxima do ano no fechamento ontem, enquanto o dólar caiu pela sétima sessão consecutiva. Em Nova York, o S&P 500 abre o dia no nível mais alto em quatro semanas. O Dow Jones e o Nasdaq também miram novos ganhos para hoje.
Esse comportamento dos ativos de risco se apoia no entendimento dos investidores de que a guerra comercial entre Estados Unidos e China esfriou. A Casa Branca continua esperando que Pequim dê o primeiro passo para uma negociação, dando a entender que as alegações de Donald Trump de que conversou com Xi Jinping são pura verborragia.
A China continua concentrada no “trabalho econômico doméstico”, que deve ser coordenado com a “luta econômica e comercial na esfera internacional”, revela artigo no Beijing Daily. As lideranças chinesas querem usar a certeza do desenvolvimento de alta qualidade para lidar com a incerteza de mudanças drásticas no ambiente externo.
Portanto, a tensão entre as duas maiores potências mundiais permanece. A situação está longe de alcançar o equilíbrio, podendo ganhar tração a qualquer momento. Trump mesmo afirmou que “tem uma escada no bolso” para escalar o cenário geopolítico. Porém, o presidente dos EUA disse que “está ansioso” para não ter de usá-la.
Ele deve esperar até que as tarifas de cerca de 250% sobre produtos chineses provoquem um choque de oferta na economia dos EUA. A previsão é de que a partir de maio milhares de empresas norte-americanas comecem a reposição dos estoques. Porém, o custo quase três vezes maior pode levar a prateleiras vazias e a preços bem maiores ao consumidor.
Isso sem falar na possibilidade de demissões em massa em diversos setores, como varejo e transporte. Daí porque o relatório Jolts (11h) tem pouca relevância e deve ser olhado pelo retrovisor. Afinal, se o documento revelar a abertura de 7,5 milhões de vagas nos EUA em março significa que são mais postos de trabalho a serem fechados no horizonte à frente.
Ou seja, os mercados precisam entender que não se trata apenas de tarifas. Mais que isso, as tarifas não se tratam apenas do comércio internacional. E, acima de tudo, o comércio internacional não é o que está realmente em disputa. Assim como no primeiro mandato, a guerra comercial agora é transvestida de outra coisa. Em 2018, era uma guerra tecnológica.
Ao que tudo indica, o mercado ainda não decifrou qual é a essência do jogo em 2025.
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