Dividendos x Investimentos: quem dá mais?
Bitcoin lidera ranking de aplicações no ano até maio, enquanto pagamentos aos acionistas batem recorde no 1T24
Em tempos de juros altos por mais tempo nos Estados Unidos, os investidores buscam as melhores opções de investimentos, ávidos por retornos mais atrativos. Porém, se engana quem aposta na concorrência desleal da renda fixa e só tem olhos para os rendimentos elevados dos títulos pós-fixados.
Outros ativos também chamam a atenção no mercado financeiro. O Bitcoin, por exemplo, subiu mais que todos os rivais em maio. A criptomoeda teve valorização de quase 15% no mês passado, revertendo toda a queda registrada em abril, e reforçando a tese de reserva de valor.
O ouro, por sua vez, ficou em terceiro lugar no pódio das aplicações com maior retorno em maio e também no acumulado de 2024, conforme levantamento feito pelo Elos Ayta Consultoria. Com o metal precioso e o “ouro digital” brilhando mais e oferecendo refúgio em momentos de tensão geopolítica e incerteza econômica, as ações deixaram a desejar.
O Ibovespa, por exemplo, amarga a segunda pior colocação no ano, com perdas de 9%. Além disso, a ‘maldição de maio’ voltou e a bolsa brasileira encerrou o mês no negativo pela primeira vez desde 2019, apesar das compras dos investidores estrangeiros na B3. Ou seja, os gringos não seguiram à risca o Sell in May and go away.
Já os índices acionários em Nova York se recuperaram em grande estilo, depois de encerrarem abril no vermelho. Porém, o entusiasmo com a Inteligência Artificial (AI) foi responsável pela forte valorização do Nasdaq e do S&P 500. Apenas a ação da Nvidia, que não está na carteira do Dow Jones, acumulou alta de 23,5% em maio.
RF x RV
Com a frustração de que o rali da AI iria se espalhar aos demais setores, animando as bolsas globais, as empresas listadas tiveram de recorrer a outras estratégias para seduzir os investidores. É aí, então, que o pagamento aos acionistas entra em cena, de modo a fomentar a renda variável.
Cálculos da Janus Henderson mostram que os dividendos bateram recorde no primeiro trimestre. Segundo o Índice Global de Dividendos da gestora, a distribuição somou US$ 339,2 bilhões, o que representa um crescimento de quase 7%, por critérios não-recorrentes. Em termos nominais, a alta foi de 2,4% devido a menores dividendos especiais pontuais.
Globalmente, 93% das empresas que pagaram dividendos no primeiro trimestre mantiveram os proventos estáveis ou aumentaram os valores no período. Além disso, duas gigantes da tecnologia - Meta e Alibaba - pagaram dividendos pela primeira vez na história, enquanto a Walt Disney voltou a remunerar seus acionistas depois da longa pausa na pandemia.
No Brasil, a Petrobras distribuiu 20 vezes mais no primeiro trimestre deste ano em relação ao mesmo período do ano passado, após todo o imbróglio de não pagar dividendos extraordinários referentes ao quarto trimestre de 2023. Ainda assim, excluindo a estatal petrolífera, os pagamentos totais no Brasil cresceram em 20% de janeiro a março de 2024.
"As empresas estão reconhecendo que pagar dividendos é uma rota importante para devolver capital aos seus investidores"
Jane Shoemake, gerente de portfólio de ações globais da Janus Henderson
Outra estratégia relevante é a recompra de ações. Aliás, no mês passado, a Apple contrariou a tendência global das empresas - em especial das big techs - em relação à diminuição do total de ações disponíveis no mercado e anunciou a maior recompra de ações da história, no valor de US$ 110 bilhões.
Portanto, não é porque os ativos seguros - como títulos, moedas e metais preciosos - estão se valorizando no mercado que, necessariamente, as ações de empresas listadas têm maior risco. A questão que se coloca é a oportunidade aparente de retorno, em períodos em que muitos só pensam em aproveitar elevadas taxas de retornos por causa da inflação.