A semana promete
A votação nesta segunda-feira do parecer do relator Jovair Arantes, que defende a continuidade do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, concentra as atenções dos mercados domésticos. A apreciação do documento tem início logo cedo, às 10 horas, mas pode se prolongar ao longo do dia, o que deve manter os investidores em compasso de espera pelo desfecho, relegando as notícias vindas do exterior.
A expectativa é de que o documento seja aprovado, sendo que um placar muito desfavorável à presidente piorar as chances dela na votação do plenário, ao passo que um resultado apertado na comissão, pode elevar as chances de Dilma. Levantamento aponta que existem cerca de 35 votos favoráveis ao relator e, consequentemente, à abertura do processo de impeachment, de um total de 65 integrantes na comissão especial.
Se confirmado esse resultado, o tema entra na “ordem do dia” da Câmara, 48 horas depois de publicada a decisão. O presidente da Casa, Eduardo Cunha, deve iniciar a sessão entre quinta e sexta-feira, que pode durar até três dias, concluindo a votação no plenário no domingo ou na terça-feira que vem.
O resultado da votação entre os 513 parlamentos ainda é indefinido, mas é igualmente contrário à manutenção do mandato de Dilma. No placar da imprensa, são 291 votos de deputados a favor do impeachment, dos 342 que são necessários para aprovar a proposta, contra 115 pelo não afastamento da presidente. Do restante, 61 estão indecisos e 46 não quiseram responder.
O mercado, então, está em contagem regressiva. Como bom antecipador de tendências que é, aguarda apenas a confirmação das apostas já precificadas nos ativos brasileiros, com a Bovespa nos 50 mil pontos e o dólar a R$ 3,60, de modo a ampliar os ganhos quando o anúncio esperado for confirmado. Porém, não se pode descartar novas fases da Operação Lava Jato, tumultuando o cenário político no Brasil.
No exterior, o furor global com o vazamento do Panama Papers entra na segunda semana, sem alívio às principais lideranças. O primeiro-ministro britânico, David Cameron, foi obrigado a mostrar mais transparência sobre sua riqueza e terá de enfrentar o Parlamento hoje sobre a investida em paraísos fiscais.
O governo de Malta também enfrenta um voto de confiança, ao passo que o presidente argentino, Mauricio Macri, prometeu desvincular seus bens de duas empresas listadas no Panamá. Os vazamentos de documentos do escritório Mossack Fonseca têm colocado os políticos de todo o mundo na defensiva contra grupos populistas irritados com o aumento da desigualdade.
Nos negócios, os índices futuros das bolsas de Nova York e as principais bolsas europeias tentam se desvencilhar da queda dos preços do barril de petróleo, com o WTI voltando a ser negociado abaixo de US$ 40 antes do encontro de produtores para congelar a produção. A reunião deve acontecer em Doha, no domingo, e deve contar com a presença de Rússia, Venezuela e Arábia Saudita. Mas a notícia a produção de óleo do Irã bateu recorde pesa na commodity.
Ainda assim, os investidores pegam carona no sinal positivo vindo da Ásia, principalmente de Xangai (+1,64%), que saiu da mínima em uma semana, após os dados de inflação na China mostrarem uma melhora na demanda. Tóquio caiu 0,44%, com o iene ainda forte e na maior sequência de ganhos desde 2012.
O índice de preços ao consumidor (CPI) chinês subiu 2,3% em março em relação a um ano antes, no mesmo nível registrado em fevereiro, diante do salto de 7,6% nos alimentos. Já o índice de preços ao produtor (PPI) subiu pela primeira vez no mês desde setembro de 2013, encolhendo a queda, em base anual, para -4,3% no mês passado, de -4,9% no mês anterior.
Apesar do números abrirem espaço para uma pausa nos estímulos monetários pelo Banco Central da China (PBoC), os dados sugerem que o temor de deflação no país não procede. Ainda que o avanço de alguns preços seja temporário, a recuperação no setor imobiliário da segunda maior economia do mundo e também nas commodities trazem alívio para Pequim.
Na sexta-feira, a China volta à cena para divulgar, de uma só vez, os números do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre deste ano, e os dados de março da produção industrial, das vendas no varejo e do investimento estrangeiro em ativos fixos.
A previsão é de que a segunda maior economia do mundo tenha registrado expansão de 6,7%, na taxa anualizada, desacelerando-se brevemente ante a taxa de 6,8% no trimestre anterior. É válido lembrar que, nos três primeiros meses de 2016, a China foi afetada por uma intensa volatilidade no mercado financeiro combinado com um choque de confiança.
Chega de China, embora seja tudo sobre China nesta semana, em termos de indicadores econômicos. Sem ofensa às demais economias, mas o calendário de divulgações no restante do mundo tem poucos destaques.
Nos Estados Unidos, as atenções se dividem entre a temporada de balanços, cuja largada será dada pelos grandes bancos, e os dados norte-americanos sobre o varejo (quarta-feira), a inflação ao consumidor (quinta-feira) e a indústria (sexta-feira), além do Livro Bege (quarta-feira). Na zona do euro, também saem dados sobre os preços no varejo e a atividade industrial em março.
Fora da região da moeda única, o foco está na decisão de política monetária do Banco Central da Inglaterra (BoE), que deve manter os juros no mínimo histórico até que ocorra o referendo do chamado “Brexit”, em junho. O BC inglês ainda tem outros dois encontros antes da votação, no dia 23.
No Brasil, com o noticiário político ditando o rumo dos mercados domésticos, podem ser relegados os números sobre as vendas no varejo brasileiro em fevereiro (amanhã) e o indicador de atividade econômica do Banco Central (IBC-Br), previsto para até sexta-feira. Na quarta-feira, sai a pesquisa mensal do setor de serviços (PMS) no país e, no dia seguinte, é a vez do primeiro IGP do mês, o IGP-10. Também está prevista a divulgação da arrecadação federal em março, ainda sem data definida.