Vírus na China se espalha e eleva preocupação no mercado
A última semana de janeiro começa com as notícias sobre o surto do vírus na China ditando o rumo do mercado financeiro e espalhando o sinal negativo entre os ativos de risco. As bolsas internacionais exibem queda firme, ao redor de 1% em Nova York, ao mesmo tempo em que cresce a busca por proteção, com os investidores olhando com desconfiança os esforços adotados pelo governo chinês para a contenção da doença.
Contudo, Pequim não tem poupado esforços e adota várias medidas sem precedentes. Viagens turísticas ao exterior foram suspensas, assim como o comércio de animais selvagens. A circulação de transporte público permanece interrompida com várias cidades bloqueadas e o cancelamento de grandes eventos esvaziou a principal festa popular na China. Aliás, o recesso do Ano Novo Lunar foi estendido até o próximo domingo (dia 2).
Em pronunciamento ao Politburo do Partido Comunista, o presidente chinês, Xi Jinping, disse que a situação no país é grave. O vírus está se espalhando de forma acelerada, antes mesmo do aparecimento de sintomas. O número de casos cresceu na China drasticamente, para cerca de 3 mil já confirmados e 80 mortes. A Organização Mundial da Saúde (OMS) irá a Pequim, onde se reúne autoridades chinesas para falar do coronavírus.
Ao menos outros 11 países identificaram casos da doença, que se espalha por quatro continentes - exceto África. Os Estados Unidos confirmaram cinco casos de coronavírus e a embaixada norte-americana trabalha junto com o governo chinês para transportar cidadãos do país que estão na cidade de Wuhan, epicentro do surto da doença. Japão, França, Jordânia e Índia também pretendem fazer o mesmo, em uma ação coordenada em colaboração com a China. As pessoas resgatadas devem ficar em período de quarentena.
O temor dos investidores é de que o impacto do coronavírus não fique localizado apenas à economia chinesa, que deve desacelerar ainda mais, com os setores de comércio e serviços sendo os mais castigados. Ainda assim, é importante ressaltar que já se esperava uma pausa nas atividades na China nesta semana. Mas o risco é que o efeito econômico da doença acabe sendo maior, mais espalhado e de impacto mais profundo.
Disseminação preocupa
Os índices futuros das bolsas de Nova York exibem perdas acentuadas nesta manhã, ao redor de 1%, com a disseminação do coronavírus na China elevando a preocupação dos mercados. Na Ásia, Tóquio caiu 2%, em meio aos temores com o surto da doença, mas a maioria dos mercados na região permaneceu fechada por causa do feriado do Ano Novo Lunar.
A Bolsa de Sydney, na Austrália, também não abriu hoje. Na Europa, as principais bolsas da região abriram em forte queda, de quase 2%, com o índice Stoxx Europe 600 caindo mais de 1% nos primeiros minutos de pregão. Ao mesmo tempo, cresce a demanda em ativos seguros, com os investidores buscando proteção nos títulos norte-americanos (Treasuries), no ouro e no dólar. O petróleo, por sua vez, cai mais de 2%.
Ainda assim, os temores com o coronavírus abrem espaço para uma realização de lucros, com os investidores embolsando os ganhos recentes, após um forte rali global em 2019. Portanto, colocando-se a tragédia humana de lado e olhando do ponto de vista frio dos mercados, o surto da doença serve para ajustar os preços dos ativos, que vinham subindo rapidamente há meses.
Esse comportamento lá fora deve contaminar os mercados domésticos, afetando o desempenho do Ibovespa, que chegou a renovar o recorde de pontuação na semana passada, e valorizando o dólar, que encerrou a semana passada colado à marca de R$ 4,20. Diante dessa maior aversão ao risco, a agenda econômica fica relegada hoje, mas o risco de epidemia pode elevar a expectativa em torno dos bancos centrais.
Agenda carregada no exterior
O calendário de indicadores e eventos econômicos desta semana está mais relevante no exterior. Os destaques lá fora ficam com as decisões dos bancos centrais dos EUA (Fed) e da Inglaterra (BoE), na quarta e quinta-feira, respectivamente. Porém, não deve haver novidades, com ambos mantendo suas respectivas taxas de juros.
Ainda assim, merecem atenção as observações do BoE sobre a condução da política monetária após o Brexit, com a saída do Reino Unido da União Europeia (UE) confirmada para esta sexta-feira, e do Fed, após a assinatura da fase um do acordo comercial entre EUA e China. No foco, a fala do presidente da autoridade monetária, Jerome Powell.
Entre os indicadores econômicos, merecem atenção os dados preliminares do Produto Interno Bruto (PIB) nos EUA e na zona do euro no último trimestre do ano passado, na quinta e sexta-feira, respectivamente. Enquanto a economia norte-americano tende a mostrar resiliência, crescendo ao redor de 2%, a Europa parece estar à beira da retração.
Também merecem atenção os dados dos EUA sobre a renda pessoal e os gastos com consumo, na sexta-feira. Neste dia, a China volta da longa pausa de uma semana de feriado de Ano Novo Lunar anunciando os indicadores de atividade em janeiro. No Brasil, ainda na sexta-feira, saem os dados sobre o mercado de trabalho ao final de 2019.
Ainda por aqui, ao longo da semana, serão publicadas as notas do Banco Central sobre o setor externo (hoje), as operações de crédito (quarta-feira) e o resultado fiscal (sexta-feira) - todas referentes ao mês de dezembro. Além disso, sai o resultado de janeiro do IGP-M, na quinta-feira.
Confira a seguir os principais destaques desta semana, dia a dia:
*Horários de Brasília
Segunda-feira: A semana começa com a divulgação, no Brasil, do índice de confiança no comércio em janeiro (8h) e da nota do BC sobre o setor externo em dezembro (10h30), além das tradicionais publicações do dia: Pesquisa Focus (8h25) e balança comercial semanal (15h). A temporada de balanços ganha destaque, trazendo o resultado trimestral da Cielo, após o fechamento. Já no exterior, saem dados do setor imobiliário norte-americano em dezembro.
Terça-feira: Dados sobre a confiança e os custos na construção civil são os destaques da agenda doméstica, enquanto o calendário norte-americano traz as encomendas de bens duráveis e a confiança do consumidor.
Quarta-feira: Mais uma sondagem e mais uma nota do BC, desta vez, sobre a confiança na indústria e as operações de crédito será conhecidas hoje, enquanto no exterior serão conhecidos novos indicadores sobre o setor imobiliário nos EUA. Na safra de balanços domésticos, sai o resultado trimestral do Santander. Mas o destaque fica mesmo com a decisão de juros do Fed, seguida da entrevista coletiva de Powell.
Quinta-feira: O calendário doméstico dia traz o resultado de janeiro do IGP-M e o índice de confiança no setor de serviços, além do resultado fiscal do governo em dezembro. Nos EUA, destaque para os números preliminares do PIB no quarto trimestre de 2019. Também merece atenção a decisão de juros do Banco da Inglaterra (BoE), enquanto na zona do euro sai índices de confiança dos agentes econômicos.
Sexta-feira: A semana chega ao fim com a China devendo voltar do longo feriado de uma semana e anunciado dados sobre a atividade industrial e no setor de serviços em janeiro. No Brasil, saem dados sobre a inflação ao produtor (IPP) e o mercado de trabalho, enquanto nos EUA merecem atenção os números sobre a renda pessoal, os gastos com consumo e o custo da mão de obra, além do sentimento do consumidor. Já na zona do euro, serão conhecidos os dados preliminares do PIB ao final do ano passado.