Véspera de carnaval pede cautela
A sexta-feira antecede uma longa pausa no mercado financeiro doméstico, com a folia do carnaval interrompendo os negócios até o início da tarde da próxima quarta-feira, esvaziando o pregão local já a partir de hoje. Com isso, os investidores devem redobrar a cautela e reduzir a exposição ao risco, uma vez que os ativos no exterior vão funcionar normalmente.
E o renovado temor em relação ao impacto do surto de coronavírus na economia global continua pesando nos mercados internacionais, diante do número crescente de casos confirmados e óbitos fora da China. A disseminação da infecção na Ásia preocupa, com o Japão registrando quase 730 casos e a Coreia do Sul, pouco mais de 200.
Enquanto isso, no país que é o epicentro da doença, uma nova revisão na metodologia elevou para 2.239 o número de mortes no país, com mais 115 óbitos apenas na província de Hubei. No total, a China registra mais de 75,5 mil casos da doença, enquanto quase 18,5 mil pessoas se recuperaram.
Em reação a esses números, as bolsas asiáticas fecharam em queda - exceto Xangai (+ 0,3%). A Bolsa de Seul liderou as perdas (-1,5%), enquanto Hong Kong recuou 1% e Tóquio caiu menos (-0,4%). No Ocidente, os índices futuros das bolsas de Nova York amanheceram no vermelho, penalizando a abertura do pregão europeu.
Com isso, os investidores elevam a posição defensiva, o que mantém o ouro nos maiores níveis em sete anos, acima de US$ 1,6 mil por onça-troy, e derruba o rendimento (yield) dos títulos norte-americanos (Treasuries), com o papel de 10 anos (T-note) vindo abaixo da faixa de 1,5% pela primeira vez desde setembro. Já o dólar segue forte, próximo à máxima em quase três anos ante uma cesta de moedas, sendo visto como uma proteção (hedge) universal.
Ontem, a moeda norte-americana renovou a maior cotação nominal em relação ao real pelo terceiro dia seguido, flertando com a marca de R$ 4,40 - e nada indica que o Banco Central irá impedir essa conquista - enquanto o Ibovespa quase anulou os ganhos da semana. O movimento local acompanhou a tendência externa, diante da preocupação com um impacto mais dramático da doença nas empresas e na economia pelo mundo, que já dava sinais de fragilidade em relação ao crescimento.
Sem complacência
A questão é que, até então, o mercado financeiro vinha ignorando o potencial de contágio do coronavírus em outros países, não apenas no âmbito da saúde, mas também em termos de atividade, relegando os efeitos da queda do consumo e da produção na China em toda uma cadeia global de suprimentos e de comércio internacional.
Fosse há trinta anos, quando a economia chinesa representava menos de 5% do PIB global, até seria compreensível a expectativa de um impacto diminuto. Mas, atualmente, a participação da China no crescimento econômico global é de quase 20% (19,3%), superior até à fatia da América do Norte como um todo (18,4%).
Ao mesmo tempo, cresce a percepção de que uma retomada da atividade na China a todo o vapor ainda é ilusória, o que já afeta fábricas de outros países da região Ásia-Pacífico. A produção chinesa não deve voltar ao normal antes de meados de março, com o controle do vírus ficando mais vulnerável à medida que trabalhadores retornem às atividades e as empresas reabram.
Portanto, a situação é complexa, ante a dimensão da economia chinesa e os possíveis impactos sociais, dado o tamanho da população do país. Nem mesmo os esforços de Pequim devem impedir uma abrupta desaceleração neste trimestre, para 4,5%, de +6% no trimestre anterior, o que arrastaria o crescimento em 2020 para algo entre 5% e 5,5%.
Aliás, a meta para o crescimento econômico deste ano ainda não foi definida, com o Congresso do Partido Comunista chinês (PCC), que tradicionalmente acontece em março, sendo adiado e ainda sem data definida.
Atividade recheia agenda
A agenda econômica doméstica está mais fraca hoje, trazendo apenas os índices de confiança da construção civil e do comércio neste mês, além dos custos no setor imobiliário. Já no exterior, serão conhecidas as leituras preliminares sobre a atividade nos setores industrial e de serviços na zona do euro e nos EUA, ao longo da manhã.
O calendário econômico do dia também traz a leitura final do índice de preços ao consumidor (CPI) na zona do euro e as vendas de imóveis residenciais usados nos EUA. ambos referentes ao mês de janeiro.