O mercado que se adapte
Dados reforçam tese de juros altos por mais tempo e desafiam convicção do mercado
Dose diária: Os mercados globais aderem ainda mais à narrativa de juros altos por mais tempo. Os indicadores econômicos e os discursos de autoridades dos bancos centrais reforçam essa tese. Com isso, crescem as apostas de mais um aperto pelo Federal Reserve ainda neste ano, ao mesmo tempo em que diminuem as chances de aumento no ritmo de queda da taxa Selic em breve. O problema não são os dados econômicos, mas a convicção dos investidores de que os BCs serão mais lenientes com a condução da política monetária, o que não tem se confirmado. Assim, não são os indicadores que têm que se adaptar à tese do mercado, mas é o mercado que precisa se ajustar à realidade dos números.
Os mercados globais aderem ainda mais à narrativa de juros altos por mais tempo. Os indicadores econômicos e os discursos de autoridades dos bancos centrais reforçam essa tese, elevando as apostas de mais um aperto pelo Federal Reserve ainda neste ano e esvaziando as chances de aumento no ritmo de queda da taxa Selic em breve.
O problema não é que a economia nos Estados Unidos segue resiliente nem que o mercado de trabalho no Brasil permanece robusto, conforme apontaram os dados divulgados na segunda-feira (2). A questão é que os investidores continuam convictos de que os BCs serão mais lenientes com a condução da política monetária, o que não tem se confirmado.
Por isso, dirigentes do Fed mantiveram o tom duro (“hawkish”) ontem, deixando em aberto novas altas na taxa e repetindo o mantra do juro elevado por um período prolongado. Da mesma forma, o presidente do Banco Central brasileiro, Roberto Campos Neto, reiterou que o mercado erra bastante nas projeções para o PIB, subestimando o crescimento.
Ou seja, em ambos os casos, é necessário manter a política monetária em terreno restritivo, de modo a evitar uma nova rodada de pressão inflacionária. Não há, portanto, a necessidade de estimular a economia. Ao contrário, o desafio continua sendo a alta dos preços - sendo que isso inclui os ativos de risco.
Aliás, o rendimento (yield) dos títulos de 10 anos dos EUA (T-note) saltaram mais de 10 pontos em um único dia, ultrapassando a marca de 4,70% durante a sessão da véspera. As bolsas em Nova York não gostaram desse aumento adicional e contaminaram o desempenho do Ibovespa. Já o dólar avançou um pouco mais na faixa de R$ 5,00.
Dados desafiam mercado
Nesta terça-feira (3), os ajustes nos ativos devem continuar. A agenda do dia deve contribuir para esse movimento, com a divulgação do primeiro de três indicadores de emprego nos EUA nesta semana - a saber, o relatório Jolts de abertura de vagas em agosto (11h) - mexendo com as expectativas para o Fed em novembro.
Por aqui, o desempenho da indústria brasileira no mesmo mês (9h) pode levar a novas revisões nas estimativas para a economia, aumentando as chances de novos cortes de 0,50 ponto porcentual no juro básico nas próximas reuniões. Assim, não são os indicadores que têm que se adaptar à tese do mercado, mas é o mercado que precisa se ajustar à realidade dos números.
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Confira o desempenho dos mercados globais por volta das 7h40:
EUA/Futuros: Dow Jones +0,13%; S&P 500 +0,17% e Nasdaq +0,14%;
NY: Ibovespa em dólar (EWZ) ainda não tinha negociação no pré-mercado; ADRs da Petrobras +0,14%; ADRs da Vale -0,38%
Europa: Stoxx 600 -0,23%; Frankfurt -0,31%; Paris -0,16%; Londres +0,34%;
Ásia/Fechamento: Tóquio -1,64%; Hong Kong -2,69%; Xangai fechada por feriado na China;
Câmbio: DXY +0,15%, 107.07 pontos; euro +0,04%, a US$ 1,0482; libra -0,17%, a US$ 1,2065; dólar +0,01% ante o iene, a 149,8 ienes;
Treasuries: rendimento da T-note de dez anos em 4,707%, de 4,687% na sessão anterior; o rendimento da T-bill de 2 anos estava em 5,127%, de 5,112% mesma comparação;
Commodities: ouro -0,27%, a US$ 1.842,30 a onça na Comex; petróleo WTI -0,41%, a US$ 88,45 o barril; Brent -0,50%, a US$ 90,26 o barril; Dalian sem pregão por uma semana devido a um feriado na China.