Mercados procuram o adulto na sala
Anúncios de Petrobras e Biden reforçam visão míope dos mercados
Dose diária: Os mercados globais têm observado a guerra de Israel como convém. Até então, a preocupação era com o impacto do conflito na região na oferta de petróleo, mas a retirada das sanções dos Estados Unidos à Venezuela afastou esse risco. Talvez, por isso, a Petrobras tenha decidido reduzir os preços da gasolina. No entanto, a decisão foi bastante criticada. Ou seja, no caso da estatal, a escalada da tensão geopolítica no Oriente Médio influencia nos preços da commodity no exterior. Aliás, as referências americana (WTI) e global (Brent) sobem nesta manhã, testando a marca de US$ 90. Daí então, o presidente dos EUA, Joe Biden, defendeu um pacote da ordem de US$ 100 bilhões para apoiar Israel, Ucrânia e, de quebra, Taiwan. Antes de tudo isso, Jerome Powell foi o “adulto na sala” e listou uma série de incertezas, tanto antigas quanto novas, que complicam a condução da taxa de juros nos EUA.
Os mercados globais têm observado a guerra de Israel com um olhar frio - e como convém. Até então, a preocupação era com o impacto do conflito na região na oferta de petróleo, mas a retirada das sanções dos Estados Unidos à Venezuela afastou esse risco, provocando uma queda firme nos preços do barril ontem (19).
Talvez, por isso, a Petrobras tenha decidido reduzir os preços da gasolina. No entanto, a decisão foi bastante criticada. Afinal, cresce a defasagem do combustível em relação aos níveis internacionais, ao passo que o aumento do litro do diesel cobrado nas refinarias apenas reduz parte desse descolamento.
Fica, então, a sensação de que, no caso específico da estatal petrolífera, a escalada da tensão geopolítica no Oriente Médio influencia nos negócios com a commodity no exterior, puxando a cotação para cima. Aliás, as referências americana (WTI) e global (Brent) voltam a subir nesta manhã, testando a marca de US$ 90.
Risco fiscal
O anúncio da Petrobras foi feito minutos antes da fala do presidente dos EUA, Joe Biden, à nação (e ao mundo). Em um discurso televisionado - tal qual a guerra - ele expôs os argumentos para que os contribuintes americanos continuem a apoiar Israel e a Ucrânia. De quebra, Taiwan também entrou na lista de “democracias vizinhas” a serem protegidas.
Segundo o chefe da Casa Branca, o sucesso de tais parceiros é vital para a segurança nacional dos EUA, apesar de os conflitos parecerem distantes. Já o presidente russo, Vladimir Putin, foi comparado ao Hamas. O pronunciamento foi feito para defender um pacote de ajuda urgente da ordem de US$ 100 bilhões, a ser enviado ao Congresso.
Porém, a proposta deve enfrentar dificuldades, em meio à disputa entre republicanos e democratas, que mantém a Câmara dos EUA sem presidência há semanas. Além disso, a nova impressão de dólares amplia os riscos fiscais, elevando ainda mais a dívida americana - alô, agências de rating! - e colocando em xeque os esforços políticos de evitar um shutdown no mês que vem.
Powell põe pingos nos Is
Daí porque Jerome Powell foi o “adulto na sala”. Durante evento na tarde de quinta-feira (19) - portanto, antes da Petrobras e de Biden roubarem a cena - o presidente do Federal Reserve listou uma série de incertezas, “tanto antigas quanto novas”, que complicam a condução da taxa de juros nos EUA.
Afinal, ainda que não haja um calote da dívida dos EUA, um eventual novo pacote fiscal tende a enfraquecer o dólar, com o aumento da moeda em circulação reduzindo o poder de compra. Traduzindo o economês, a ajuda financeira, se aprovada, significa mais inflação.
Uma vez que Powell reafirmou o compromisso do Fed em trazer o índice de preços de volta à meta de 2% ao longo do tempo, não se pode descartar novos aumentos na taxa dos EUA. Se não em novembro, talvez em dezembro. Sem sinalizar o fim do ciclo de aperto, tampouco se sabe quanto mais os juros vão subir. Afinal, é assim que se controla a inflação.
Assim, os investidores olham para o que realmente importa, aos olhos dos mercados, e seguem frustrados com a retomada do apetite por risco. O sinal negativo prevalece nas bolsas internacionais nesta manhã, o que tende a ser o guia dos ativos brasileiros novamente nesta sexta-feira (20).
Pílulas do Dia 💊
Petrobras 1: Petrobras reduz preço da gasolina e eleva do diesel, apesar de tensão geopolítica no Oriente Médio. Saiba mais.
Petrobras 2: Estatal crava recordes e sobe mais de 10% em meio à guerra e petróleo. Leia aqui.
Putin, Hamas e Taiwan: Presidente dos EUA anuncia ‘pacote inédito’ a Israel, Ucrânia e Taiwan e diz que Hamas e Vladimir Putin (Rússia) querem aniquilar democracias. Confira.
Nome e sobrenome: Jerome Powell frustra reação do apetite ao risco e mercado não descarta aperto dos juros em dezembro. Entenda.
Confira o desempenho dos mercados globais por volta das 7h35:
EUA/Futuros: Dow Jones -0,28%; S&P 500 -0,31% e Nasdaq -0,37%;
NY: Ibovespa em dólar (EWZ) sem negociação no pré-mercado; nos ADRs, da Petrobras +0,37% e da Vale -1,10%;
Europa: Stoxx 600 -0,96%; Frankfurt -1,17%; Paris -1,16%; Londres -0,84%;
Ásia/Fechamento: Tóquio -0,54%; Hong Kong -0,72%; Xangai -0,74%;
Câmbio: DXY -0,02%, 106.23 pontos; euro +0,01%, a US$ 1,0586; libra -0,18%, a US$ 1,2122; dólar +0,10% ante o iene, a 149,95 ienes;
Treasuries: rendimento da T-note de dez anos em 4,942%, de 4,990% na sessão anterior; o rendimento da T-bill de 2 anos estava em 5,157%, de 5,165% mesma comparação;
Commodities: ouro +0,77%, a US$ 1.995,80 a onça na Comex; petróleo WTI +1,21%, a US$ 890,45 o barril; Brent +1,08%, a US$ 93,40 o barril; o contrato futuro do minério de ferro (janeiro/24) fechou em -1,21% em Dalian (China), a 856 yuans após ajustes (~US$ 117,30).