Mercado tem pressa
- Olívia Bulla
- há 8 horas
- 2 min de leitura
Mercado quer solução ‘pra já’ da guerra comercial para voltar a fazer negócios como antes

O mercado financeiro não gosta de ficar à espera. E não, não se trata da expectativa pela Super Quarta, que já é logo ali. Os investidores queriam “para já” uma solução da guerra comercial, após os recuos de Donald Trump e da China mostrar disposição em conversar. Mas a demora no início das negociações comerciais com os Estados Unidos desanimou.
É essa mentalidade de curto prazo que pune os mercados. Mais que isso, é a percepção de que os investidores vão poder em breve voltar a fazer negócios como antes que castiga os ativos de risco. Como resultado, o intervalo de oscilação é cada vez mais estreito. Além disso, movimentos de recuperação vem na sequência de fortes quedas.
O Ibovespa, por exemplo, não conseguiu cravar novo recorde ontem e caiu mais de 1%. Já o dólar dificilmente consegue se distanciar da faixa de R$ 5,90, com muitos ainda vendo a moeda norte-americana como refúgio para proteger o patrimônio. Isso em um momento em que parece ser questão de tempo a perda do status de reserva mundial de valor.
Diante disso, o sobe-e-desce dos mercados no dia a dia torna-se ainda mais irrelevante. Da mesma forma, a agenda de indicadores e eventos econômicos tampouco rouba a cena. Mesmo na véspera da decisão de juros dos bancos centrais dos EUA (Fed) e do Brasil (Copom). O mais provável é um movimento de “compra ou venda de notícias”.
Ou seja, os mercados devem reagir apenas ao anúncio de acordos comerciais por parte de Washington. Ainda mais agora que Wall Street já embutiu nos preços das ações norte-americanas todo o retrocesso nas tais “tarifas recíprocas”. Em outras palavras, o mercado já se libertou e percebeu que o Dia da Libertação não foi tão ruim quanto se temia.
No entanto, isso não significa que eventuais acordos bilaterais sejam suficientes para impulsionar as bolsas e moedas de forma sustentável. Talvez seja essa a esperança dos investidores. Mas a forma como o cenário à frente está se desenhando deixa claro o porquê do desânimo. Em algum momento, esse sentimento tende a se transformar em inquietação.
Não é de agora que esta coluna fala que a visão que os mercados têm sobre como as questões geopolíticas serão resolvidas ou de como será a nova arquitetura global é, no mínimo, míope - para não dizer distorcida. O caminho não é claro e não há um consenso de para onde seguir.
Isso explica porque os mercados não conseguem continuar avançando, pois não é algo que se justifica simplesmente porque os mercados são soberanos. Tampouco se trata apenas de uma questão de “cortes nos juros”, seja agora ou daqui a pouco.
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