Mercado tem dia de ajuste
A volta do fim de semana prolongado no Brasil reserva ajustes positivos nos ativos locais, após as bolsas de Nova York subirem pela quarta sessão ontem, com o setor de tecnologia em destaque. O movimento ocorreu apesar do impasse nas negociações entre republicanos e democratas sobre estímulos adicionais a três semanas das eleições nos Estados Unidos e antes do início da temporada de balanços por lá, que começa hoje.
Ou seja, os investidores voltaram-se mais uma vez para as empresas que devem despontar se a recuperação econômica norte-americana continuar perdendo força, após a forte onda vendedora (sell off) nas techs no mês passado. Ontem, o Nasdaq fechou cerca de 1,5% abaixo do recorde de fechamento, registrado no início de setembro. Os recibos de depósito de ações brasileiras (ADRs) também subiram.
Wall Street também já se prepara para o resultado eleitoral de novembro, com os investidores ajustando posições a partir dos cenários que apostam como os mais prováveis. O melhor de todos, aos olhos do mercado financeiro, seria a reeleição de Donald Trump, com os republicanos mantendo a maioria no Senado. Já o pior dos mundos seria uma indefinição, tal qual no pleito de 2000, quando a decisão foi parar na Suprema Corte.
Nesta manhã, porém, os índices futuros estão no vermelho, após a Johnson & Johnson suspender temporariamente os testes para uma vacina de covid-19, que já estava na terceira fase, após uma das participantes apresentar uma doença inexplicada. A notícia também penaliza as bolsas europeias, que monitoram também as negociações entre Reino Unido e União Europeia (UE) sobre um acordo comercial após o Brexit.
Já na Ásia, Tóquio e Xangai fecharam de lado, com um ligeiro viés positivo, ao passo que o pregão em Hong Kong foi interrompido por causa de um tufão, relegando os dados robustos da balança comercial chinesa. As exportações da China cresceram pelo quarto mês consecutivo em setembro, em +9,9% em base anual, mais que a previsão de alta de 9,6% e acima do aumento de 9,5% verificado em agosto.
Os números mostram melhora da demanda externa. Já o consumo doméstico ganhou tração, com as importações chinesas avançando 13,2% no mês passado, revertendo a queda de 2,1% vista em agosto e ficando bem acima da expectativa de +0,5%. Com isso, o superávit comercial da China encolheu a US$ 37 bilhões, ante saldo positivo de US$ 58,9 bilhões em agosto e projeção de US$ 58,4 bilhões.
Dívida é dúvida
Por aqui, o radar dos investidores continua em Brasília, em meio às dificuldades da equipe econômica de encaixar o Renda Cidadã no Orçamento de 2021 sem “furar” o “teto dos gastos”. É crescente a pressão na ala política para prorrogar o chamado “Orçamento de Guerra”, permitindo descumprir as metas fiscais também no ano que vem, de modo a manter o auxílio emergencial aos mais atingidos pela pandemia.
O assunto vem incomodando o mercado doméstico, descolando-o do exterior. Mas a ausência de ruídos políticos permitiu que o Ibovespa conseguisse subir pela primeira vez após cinco semanas sem resultado negativo, enquanto o dólar interrompeu quatro altas semanais. Já os juros futuros reagem aos esforços do Banco Central e do Tesouro Nacional para reduzir a pressão sobre as condições de financiamento da dívida pública.
Na última sexta-feira, BC e Tesouro anunciaram mudanças para os leilões de títulos públicos e operações compromissadas. A investida tende a aumentar a demanda por LFTs, papel atrelado à variação da Selic, e se dá em um momento em que o investidor tem buscado segurança, diante das incertezas no cenário doméstico, sobretudo no âmbito fiscal, em meio às medidas para combater os efeitos econômicos da pandemia.
Mas a expectativa é de que a quietude política dure até depois das eleições municipais, em meados de novembro, o que pode esticar o alívio técnico dos ativos locais. Mas enquanto a discussão em torno do Renda Cidadã e o “teto dos gastos” não mudar, qualquer melhora por aqui tende a ser mais pontual do que sustentável. Afinal, ainda não se sabe como o novo programa social será bancado, gerando momento de instabilidade nos negócios.
Agenda cheia na semana
Dados de atividade no Brasil e no exterior estão em destaque na agenda econômica desta semana, juntamente com índices de preços ao consumidor (CPI) e ao produtor (PPI) nos EUA e na China, entre hoje e amanhã. Aqui, o setor de serviços, amanhã, deve seguir em trajetória de recuperação em agosto, ainda que em ritmo mais lento.
Ainda assim, o IBC-Br, calculado pelo Banco Central, deve reforçar a leitura da atividade econômica forte, apontando para um crescimento robusto do PIB no terceiro trimestre. Lá fora, o desempenho da indústria na zona do euro será conhecido na quarta-feira. Na sexta-feira, é a vez da produção industrial e das vendas no varejo dos EUA.
Na safra de balanços norte-americana, JPMorgan, Citigroup e BlackRock divulgam seus resultados trimestrais hoje. Amanhã, é a vez do Wells Fargo, Bank of America e Goldman Sachs. Na quinta-feira, sai o demonstrativo contábil do Morgan Stanley. Também são esperados os números das aéreas United Airlines e Delta.
Confira a seguir os principais destaques desta semana, dia a dia:
*Horários de Brasília
Terça-feira: O dia traz uma das tradicionais publicações da véspera, a saber, o relatório de mercado Focus do Banco Central (8h25), que ficou para hoje devido ao feriado ontem. No exterior, destaque para o índice de preços ao consumidor norte-americano (CPI), às 9h30. Logo cedo, na zona do euro, sai o índice ZEW de sentimento econômico na região. Além disso, o Fundo Monetário Internacional (FMI) publica suas mais recentes previsões para a economia global.
Quarta-feira: A agenda doméstica traz o desempenho do setor de serviços em agosto, os dados semanais do fluxo cambial e também da balança comercial. No exterior, saem índices de preços ao produtor (PPI) dos EUA e da China, além do consumidor (CPI) chinês. Também merece atenção o resultado da indústria na zona do euro em agosto.
Quinta-feira: O índice de atividade do Banco Central (IBC-Br) é o destaque da agenda doméstica, enquanto nos EUA saem dados regionais da atividade industrial em Nova York e na Filadélfia em outubro. Também serão conhecidos os pedidos semanais de auxílio-desemprego feitos no país.
Sexta-feira: A semana chega ao fim trazendo no Brasil apenas o primeiro IGP do mês, o IGP-10. Já nos EUA, o calendário econômico está carregado, com dados sobre o desempenho do varejo e da indústria no mês passado, além do índice de confiança do consumidor norte-americano.