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Mercado sofre revés contra o coronavírus


O número de casos oficialmente confirmados de coronavírus na China deu um salto de quase 15 mil de um dia para o outro, após a introdução de novos métodos para acelerar o diagnóstico, e frustrou a expectativa do mercado financeiro de controle rápido da doença, trazendo de volta as incertezas sobre o impacto na economia global.


Esse receio resgata o sentimento de aversão ao risco no exterior, o que pode pressionar os negócios locais, ainda mais após o ministro da Economia, Paulo Guedes, voltar a defender o “novo normal” da economia brasileira, que prescreve juros baixos e dólar alto. O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, não entrou na polêmica.


Mas o foco dos investidores está na decisão da província de Hubei, epicentro do vírus, de ampliar o método de verificação da doença para além de testes de laboratório e adicionar casos até então suspeitos, mas que foram confirmados via escaneamento de imagem e relatórios clínicos. A mudança ocorreu em meio à troca de liderança do Partido Comunista na região e foi feita para que mais pacientes pudesse receber o tratamento.


Com a revisão da metodologia, o total de casos confirmados de coronavírus subiu para 52,5 mil, sendo que mais de 48 mil estão concentrados apenas em Hubei. Ainda existem outros 16 mil casos suspeitos. As mortes na região mais que duplicaram, subindo para 1.310, de um total de 1.368 óbitos em toda a China. Pouco mais de 6 mil pessoas se curaram.


Confiança abalada


O temor do mercado financeiro é de que esses números continuem crescendo, agora com a revisão no método de diagnóstico, justamente em um momento em que os investidores estavam complacentes com a ideia de desaceleração no número de casos. Afinal, não se sabe se foi um ajuste único nos dados. Com isso, há o risco de uma nova rodada do surto.


Em reação, os índices futuros das bolsas de Nova York e das bolsas europeias recuam, após uma sessão negativa na Ásia. Ainda assim, as perdas são moderadas. Xangai liderou as baixas, com -0,7%, enquanto Hong Kong recuou 0,4% e Tóquio caiu 0,1%. Já na Austrália, a Bolsa de Sydney subiu 0,2%.


Nos demais mercados, o yuan chinês (renminbi) caiu, ao passo que o iene ganha força com a busca por proteção em ativos seguros, o que também fortalece o ouro e os títulos norte-americanos (Treasuries). Já o euro é negociado próximo ao menor nível desde 2017, enquanto o petróleo cai, com o barril do tipo WTI cotado na faixa de US$ 51.


Apesar de o anúncio na China ter abalado a confiança dos investidores, os mercados também se mostram encorajados pelo que deve ser um retrato mais fiel sobre a doença no país. Ainda assim, os números geram incertezas quanto à gravidade do surto e à capacidade das autoridades chinesas em contê-lo.


4 com 4


O ministro Paulo Guedes voltou a falar sobre o dólar e afirmou que é melhor “quatro com quatro” (dólar na faixa de R$ 4 e Selic na casa de 4%) do que taxa de juros a 14% e o dólar a R$ 1,80. Afinal, estava “todo mundo indo para a Disneylândia”, até “empregada doméstica”. “Uma festa danada.”


Aliás, no dia em que completou seis meses que superou essa faixa, a moeda norte-americana alcançou novos topos históricos, indo além de R$ 4,35 durante o pregão e cravando o maior valor nominal desde a criação do real, em 1994. Ao final, o dólar acabou fechando levemente abaixo desse nível, mas ainda cravou recorde - o quarto seguido.


E essa dinâmica tende a continuar. Ainda mais agora que os dados sobre a atividade doméstica em dezembro continuaram decepcionando, após a frustração com os números de novembro. Com isso, a expectativa de que a economia brasileira ganharia tração ao final de 2019 não se concretizou, levantando dúvida quanto ao ritmo da recuperação neste ano.


Daí, então, que ganhou força o debate sobre ajustes adicionais na taxa básica de juros ainda em 2020, apesar de o BC ver como “adequada” a interrupção do ciclo de cortes na Selic. No mercado de juros futuros, os investidores calibram as chances de queda já em junho, ao mesmo tempo em que veem os juros básicos baixos por um período prolongado.


Agenda mais vazia, mas com destaques


Aliás, mais um indicador sobre a atividade doméstica, desta vez, no setor de serviço em dezembro (9h) tende a calibrar as apostas sobre o rumo da Selic. Na safra de balanços, o Banco do Brasil publica seus resultados, antes da abertura. Já nos EUA, às 10h30, saem a inflação ao consumidor (CPI) em janeiro e os pedido semanais de auxílio-desemprego.


No fim do dia, são esperados dados de atividade na China, mas a divulgação dos números da indústria e do varejo no início deste ano deve ser adiada, assim como ocorreu com a balança comercial. Aliás, a ausência de indicadores econômicos chineses dificulta a análise sobre o impacto do surto de coronavírus no país.


Mas nem por isso, o mercado financeiro elevou a cautela ou interrompeu o rali dos ativos de risco. A ver, então, quando esses dados forem conhecidos. Se o estrago for grande e a reação dos negócios, exagerada, a culpa será da China. Porém, se os números fossem liberados neste momento, apenas iria antecipar (e acelerar) o processo.


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