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Mercado se ocupa dos juros, enquanto China mira economia real

  • Foto do escritor: Olívia Bulla
    Olívia Bulla
  • há 3 horas
  • 4 min de leitura
Imagem realista/semirrealista de atividade econômica urbana na China: logística, portos, trens, fábricas modernas ou centros de distribuição, com gráficos discretos sobrepostos
Super Quarta concentrou atenção do mercado, em semana marcada por dados e eventos relevantes na China

O mercado financeiro estava tão ocupado com a Super Quarta de decisão de juros no Brasil e nos Estados Unidos que mal teve tempo para olhar para os indicadores e eventos econômicos na China na semana passada. Dados sobre o comércio exterior, inflação e atividade conhecidos nos últimos dias apontam por que 2025 foi “um ano verdadeiramente extraordinário”, conforme palavras do presidente Xi Jinping em discurso.


A começar pela inédita marca de superávit comercial de US$ 1 trilhão. O saldo positivo acumulado nos primeiros 11 meses do ano foi alcançado apesar do tarifaço imposto por Donald Trump desde abril, quando a tarifa sobre produtos chineses importados aos EUA chegou a 145%. Um acordo assinado entre Trump e Xi representou uma pausa tática na guerra comercial por seis meses.    


Segundo o Trading Economics, Pequim ampliou os esforços para diversificar seus destinos de exportação e estreitar os laços comerciais com os principais parceiros desde a vitória de Trump nas eleições, há cerca de um ano. O resultado: no acumulado de 2025, as exportações chinesas cresceram 5,4% em base anual, com aumento nas vendas para países da Ásia (ASEAN) e da Europa (UE), enquanto para os EUA caíram 28,6%. 


Mas para o professor Marshall Meyer, da Universidade da Pensilvânia, os números da balança comercial mostram que a economia da China é dependente das exportações para crescer. Em entrevista ao Jornal Nacional, o especialista afirma que se trata de um paradoxo: “a China tem esse superávit de mais de US$ 1 trilhão, mas dentro do país, o consumo das famílias está estagnado”.


Será? 


Não é de hoje que a imagem da China no Ocidente é marcada pela massiva difusão de notícias e análises pretensiosamente verossímeis que costumam ser aceitas. Como explica Wladimir Pomar, na obra em que se propõe a Desfazer Mitos (Publisher Brasil, 2009), “talvez nenhum país tenha tão deturpada sua realidade pela mídia mundial quanto a China” com “a doutrina da propaganda americana transformando cada fato da vida chinesa numa versão dos pontos de vista dos EUA” (p. 09). 


Nesse sentido, merece atenção não apenas o dado da balança comercial que mostra aumento de 1,9% das importações chinesas em novembro, marcando o sexto mês consecutivo de expansão das compras feitas pela China no exterior. É fundamental destacar que entre 2021 e 2024, a demanda interna chinesa respondeu, em média, por nada menos que 86,4% do crescimento econômico do país, informa o gmw.cn


Esse número foi apresentado no balanço do 14º Plano Quinquenal, no início do mês, e mostra que a China se mantém como o segundo maior mercado consumidor (e importador) do mundo - sendo o primeiro mercado de varejo online. Diante da solidez do consumo doméstico, e do objetivo do governo chinês de tornar o país um mercado consumidor de último recurso (last consumer resort), a China definiu a expansão da demanda interna como eixo estratégico do 15º Plano Quinquenal, válido a partir de 2026.


Ao priorizar o mercado nacional, a China reforça a capacidade de lidar com os desafios externos - sobretudo a imprevisibilidade da Casa Branca. Por isso, não se deve olhar para os dados de novembro de forma isolada nem chegar a conclusões apressadas. Se assim fosse, bastaria dizer que a produção industrial chinesa foi a mais fraca em 15 meses e que as vendas no varejo foram às mínimas em três anos, enquanto a inflação ao consumidor foi a maior em 21 meses e os produtores veem deflação há 38 meses consecutivos. 


Mas o que esses números escondem é o plano chinês de desenvolver novas forças produtivas adaptadas às condições locais. Nesse sentido, a jornalista e sinologista baseada em Pequim, Elsbeth van Paridon, explica, em artigo, que a verdadeira ação na China não está mais em lojas-âncoras permanentes, mas sim em lojas pop-up efêmeras e nos lançamentos de sucesso que cruzam fronteiras.


“Esta é a Economia FOMO em ação - um cenário onde a escassez, a narrativa e o capital social são os novos motores do desejo”. É assim que a China caminha firme rumo à modernização socialista em 2035. “E para quem estiver lendo isso na década de 2030, espero que FOMO seja uma sigla dos anos 2020 para Fear Of Missing Out - ‘medo de ficar de fora’, na tradução livre”, afirma a especialista. 


Era uma vez um sábio chinês…


Agora já se sabe como a profunda mudança na psicologia do consumidor e políticas governamentais proativas estão reescrevendo as regras do jogo da economia real - tanto da atividade interna quanto do comércio internacional. Uma leitura apressada ignora tanto a estratégia de longo prazo do Estado chinês quanto as transformações em curso na dinâmica do consumo e da produção.


No fim das contas, o que se vê é uma economia que não reage de forma automática aos ciclos financeiros globais, mas que opera segundo uma lógica própria de planejamento, adaptação e inovação. Enquanto o mercado internacional se ocupa dos juros no Brasil e nos EUA, a China segue concentrada na economia real — e em como moldá-la para o mundo que vem depois.


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