Mercado precisa ver pra crer
- Olívia Bulla
- há 1 dia
- 2 min de leitura
Demanda fraca em leilão de Treasuries levanta dúvidas sobre gestão da dívida nos EUA

O mercado financeiro precisou ver uma demanda fraca no leilão de títulos do Tesouro norte-americano para crer que há um risco fiscal nos Estados Unidos - e não no Brasil. Como consequência, o juro projetado pelo papel de 10 anos escalou e foi além da marca de 4,6%, enquanto as bolsas de Nova York tiveram ontem a pior sessão em um mês.
De repente, os investidores começaram a se perguntar como os EUA vão administrar a dívida pública no longo prazo. O rebaixamento da Moody’s não foi um alerta suficiente. A Casa Branca diz que a gestão pública será através de um “projeto de lei único, grande e bonito”, que Donald Trump quer ver aprovado até o feriado da independência, em julho.
Aos olhos dos mercados, não existe método na aparente loucura de Trump. Até porque o projeto antecipa cortes de impostos e atrasa cortes de gastos. Em outras palavras, causa inicialmente um aumento no déficit público. Já para o republicano, os EUA precisam de uma base produtiva, financiada pela moeda que ainda tem o privilégio de ser reserva global.
Porém, o dólar também ficou sem chão ontem. O índice DXY, que mede a força da moeda dos EUA contra uma cesta de rivais de outros países desenvolvidos, desceu abaixo da faixa dos 100 pontos. Foi a primeira vez desde o início de 2022. Por aqui, o dólar caiu cerca de 0,5% contra o real, fechando o dia em R$ 5,64.
Há quem diga que a elevação do risco fiscal nos EUA coloca os ativos brasileiros em xeque, em especial o Ibovespa, por causa da pressão pelo diferencial de juros. No entanto, chama a atenção o fato de que faltando pouco menos de um mês para a próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), há 70% de chance de manutenção da taxa Selic.
Ou seja, a perda de atratividade da renda fixa dos EUA ainda não resultou na demanda por maior prêmio de risco aqui. Dito de outra forma, o risco local parece ainda compensar o investidor. Aliás, são os estrangeiros que estão carregando sozinhos a bolsa brasileira neste ano, comprando cerca de R$ 20 bilhões em ações no ano até meados de maio.
Nessa equação, o fator-chave continua sendo o dólar. Até porque o impacto mais nocivo do risco fiscal crescente nos EUA não é um calote da dívida. Afinal, basta imprimir dólares e cobrir o rombo. O efeito colateral seria uma inflação estelar. Não é à toa que a alta generalizada dos preços é a principal preocupação do Federal Reserve no cenário atual.
Seja através da guerra comercial ou da batalha do orçamento, o essencial está no significado da luta em curso, cujo objetivo é manter a hegemonia dos EUA no mundo.
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