Mercado digere aumento do IOF
- Olívia Bulla
- há 8 horas
- 2 min de leitura
Mercado reage primeiro e consegue recuo do governo; agora mira efeito prático da medida

O mercado financeiro preferiu reagir primeiro e entender depois. Os investidores não gostaram nem um pouco, e fizeram questão de deixar isso muito claro, do aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). O mau humor da véspera pode contaminar o pregão doméstico nesta sexta-feira (23).
Mas o fato é que, em algum momento - talvez hoje? - os mercados vão absorver a notícia e se dar conta do efeito prático da medida. Até agora, o que se lê por aí é apenas o susto com o aumento do tributo federal que incide em diversas transações financeiras e a apreensão que isso gera nos ativos brasileiros - dando voz apenas a um lado.
Nesta coluna, então, vamos tratar primeiro do efeito prático. E o objetivo do governo também é muito claro: baixar a cotação do dólar. Ao dificultar o envio de dólares para o exterior e também a compra da moeda estrangeira no Brasil, o que a equipe econômica faz é manter a circulação interna de dólar e reduzir a demanda por novas “verdinhas” no mercado.
Daí por que, em última análise, a medida pode funcionar no controle da inflação, ajudando o trabalho do Banco Central. Isso significa que, em algum momento, o Comitê de Política Monetária (Copom) verá o caminho livre para começar a cortar a taxa Selic. Portanto, o aumento do IOF funciona também como um alicerce da política fiscal.
Vale lembrar que no ano passado o governo federal tentou outra estratégia. Os cortes de gastos foram adiados, diante da expectativa de aumento da arrecadação - o que não aconteceu. Agora, a equipe econômica mudou a forma de atuação: anunciou um corte grande, de R$ 30 bilhões, em despesas e também adotou medidas para elevar a receita.
O mercado doméstico torceu o nariz porque muitas aplicações financeiras hoje são feitas no exterior. Os fundos multimercados, por exemplo, fazem isso. E são esses agentes que movimentam bilhões e têm capacidade de mudar os rumos dos ativos locais rapidamente. Foi exatamente o que se viu ontem no desempenho do dólar, Ibovespa e juros futuros.
A reação foi capitaneada por gestoras de investimentos que aplicam recursos de seus clientes - leia-se investidores brasileiros - em ativos estrangeiros. Mas parece que valeu. Após a repercussão negativa, o governo recuou e manteve a alíquota zero sobre transferências de recursos destinadas à aplicação em fundos de investimento no exterior.
E aqui cabe um parênteses: eu sou do tempo em que era o aumento do IOF sobre compra de ações pelos gringos que derrubava a bolsa brasileira. Mas permanece zero a alíquota do IOF para o ingresso e retorno de capital estrangeiro no mercado local. Da mesma forma, também segue zerada o IOF para operações comerciais e remessa de lucros e dividendos.
Portanto, passada a turbulência, os mercados devem digerir o fato: a medida que o governo anunciou aumenta a probabilidade de se cumprir a meta fiscal deste ano. Talvez, não seja suficiente para conseguir uma regra fiscal mais duradoura e que consiga gerar resultados melhores. Mas, como se diz por aí, é o que tem para hoje!
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