Mercado olha para fora
Riscos externos nos EUA e na China mantêm Ibovespa em baixa e dólar forte

Dose diária: Os mercados domésticos são conduzidos pelos ventos contrários que vêm do exterior. A perspectiva de juros mais altos por mais tempo nos Estados Unidos afasta o apetite por ativos de risco. Ao mesmo tempo, os investidores digerem a longa crise do setor imobiliário na China. Ambos os fatores remetem à crise de 2008. Com isso, o sinal negativo prevalece nos mercados internacionais nesta manhã, o que deve manter o Ibovespa em baixa e o dólar forte. O risco político, seja de shutdown nos EUA ou fiscal no Brasil, contribuem para a piora do ambiente dos negócios.
Não devem trazer novidades as principais divulgações nacionais na agenda desta terça-feira (26). Isso porque a ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) e a prévia de setembro da inflação ao consumidor (IPCA-15) em nada devem mudar as apostas de manutenção no ritmo de cortes da taxa Selic neste ano a doses de 0,50 ponto.
Os mercados domésticos são conduzidos pelos ventos contrários que vêm do exterior. Os investidores mantêm os ajustes à perspectiva de juros mais altos por mais tempo nos Estados Unidos, o que afasta o apetite por ativos de risco. Ao mesmo tempo, digerem a longa crise do setor imobiliário na China (leia mais nas Pílulas do Dia).
Coincidência ou não, ambos os fatores remetem à crise de 2008. De um lado, o rendimento (yield) da Treasury de 10 anos (T-note) ultrapassou a marca de 4,5%, alcançando o maior nível desde a quebra do Lehman Brothers. De outro, o governo chinês ainda tenta evitar um evento nos moldes das hipotecas subprime, dois anos após o colapso da Evergrande.
Com isso, o sinal negativo prevalece nos mercados internacionais nesta manhã - inclusive no petróleo, o que deve manter o Ibovespa em baixa, enquanto o dólar segue forte. Os ativos emergentes perderam apelo aos olhos dos estrangeiros, que já não são mais atraídos pelas ações de commodities nem pelo diferencial de juros.
Em contrapartida, os investidores locais (bancos, fundos e pessoas físicas) seguem fiéis à renda fixa. O risco político, seja de shutdown nos EUA ou fiscal no Brasil, contribuem para a piora do ambiente dos negócios.
Mercado refaz as contas
Assim, não será apenas uma aceleração na queda do juro básico aqui, depois de chegar a 11,75% em dezembro, que irá fazer a bolsa andar. Vai depender de quanto mais e por quanto tempo o Federal Reserve seguirá firme. Afinal, a passagem dos Fed Funds de zero para 2% foi quase imperceptível, enquanto a escalada até 5% pegou alguns desprevenidos.
Mas será que o mundo está preparado para uma nova alta em novembro e cortes só para o final de 2024 ou depois? O que dizer, então, do crescimento econômico da China, com o Produto Interno Bruto (PIB) com taxas cada vez mais distantes da marca de 5%?
Pílulas do Dia 💊
Lehman Brothers 2.0: Dois anos após o colapso da Evergrande, China ainda tenta evitar um ‘evento Lehman Brothers’. Saiba mais.
Shutdown: O que acontece se o governo dos EUA for paralisado - de novo. Confira.
7%: Mundo não está preparado para taxa de juros nos EUA a 7% (em inglês). Leia aqui.
Hidrogênio verde: O que são os combustíveis do futuro que o governo brasileiro quer incentivar. Saiba mais.
Confira o desempenho dos mercados globais por volta das 7h15:
EUA/Futuros: Dow Jones -0,45%; S&P 500 -0,52% e Nasdaq -0,55%;
NY: Ibovespa em dólar (EWZ) ainda não tinha negociação no pré-mercado; ADRs da Vale -0,22%; ADRs da Petrobras -0,60%;
Europa: Stoxx 600 -0,46%; Frankfurt -0,70%; Paris -0,80%; Londres -0,07%;
Ásia/Fechamento: Tóquio -0,11%; Hong Kong -1,48%; Xangai -0,43%;
Câmbio: DXY -0,05%, 105.94 pontos; euro +0,03%, a US$ 1,0596; libra -0,23%, a US$ 1,2182; dólar +0,01% ante o iene, a 148,90 ienes;
Treasuries: rendimento da T-note de dez anos em 4,518%, de 4,537% na sessão anterior; o rendimento da T-bill de 2 anos estava em 5,127%, de 5,149% mesma comparação;
Commodities: ouro -0,27%, a US$ 1.931,30 a onça na Comex; petróleo WTI -0,81%, a US$ 88,95 o barril; Brent -0,77%, a US$ 91,17 o barril; minério de ferro (janeiro/24) fechou em -1,58% em Dalian (China), a 841,50 yuans a tonelada métrica, após ajustes (~US$ 115).