Mercado monitora riscos
A recuperação dos ativos de risco no mundo até que trouxe algum alívio ao mercado financeiro no Brasil ontem. Mas o movimento deve ser temporário e já perde força nos negócios lá fora nesta manhã, com o investidor em busca de um novo catalisador. A disposição por posições mais arriscadas não parece ter vida longa, em meio às chances de uma guerra comercial, enquanto aqui o receio é com a vulnerabilidade política do governo.
Os índices futuros das bolsas de Nova York têm leve alta, recompondo fôlego após Wall Street encerrar no maior nível em três meses. As bolsas europeias sobem, mas também perdem tração, após o dado final do índice composto de atividade em maio repetir a leitura preliminar. Na Ásia, a sessão foi de ganhos. O dólar tem leve oscilação e o petróleo avança.
Por ora, o que motiva a busca por risco é uma recomposição de carteira, em um típico movimento de início de mês. Ainda mais diante do nível de preço mais atrativo, após maio manter a tendência de venda (“sell in May…”) dos ativos. O investidor se apoia nos dados econômicos, que mostram um crescimento global robusto, para continuar se arriscando.
Porém, esse humor pode mudar com a noção sobre o tempo que o Federal Reserve aceitará conviver com uma inflação acima do alvo de 2%. Afinal, os números do payroll de maio indicam que há um acúmulo de pressão inflacionária no horizonte à frente, em um ambiente de pleno emprego nos Estados Unidos, em meio à resiliência da maior economia do mundo.
A possibilidade de que uma guerra comercial seja, de fato, instalada também está no radar e o presidente norte-americano, Donald Trump, pode estar apenas começando. Se ele mantiver todas as ameaças tarifárias e seguir dando novos passos, cerca de US$ 500 bilhões em produtos seriam afetados, acelerando a inflação e chamando a atenção do Fed para um aperto mais agressivo.
Mas o mercado financeiro ainda não vê um risco iminente. Tal noção pode receber o calibre adequado na semana que vem, quando o Fed reúne-se e deve promover a segunda alta na taxa de juros norte-americana deste ano. O foco estará na entrevista do presidente, Jerome Powell, ao final do encontro, que pode dar pistas sobre o ritmo de aperto no segundo semestre.
Internamente, permanece o desconforto quanto aos impactos da greve dos caminhoneiros no cenário político-econômico. A piora nas previsões deste ano para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), a inflação ao consumidor (IPCA) e a taxa de câmbio já reflete efeitos pontuais na atividade e nos preços, além de maior desconfiança na capacidade do governo.
Aliás, a confiança tem sido o principal indicador do mercado financeiro, uma vez que o otimismo do investidor com o crescimento econômico e a inflação baixa é o crédito no governo e na equipe econômica. Mas com a imagem da Petrobras arranhada e o presidente Michel Temer fragilizado, a incerteza tende a ganhar espaço - até as eleições de outubro.
A proximidade do período eleitoral eleva a pressão, seja diante do receio de que o movimento dos caminhoneiros sirva de inspiração para mobilizações futuras ou porque não há nenhuma plataforma, de nenhum candidato competitivo, com convicção na necessidade de uma agenda reformista. Fica difícil, então, vislumbrar que a situação do país irá mudar no médio prazo.
Para o dia, o destaque fica com os números da produção industrial brasileira em abril. Após a inesperada oscilação negativa em março (-0,1%), a atividade do setor deve ter ganhado tração e crescido 0,5%, em base mensal. Já no confronto anual, a indústria deve avançar 8,50%, no décimo segundo resultado positivo consecutivo.
O resultado efetivo será conhecido às 9h. No exterior, também saem dados sobre a atividade, só que no setor de serviços, na zona do euro e nos EUA. Ainda no calendário norte-americano, merece atenção o relatório Jolts sobre o número de vagas de emprego disponíveis no país em abril (11h).