Mercado inicia 2020 com otimismo
Os anos 20 do século 21 começam hoje para o mercado financeiro com a sensação de que 2019 vai deixar saudades, já que quase todos os investimentos deram certo no ano que passou. Mas 2020 também carrega expectativas positivas para os ativos de risco. O mundo aposta em um acordo comercial, de primeira fase e depois mais amplo, entre Estados Unidos e China em breve, enquanto o Brasil acredita que a economia vai deslanchar, com a aprovação de novas reformas.
E o novo ano começa com os investidores sem medo de pecar pelo excesso de otimismo, o que mantém o sinal positivo nos negócios hoje e pode impulsionar o Ibovespa e as bolsas de Nova York rumo a topos mais altos, renovando o fôlego para manter a escalada histórica. Já o dólar segue firme, ganhando terreno em relação às moedas rivais, o que ainda pode manter a moeda norte-americana acima de R$ 4,00 no curto prazo.
China abre o ano
O noticiário vindo da China agita os negócios neste primeiro dia útil de 2020, após vários dias sem novidades no front. O índice oficial dos gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) da indústria chinesa ficou estável em 50,2 no mês passado, seguindo em território que indica expansão pelo segundo mês consecutivo após seis meses de contração.
Já o PMI oficial do setor de serviços da China caiu a 53,5, de 54,4 em novembro. Na leitura feita pelo Caixin, o índice PMI harmonizado mostrou desaceleração da atividade industrial chinesa para 51,5 em dezembro, de 51,8 novembro, mas também seguindo em área expansionista.
De qualquer forma, os números mostram que a segunda maior economia do mundo segue dando sinais de estabilização do crescimento, ao mesmo tempo em que continua carente de estímulos. Tanto que o Banco Central chinês (PBoC) reduziu em 0,50 ponto porcentual o compulsório bancário a partir de hoje, injetando US$ 115 bilhões no sistema financeiro.
O próximo passo pode ser a redução da taxa referencial de juros do país. Em reação, as bolsas de Xangai e de Hong Kong subiram mais de 1%, enquanto Tóquio permaneceu fechada, ainda por causa das comemorações de ano-novo. Já o yuan chinês (renminbi) reagiu pouco ao noticiário e seguiu cotado ao redor de 6,96 por dólar.
No Ocidente, os investidores também estão animados com a notícia de que a primeira fase do acordo comercial entre EUA e China pode ser assinada no dia 15. A data foi anunciada pelo presidente norte-americano, Donald Trump, que calibra a retórica pró-América em ano eleitoral. Segundo ele, uma nova rodada de negociações terá início logo após a assinatura.
O anúncio não chega a ser um gatilho para o mercado financeiro, mas mantêm Wall Street no azul nesta manhã, após encerrar a última sessão de 2019 também no campo positivo. As principais bolsas europeias caminham para uma abertura em alta. Já o petróleo avança, apesar do dólar mais forte, com destaque para a queda do baht tailandês.
Novos indicadores sobre a atividade no setor industrial na zona do euro e nos EUA serão conhecidos hoje, pela manhã. O calendário norte-americano traz também os pedidos semanais de auxílio-desemprego feitos no país (10h30) e dados do setor imobiliário (12h). No Brasil, a agenda traz o resultado da balança comercial em 2019 (15h).
Década de risco
Enquanto aguardam a retomada firme do mercado financeiro neste mês, em meio à alocação global de recursos, os investidores avaliam o que esperar para os próximos 12 meses, apostando em resultados próximos ao de 2019. E um dos maiores riscos em 2020 é que os ativos já tenham embutido no preço grande parte dese cenário mais otimista. Por isso, é preciso estar atento às ameaças.
Afinal, a década que começou à sombra da crise financeira global de 2008, foi marcada por protestos sociais em 2013 - indo desde a Primavera Árabe, passando pelo Occupy Wall Street até chegar às Jornadas de Junho no Brasil - e caminha para terminar com o mundo envolta do populismo nacionalista e do temor de que as novas tecnologias podem culminar em uma nova guerra fria - desta vez, entre as duas maiores economias do mundo.
Portanto, as maiores surpresas para o último ano dessa década seriam, em nível global, uma aceleração da inflação ao consumidor por causa da disputa tarifária sino-americana, levando os principais bancos centrais a elevarem as taxas de juros nas principais economias desenvolvidas e resultando em um “pouso forçado” da atividade chinesa. Tudo isso seria reflexo de uma piora do cenário geopolítico.
Aqui, os maiores reveses viriam de uma frustração da agenda liberal, com o Congresso não conseguindo aglutinar apoio para aprovar as reformas administrativa e tributária - entre outras - resultando em um efeito “voo de galinha” na economia, com o crescimento perdendo tração, enquanto a inflação corrói o poder de compra da população, levando o Banco Central a retirar a Selic do piso histórico em que se encontra.
Por ora, nada disso está no radar e o consenso de mercado é justamente um cenário contrário a esse, tanto no Brasil quanto no exterior. Apesar da baixa probabilidade, é preciso estar atento e buscar proteção em ativos menos arriscados, mas ainda sem reduzir a exposição ao risco, visando maiores retornos. O momento, portanto, ainda é de bull market (mercado de alta), mas nunca se sabe quando os “ursos” (bear market) chegam...