Haja paz nos mercados
O mercado financeiro entrou de vez no modo eleições e a melhora na recuperação do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que recebeu alta hospitalar ontem à noite, trouxe maior clareza à corrida pela Casa Branca em 3 de novembro. Aqui, os ativos locais podem ampliar o otimismo da véspera, depois que foi selada a paz entre o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e o ministro da Economia, Paulo Guedes.
Ou seja, o cenário mais caótico que se desenhou ao final da semana passada, tanto em relação às eleições norte-americanas quanto sobre as contas nacionais, se esvaiu na noite desta segunda-feira. Trump mantém o tratamento para covid-19 na residência presidencial e ainda não está totalmente fora de perigo. Ao mesmo tempo, os investidores começam a avaliar a possibilidade de vitória do rival democrata Joe Biden, diante do aumento nas pesquisas de intenção de voto, embora o pleito só seja definido pelos colégios eleitorais.
Já a trégua entre Guedes e Maia, que haviam protagonizado atritos nas últimas semanas após o ministro acusar o deputado de “se aliar à esquerda” e emperrar a pauta de privatizações, traz alívio aos investidores em relação ao andamento da agenda de reformas. Os dois também defenderam uma ação conjunta entre Executivo e Legislativo pelo teto dos gastos, mas o mercado sabe que a batalha fiscal ainda está longe de ser superada, embora haja movimentos a favor da austeridade.
Apesar de o gesto ter sido fundamental para mostrar que a equipe econômica e o Congresso estão unidos para encontrar soluções que não agravem a situação fiscal, a pacificação não resolve o problema em torno do Renda Cidadã, que foi criado dentro do próprio governo, em uma disputa entre Guedes e a ala política. Na última sexta-feira, a troca de farpas que trouxe nervosismo ao mercado doméstico foi entre Guedes e o ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho - e não com o rival na Câmara.
Ontem, Guedes afirmou disse que a proposta para o novo programa social já está elaborada e é “bastante diferente” do auxílio emergencial, embora não seja acompanhado de cortes no Orçamento. Mas sabe-se que o desejo do presidente Jair Bolsonaro é manter o benefício aos que foram mais atingidos pela pandemia, flertando com o populismo eleitoral de olho em 2022. A desavença, então, é entre o “Posto Ipiranga” e seu chefe, que está cada vez mais distante da pauta liberal.
Portanto, é preciso estar atento para entender o quanto do movimento da véspera nos ativos locais e no exterior não foi apenas um alívio passageiro, uma correção técnica dos exageros na última sexta-feira. Ainda mais no caso brasileiro, pois a situação da dívida pública continua frágil, com as dificuldades do Tesouro em vender títulos sendo um sinal da perda de confiança. Ou seja, as incertezas permanecem, trazendo volatilidade aos negócios, até que haja um desfecho, tanto aqui quanto lá fora.
Exterior sem brilho
Tanto que o sinal negativo prevalece entre as bolsas nos dois lados do Atlântico Norte nesta manhã, com os investidores esperando que se concretizem as esperanças de um novo pacote fiscal nos EUA. Ao mesmo tempo, os riscos se acumulam, com vários países europeus voltando a adotar medidas restritivas, para conter uma nova onda de contágio de coronavírus, em meio ao aumento no número de casos.
Ainda assim, as perdas exibidas pelos índices futuros das bolsas de Nova York e pelas principais praças europeias são moderadas. Na Ásia, as bolsas de Tóquio, Seul e Hong Kong pegaram carona nos ganhos da véspera em Wall Street e fecharam em alta. Já o petróleo tenta se manter na faixa de US$ 40, enquanto o dólar mede forças em relação a moedas rivais.
Powell e Lagarde em destaque
A agenda econômica desta terça-feira está esvaziada no Brasil e é fraca no exterior, trazendo apenas o resultado da balança comercial nos EUA (9h30) e o relatório Jolts sobre as contratações e demissões no país (11h), ambos referentes ao mês de agosto. Com isso, as atenções se voltam para os discursos de presidentes de bancos centrais.
O comandante do Federal Reserve, Jerome Powell, fala sobre as perspectivas econômicas em evento a partir das 14h. Pela manhã, a presidente do BC da zona do euro (BCE), Christine Lagarde, participa de dois eventos diferentes, com destaque para a videoconferência sobre o mecanismo de estabilidade europeu, às 10h.