Em pausa
O mercado financeiro amanheceu de lado nesta sexta-feira, com os investidores buscando certa estabilização nos negócios, após uma semana tumultuada. A crise na Turquia e o cenário eleitoral no Brasil ativaram uma volatilidade que não se via há algum tempo, realçando o nervosismo com as tensões vindas da Casa Branca e a indefinição sobre as eleições presidenciais de outubro.
Nesta manhã, os índices futuros das bolsas de Nova York estão na linha d’água, porém com um viés de alta, enquanto as principais bolsas europeias oscilam sem um rumo definido, após uma sessão positiva na Ásia - exceto em Xangai, que caiu mais 1,3%. As bolsas asiáticas caminham para a pior semana desde março, enquanto a Europa tem a terceira queda semanal seguida.
O dólar está mais fraco em relação às moedas rivais, enquanto os bônus norte-americanos estão estáveis, assim como o petróleo. Os ativos emergentes também estão de lado, com a lira turca um pouco mais forte, apesar de o governo Trump afirmar que poderá adotar novas sanções contra Ancara, caso o pastor evangélico não seja solto em breve.
A situação na Turquia apenas assolou o mercado, em um momento em que a guerra comercial continua a ser um curinga. Ontem, trouxe alívio a possibilidade de avanço entre EUA e China em busca de uma melhor relação comercial. Ainda que em níveis hierárquicos baixos, o encontro neste mês servirá para “quebrar o gelo” entre os dois países e pode ser um passo importante na direção de endereçar um problema de curto prazo nos negócios globais.
Mas o principal vetor de volatilidade no mercado continua sendo a redução de liquidez, encabeçada pelo Federal Reserve, em meio ao processo de alta da taxa de juros norte-americana. O próximo aperto monetário virá no mês que vem, somando quatro aumentos neste ano. Com o fim da era de dinheiro farto pelo mundo, qualquer recuperação ensaiada pelos ativos de risco, como a de ontem, não passa de um movimento pontual.
Já no Brasil, os mercados domésticos continuam reagindo mais ao cenário eleitoral totalmente em aberto e indefinido. Relatos de que o Ministério Público de São Paulo (MP-SP) poderia entrar com ações contra o tucano Geraldo Alckmin por desvio de dinheiro público antes do primeiro turno das eleições azedaram o humor ontem.
O candidato do PSDB é o que mais agrada ao investidor e tido como o candidato pró-mercado, devido ao perfil reformista e ao viés fiscalista no governo a partir de 2019, se eleito. Por isso, apenas a possibilidade de abertura de processo contra ele “pegou feio” nos negócios locais.
O mercado não esconde o desejo para que Alckmin consiga avançar na intenção de votos entre os eleitores, alcançando a casa dos dois dígitos e se tornando o principal rival na disputa contra Jair Bolsonaro (PSL). Isso porque, cedo ou tarde, o mercado sabe que a candidatura do ex-presidente Lula será impugnada.
Por isso, o foco se desloca para outros candidatos. Lula seria, então, uma “carta fora do baralho”. O problema é que uma longa batalha judicial deverá ser travada, ainda que a Justiça Eleitoral (TSE) prometa celeridade nos questionamentos sobre o candidato do PT. Cabem recursos à decisão, chegando até a Corte Suprema (STF).
Ainda assim, a expectativa dos investidores é de que o líder petista não consiga aparecer nas urnas no primeiro turno das eleições. Mas há dúvidas quanto ao potencial de transferência de votos do principal cabo eleitoral do partido para o “vice”, Fernando Haddad.
Há quem diga, então, que está aberta a temporada de boatos em torno das eleições presidenciais. Primeiro, os ativos vão reagir ao rumor para, depois, avaliar o teor de veracidade do fato. Com isso, a volatilidade e a cautela com a cena política tendem a aumentar.
Aliás, está previsto para hoje mais um levantamento da XP sobre a disputa eleitoral, feito pelo Ipespe, antes da abertura do pregão local. À noite, acontece mais um debate na TV entre os presidenciáveis. Já o calendário econômico doméstico segue fraco e traz (8h) dados regionais da inflação ao consumidor e do IGP-M, ambos em meados deste mês.
No exterior, saem indicadores antecedentes da economia dos Estados Unidos em julho e a leitura preliminar da confiança do consumidor neste mês, ambos às 11h. Logo cedo, na zona do euro, sai a leitura final do índice de preços ao consumidor (CPI) no mês passado.