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Bello Ciao


Se nos tempos de Eduardo Cunha, a sujeira em Brasília fazia o submundo de Washington retratado em House of Cards parecer uma convenção de monges budistas em busca de ascensão espiritual, os acontecimentos que antecedem as eleições brasileiras em 2018 devem estar tirando o sono dos roteiristas de La Casa de Papel.


- Por que não pensamos isso primeiro?


Se fôssemos usar a crise pré-eleitoral brasileira para escrever a sinopse de um filme como aquelas estampadas nas pré-históricas e saudosas fitas de videocassete, o texto podia ser mais ou menos assim:


“Cansados de ver seu projeto de usar a política em benefício próprio ser rejeitado nas urnas, um poderoso grupo de homens brancos, velhos, ricos e extremamente reaças se une aos juízes e à mídia oligárquica para desbancar uma mulher enfraquecida pela própria honestidade e dissolver a democracia. A um só golpe, esse poderoso grupo estranhamente liderado pelo mordomo suspende direitos, destrói sonhos de um futuro melhor e entrega as riquezas nacionais enquanto amplia os próprios privilégios. Mas para completar com sucesso a tenebrosa transação, esse grupo lança uma implacável perseguição aos líderes da resistência. O que eles não contavam é que a resistência, depois de uma paralisante perplexidade inicial, conseguiria se colocar um passo a frente e conduzir essa trama a um inesperado desfecho.”


Sem spoiler e com o casting a definir, minha sinopse dessa versão realista do exterminadores de futuro seria essa. Cada um, claro, pode reescrevê-la como melhor lhe convier, puxando para o lado que achar mais interessante.


Acontece que, por mais surpreendente que possa parecer aos olhos da maioria, esse roteiro está cheio de spoilers que permitiram aos dois lados em disputa anteciparem certos passos de seus adversários, e assim plantarem armadilhas pelo caminho.


E enquanto as arapucas surgem aparentemente do nada, os agentes do mercado reagem supostamente em pânico a cada novidade velha. Se a intenção com a prisão de Lula era esquecê-lo numa cela fria em Curitiba, escondendo-o no noticiário e minando as intenções de voto no ex-presidente, o plano não funcionou nem por meia hora. O PT conseguiu mantê-lo no noticiário nacional e internacionalizou a disputa a seu favor. De quebra, Lula segue como preferido do eleitorado.


O posicionamento do Alto-Comissariado de Direitos Humanos da ONU em relação aos direitos políticos de Lula, muito além de causar constrangimento, é legalmente vinculante – ao contrário do que apregoou o Itamaraty – e corresponde à beira do abismo rumo à oficialização do Estado brasileiro como um pária internacional. Preservar os direitos políticos de Lula em nenhum momento esteve nos planos da turma do “com Supremo, com tudo”.


Não à toa, mal a chapa Lula-Haddad foi apresentada em cima do laço ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e lá estava a procuradora-geral Raquel Dodge com documentos prontos e assinados para contestar a candidatura, em mais uma demonstração pública de que o impessoalismo talvez até seja tema de curiosidade, mas é um termo quase desconhecido e em desuso no sistema judiciário brasileiro.


A jabuticaba na ligeireza da Dodge veio acompanhada da malandragem de mandar começar a contar um prazo que, numa situação de impessoalidade, só começaria a ser contado uma semana depois, complicando a intenção do PT de expor ao máximo a imagem do Lula candidato.


Numa campanha curta como a deste ano, horas e dias têm peso de ouro. E para espanto de uns e não espanto de outros, as primeiras sondagens pós-registro no TSE indicam que a transferência de votos de Lula para o vice Fernando Haddad no caso de o ex-prefeito de São Paulo sair como “o candidato do Lula” está a pleno vapor. Para piorar, o tucano Geraldo Alckmin insiste em não decolar como candidato, apesar de todo o apoio do centrão, dos “investidores” e da mídia tradicional conservadora.


E enquanto as próximas armadilhas não surgem para os desavisados, muitos se perguntam: terá Fernando Haddad fôlego para manter o crescimento e chegar ao segundo turno? Será que dessa vez o Geraldo emplaca? Ou será que vão esquecê-lo na gaiola de São Paulo (de onde nunca conseguiu bater asas) e assumirem Bolsonaro? E se o Haddad crescer demais, será que vão impugná-lo?


Parece filme, mas não é ficção. É vida real. E o problema vai muito além da esperada gangorra de euforia e pânico nos mercados financeiros, com as cotações subindo e descendo ao sabor das “novidades”. Quem sofre e quem paga a conta são aqueles e aquelas que acompanham o jogo em volta do estádio, sabendo que não podem entrar, que as cartas estão todas marcadas, que o juiz está comprado e que o outro time parece mais forte no papel, e ainda assim torcem por um resultado diferente do esperado.


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