Balanços e inflação em foco
Já que o mercado financeiro resolveu ignorar os impactos econômicos do surto de coronavírus na China, confiando em um efeito localizado e de curto prazo, os investidores devem dar maior atenção hoje ao balanço histórico da Petrobras e à prévia deste mês da inflação oficial ao consumidor brasileiro. No fim do dia, sai o resultado da Vale.
O lucro recorde de R$ 40,1 bilhões da petroleira em 2019 deve impulsionar a Bolsa brasileira, um dia após Wall Street registrar novos recordes, ao passo que o IPCA-15 deve calibrar as expectativas em relação ao rumo da taxa básica de juros ainda neste ano. Nesse dueto, a ver como fica o comportamento do dólar, que ontem cravou nova máxima histórica.
Lá fora, os ativos de risco mantêm o tom, sustentados pela abundante liquidez global jorrada pelos principais bancos centrais. As bolsas asiáticas tiveram um desempenho misto, com os investidores avaliando as medidas de estímulos adotadas por Pequim para combater o vírus, em meio à desaceleração no total de casos fora de Hubei pelo 16º dia.
Xangai subiu 1,8%, reagindo à decisão do Banco Central chinês (PBoC) de reduzir a taxa de empréstimos de um ano, de 4,15% para 4,05%, e de cinco anos, de 4,8% para 4,75%. A decisão era esperada, mas não é suficiente, o que eleva as expectativas de novas reduções em breve. Hong Kong caiu 0,3% e Seul recuou 0,7%, enquanto Tóquio subiu 0,3%.
O Japão reportou mais duas mortes por coronavírus, ao passo que o total de casos confirmados da doença na Coreia do Sul subiu para mais de 100. Já no Ocidente, os índices futuros das bolsas de Nova York e das praças europeias oscilam em alta, com os negócios com ações ainda sendo beneficiados pelo apetite por risco e a busca por maiores retornos.
Ao mesmo tempo, a perspectiva de menor crescimento econômico global se mostra aparente na classe de ativos tidos como mais seguros. O ouro segue sendo negociado acima de US$ 1,6 mil por onça-troy, no maior nível em sete anos, enquanto o rendimento (yield) dos títulos norte-americanos (Treasuries) está no piso histórico.
Já o dólar se fortalece contra várias moedas, o que não impede um avanço do preço do barril de petróleo. O iene caiu ao nível mais fraco em nove meses, diante da preocupação de que a economia japonesa está caminhando para a recessão, ao passo que o euro também perde valor, em meio aos dados fracos da economia europeia. Entre as divisas correlacionadas à commodities, o dólar australiano (aussie) caiu ao menor valor em 11 anos.
No Brasil, o crescente consenso de que a economia brasileira ainda não mostra sinais de recuperação também penaliza o real, que registra o pior desempenho global em relação ao dólar. O desconforto com Brasília, com o governo adiando o envio da reforma administrativa ao Congresso, também pesa na moeda local. O texto só será enviado após o carnaval.
IPCA-15 e Vale em destaque
A prévia deste mês da inflação oficial ao consumidor brasileiro, a ser conhecida às 9h, deve reforçar a torcida no mercado financeiro por cortes adicionais na Selic. A expectativa é de desaceleração do IPCA-15 para 0,25%, em meio à dissipação do choque de preços nas proteínas. Com isso, a taxa acumulada em 12 meses deve ficar mais próxima à meta perseguida pelo Banco Central para o ano, de 4%, caindo a 4,25%.
Ainda assim, os números não devem ser suficientes para consolidar as apostas de queda na taxa básica no mês que vem, já que é crescente a percepção de que o Banco Central estava correto ao interromper o ciclo de cortes, pois o juro baixo está pressionando o dólar e, sozinho, não vai ajudar a atividade doméstica a intensificar o ritmo de recuperação. Mas a ausência de crescimento econômico tem incomodado (e muito).
Ainda na agenda doméstica, sai o índice de confiança do consumidor neste mês (8h). Já a safra de balanços segue farta, com a divulgação do resultado financeiro da Vale, após o fechamento dos mercados. A previsão é de que a mineradora ainda sinta os efeitos do rompimento da barragem em Brumadinho (MG) e também seja impactada pela queda do preço do minério de ferro no trimestre passado, penalizando o desempenho em 2019.
No exterior, o calendário econômico norte-americano está carregado, trazendo os pedidos semanais de auxílio-desemprego feitos nos EUA e o desempenho da indústria na região da Filadélfia, ambos às 10h30, além do índice de indicadores antecedentes em janeiro (12h) e dos estoques semanais de petróleo bruto e derivados no país (13h). Na zona do euro, sai a prévia da confiança do consumidor neste mês (12h).