Acabou! Acabou!
Chega ao fim hoje o trimestre que valeu por um ano inteiro. Depois de 2020 começar com um acordo entre Estados Unidos e China na disputa comercial e sofrer solavancos com o ataque de Washington contra Teerã e da guerra de preços entre sauditas e russos, o mercado financeiro passou a ter um samba de uma nota só: a pandemia de coronavírus.
E o último pregão deste mês deve ser dedicado a ajustes, com os investidores ainda tentando aferir os impactos econômicos da doença no mundo. Mas quem esperava um aumento da volatilidade, não foi bem o que se viu ontem, com Wall Street registrando ganhos firme, de mais de 3%, após Trump postergar o fim do isolamento para 30 de abril.
O Ibovespa pegou carona no rali em Nova York, apesar do clamor para as pessoas voltarem às ruas, ao trabalho, diante da maior preocupação com as perdas econômicas agora. Já o dólar seguiu acima de R$ 5,00, apesar de o Banco Central continuar vendendo as reservas internacionais, que estão no menor nível desde julho de 2011.
Aliás, a única certeza por aqui é que, de longe, essa será a pior década de crescimento econômico da história do país, com mais uma recessão em 2020. E a solução que o mercado doméstico enxerga para isso é a mesma de sempre: novos cortes na Selic, que já está no piso histórico de 3,75%, após seis quedas seguidas, desde julho de 2019.
Apesar dos pesares, março vai chegando ao fim em um tom muito mais suave do que o observado no início até meados deste mês, quando a Bolsa brasileira acionou o mecanismo de interrupção dos negócios (circuit breaker) seis vezes em apenas oito pregões. Tanto São Paulo quanto Nova York tiveram a pior semana desde 2008 - duas vezes seguidas.
Luz no fim do túnel?
Agora, é o momento de os investidores reavaliarem o cenário e fazer as contas. Afinal, a economia já dava sinais de desaceleração antes da “história do vírus” aparecer. E se o primeiro trimestre está perdido, a dúvida é saber quanto tempo ainda irá durar a recessão econômica, pois não há nenhuma certeza de que tudo voltará ao normal até junho.
Mas os dados encorajadores sobre a atividade na China em março, divulgados ontem à noite, alimentam a esperança no último dia de pregão neste mês de que tudo vai passar - e rápido. O índice dos gerentes de compras (PMI) da indústria chinesa recuperou-se fortemente e subiu a 52, saindo do piso histórico de 35,7 em fevereiro. O resultado superou a previsão de 51,5.
Já o PMI do setor de serviços saltou do recorde de baixa de 29,6 para 52,3, no período. Apesar da melhora expressiva, com a atividade voltando ao terreno de expansão, o Departamento Nacional de Estatística tratou de relativizar, afirmando que os dados refletem apenas a retomada ao trabalho, o que não significa que a atividade econômica na China retornou ao normal.
Afinal, por mais que o efeito da doença seja temporário, não se sabe a partir de qual ponto a atividade global será retomada, nem se a competitividade será recuperada totalmente, diante da provável quebra de muitas empresas, ou se o consumo será o mesmo de antes, com o emprego e a renda de muitos se esvaindo pelo mundo.
Tanto que a Bolsa de Xangai encerrou a sessão de lado, com leve alta de 0,1%. Tóquio, por sua vez, apagou os ganhos e acabou fechando em queda, de -0,9%, enquanto Hong Kong (+1,4%) e Seul (+2,2%) subiram firme. No Pacífico, a Bolsa de Sydney caiu 2%. Na região, as incertezas sobre a disseminação do vírus Covid-19 pesaram.
Já na Europa, prossegue o rali após o fundo em meados de março, com as bolsas da região caminhando para o sétimo pregão de alta nas últimas nove sessões. Os investidores também alimentam a crença de que a pior consequência econômica do surto de coronavírus no Velho Continente já está à vista, diante da desaceleração de novos casos.
Em Nova York, os índices futuros das bolsas também estão no azul. O movimento é beneficiado pela recuperação do petróleo, que sobe forte hoje depois de cair ao nível mais baixo desde 2002, em meio ao excesso de oferta por causa da guerra de preços entre Arábia Saudita e Rússia e à queda na demanda por causa da pandemia de coronavírus.
O dólar, por sua vez, mede forças em relação às moedas rivais, ganhando terreno das divisas europeias e correlacionadas às commodities, mas recuando ante o iene. A ver, então, como será o comportamento da moeda norte-americana hoje em relação ao real, ao passo que o Ibovespa pode avançar mais na faixa dos 70 mil pontos.
Desemprego no Brasil em destaque
Já a agenda econômica do dia traz como destaque, no Brasil, os dados atualizados até fevereiro pela pesquisa de amostra de domicílio (Pnad) sobre o mercado de trabalho. Os números serão importantes para aferir as condições sobre emprego e renda no país antes do impacto do coronavírus na atividade doméstica.
Ainda assim, é bom lembrar que, devido à pandemia, a coleta de dados foi feita por telefone, mas isso não interferiu na expectativa de alta da taxa de desocupação para 11,6%, de 11,2% no trimestre imediatamente anterior, com a população desocupada superando 12 milhões, enquanto os trabalhadores informais e por conta própria somam mais 50 milhões.
Os números efetivos serão divulgados às 9h. Trata-se do único indicador doméstico previsto para o dia. No exterior, saem índices de preços de imóveis residenciais nos EUA em janeiro (10h) e de confiança do consumidor norte-americano em março (11h), enquanto na safra de balanços Conagra Brands e McCormick publicam seus resultados trimestrais.
Na Europa, destaque para prévia deste mês da inflação ao consumidor (CPI) na zona do euro e para a segunda leitura do Produto Interno Bruto (PIB) do Reino Unido ao final do ano passado. No fim do dia, serão conhecidos novos indicadores de atividade na China e no Japão.