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Risco geopolítico e Previdência pautam os mercados


A semana encurtada pelo feriado da Páscoa em vários países do mundo pode reservar surpresas aos mercados financeiros. As consequências ao ataque dos Estados Unidos à base aérea da Síria ainda são imprevisíveis, tal qual foi a ação de Donald Trump ao final da semana passada, que pode se estender à Coreia do Norte. No Brasil, a força-tarefa montada para aprovar a reforma da Previdência ainda tenta garantir apoio à medida.

Os dois assuntos seguem na pauta dos investidores nesta segunda-feira e a expectativa pelos desdobramentos de ambos os temas inibe, em partes, a busca pelo prêmio de risco. No exterior, a tensão geopolítica e as dúvidas sobre o ritmo de aumento dos juros norte-americanos deixa os negócios sem um rumo definido.

Os índices futuros das bolsas de Nova York estão na linha d'água, ao passo que as principais bolsas europeias abriram em alta, mas já recuam. Na Ásia, Tóquio subiu (+0,7%), apesar do avanço do iene japonês pela terceira sessão seguida, mas Xangai caiu (-0,5%), enquanto a Bolsa de Seul registrou a maior queda em cinco semanas (-0,9%), caindo pela quinto pregão consecutivo, na mais longa sequência de perdas desde junho.

O won sul-coreano lidera as perdas entre as moedas, após os EUA alertarem que o ataque na Síria foi um aviso a países como a Coreia do Norte, após o encontro entre os presidentes Donald Trump e Xi Jinping não mencionar nenhuma ação conclusiva em relação à Pyongyang. O petróleo amplia o rali da semana passada, após o apoio de Rússia e Irã ao governo Assad elevar os riscos no Oriente Médio.

Mas se a instabilidade na política segue no radar, as boas notícias na economia também podem continuar. Os mercados internacionais mostram resiliência após os dados fracos sobre o mercado de trabalho nos EUA na última sexta-feira, o que reduz a busca por proteção em ativos seguros e reforça o cenário de apenas duas novas altas no juro norte-americano neste ano, bem como o crescimento econômico do país na faixa de 2%.

Internamente, os negócios locais vão remoer a questão da reforma da Previdência até que o parecer do relator, Arthur Maia, seja apresentado, na semana que vem. Antes da apresentação do texto, o governo resolveu intensificar as negociações, com o presidente Michel Temer mostrando-se obstinado em conseguir votos para aprovar o relatório no próximo dia 18.

Ele teria dito a aliados, em reunião ao lado dos presidentes da Câmara, Rodrigo Maia, e do Senado, Eunício Oliveira, que "votar contra a reforma é votar contra o governo". Temer disse ainda que já cedeu o suficiente nas regras para mudar a aposentadoria e que, agora, cobrará um voto favorável da base.

Os investidores sabem que o governo terá de fazer concessões, mas acreditam que a reforma da Previdência será aprovada, comprando o discurso de que “placar que vale é o do plenário” – e não o da imprensa. Aliás, no levantamento realizado com os 513 deputados, 272 mostram-se contrários às mudanças e 99 a favor, sendo 84 com ressalvas.

Por mais que Temer afirme que o governo apenas "ajustou" a reforma da Previdência, recuando em cinco pontos polêmicos na semana passada, a equipe econômica não conhece esconder o desconforto com o que chamou de “concessão precoce” na flexibilização do texto original, que pode ficar desconfigurado.

Na coletiva de imprensa na sexta-feira passada, os ministros Meirelles (Fazenda) e Dyogo Oliveira (Planejamento) não conseguiram esconder a dificuldade em melhorar a situação das contas públicas. O rombo fiscal de 2018, que era deficitário em R$ 79 bilhões, subiu para R$ 129 bilhões.

Além da expressiva piora, trata-se de um recuo muito residual em relação ao déficit esperado para este ano, de R$ 139 bilhões – conta para o qual o governo terá de fazer “malabarismo” para fechar. Percebe-se, então, como o governo e a equipe econômica vão alinhando o discurso de que estão fazendo “a reforma possível”, “o déficit possível” etc.

Mas os mercados financeiros também se apoiam nos indicadores econômicos, que têm potencial para influenciar nas ações futuras dos bancos centrais sobre as condições monetárias. Diante da trajetória favorável da inflação, o Comitê de Política Monetária (Copom) deve acelerar o passo e reduzir a taxa básica de juros em um ponto percentual nesta semana, para 11,25%.

A decisão será anunciada no fim da tarde de quarta-feira e é o grande evento doméstico da semana, que pára na quinta-feira. Hoje, a Pesquisa Focus (8h25) pode trazer revisões, para baixo, nas estimativas para o índice oficial de preços ao consumidor brasileiro (IPCA), após a errata publicada pelo BC, que passou a projetar inflação abaixo do centro da meta neste e no próximo ano, no cenário de referência.

Dados de atividade, como as vendas no varejo (quarta-feira) e volume dos serviços (quinta-feira), tendem a corroborar a necessidade de um ritmo mais intenso de cortes na Selic. Assim, já serão conhecidos dados de dois dos três meses do primeiro trimestre, evidenciando que o Produto Interno Bruto (PIB) pode ter continuado negativo.

No exterior, após o relatório do mercado de trabalho norte-americano (payroll) tirar a força dos falcões (“hawkish”) que queriam mais três altas de juros neste ano, as atenções se voltam para os números de inflação nos Estados Unidos. Em plena Sexta-feira Santa, será conhecido o índice de preços ao consumidor (CPI) em março.

De qualquer forma, as declarações de um dos membros votantes do Federal Reserve, William Dudley (Nova York), foram esclarecedoras. Segundo ele, o processo de redução do balanço patrimonial do Fed em US$ 4,5 trilhões, que visa diminuir a exposição a títulos públicos, enxugando a liquidez dos mercados, provocaria apenas uma pausa no processo de aumento da taxa de juros norte-americana, a fim de evitar ações simultâneas.

A agenda econômica da semana também estará recheada especialmente com dados chineses de atividade, como PIB, produção industrial, vendas no varejo e balança comercial. Indicadores de manufatura na zona do euro também serão conhecidos, amanhã. Mas o foco estará mesmo nos novos desdobramentos da tentativa de avanço governamental na questão da Previdência, que divide espaço com os prováveis imbróglios geopolíticos consequentes do ataque dos EUA à Síria.

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