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Dia cheio


Enquanto no exterior o petróleo aguarda em alta a decisão do cartel da Opep sobre os cortes na produção da commodity, a aprovação em primeiro turno no Senado da proposta (PEC) que fixa um teto para os gastos públicos por até 20 anos, por 61 votos a 14, prepara o terreno para uma quarta-feira repleta de divulgações econômicas importantes no Brasil. O avanço da primeira medida relevante no processo do ajuste fiscal combinado com novos números fracos do Produto Interno Bruto (PIB) tende a solidificar um ciclo mais agressivo de cortes nos juros em 2017.

Para o último encontro de 2016, porém, o Comitê de Política Monetária (Copom) deve manter o ritmo de queda na taxa básica e reduzir a Selic em mais 0,25 ponto porcentual hoje à noite, a 13,75%. Se confirmada, os juros brasileiros voltam aos níveis de junho de 2015, mas o país seguirá como o maior pagador de juros reais do mundo.

O anúncio do Copom será feito apenas no fim do dia, por volta das 18h. A decisão será acompanhada de um comunicado, que deve manter um tom conservador em relação ao comportamento da inflação, sobretudo nos preços de serviços, e revisar a comunicação em relação “interregno benigno” no cenário internacional, após a eleição de Donald Trump nos Estados Unidos.

Já a política fiscal trouxe avanços, horas antes de o Banco Central bater o martelo. Ontem, o Senado deu sinais de que o governo Temer conseguirá não só ultrapassar a barreira da PEC do teto, que será submetida a uma segunda votação, como também encontrará apoio entre os parlamentares para colocar em votação a reforma da Previdência. Eram necessários 49 voto e o Palácio do Planalto esperava o apoio de 62 a 65 senadores.

Tudo isso, apesar da crise política que abala Brasília e dos protestos do lado de fora do Congresso contra a redução das verbas para a saúde e a educação. Afinal, se não fosse para reduzir os gastos nessas áreas, não havia a necessidade de uma emenda à Constituição. A chamada PEC do teto limite as despesas do governo à inflação dos 12 meses anteriores.

Ciente de que o tempo hábil para apresentar reformas críveis é curto, o presidente Michel Temer afirmou ontem que deve enviar “logo” o texto sobre os benefícios aos aposentados. Resta saber o que ele fará com a aprovação modificada do pacote anticorrupção, que inclui punição a juízes e promotores por abuso de autoridade, intimidando o Judiciário aos outros Poderes. De substancial, restou a criminalização do crime de caixa dois eleitoral.

Com a popularidade em franca queda, Temer deposita todas as apostas fichas em medidas estruturais, que têm tido efeito tímido na recuperação econômica. Afinal, a tentativa de se gerar mudança na confiança não resultou em um desempenho melhor do PIB no trimestre passado.

Às 9h, o IBGE anuncia números que devem confirmar que a economia brasileira caiu pelo sétimo trimestre consecutivo entre julho e setembro deste ano. A previsão é de uma queda ainda maior (-0,9%) no terceiro trimestre de 2016 do que o observado no período anterior (-0,6%), em base trimestral. Na comparação anual, porém, a expectativa é de uma retração ligeiramente menos intensa (-3,2%) do que a apurada no confronto anterior (-3,8%). Ainda assim, deve ser o décimo trimestre consecutivo de resultado negativo.

No exterior, após o “Pibão” dos Estados Unidos, que apontou expansão de 3,2% no trimestre passado, acima da previsão de alta de 3%, o foco muda da atividade para o emprego. A pesquisa ADP (9h15) deve apontar a geração de 160 mil novos postos de trabalho no setor privado norte-americano em novembro, sinalizando números robustos no relatório oficial (payroll) e corroborando o cenário de alta dos juros em dezembro.

Também merecem atenção os dados sobre a renda pessoal e os gastos com consumo em outubro (11h30), após o PIB dos EUA mostrar que a maior economia do mundo ganhou tração com a volta da demanda doméstica. Ainda por lá, saem índices de atividade em Chicago (12h45) e sobre as vendas de imóveis pendentes (13h), além do Livro Bege (17h).

Logo cedo, a zona do euro anuncia a prévia deste mês da inflação ao consumidor (CPI), dando pistas sobre a necessidade de estímulos adicionais por parte do Banco Central Europeu (BCE). No fim do dia, a China entra em cena para anunciar números sobre o desempenho da indústria em novembro.

Mas o radar dos mercados no exterior está mesmo centrada em Viena, onde termina hoje a reunião formal dos países produtores e exportadores de petróleo (Opep). O Irã disse ter boas expectativas por uma decisão do cartel do tipo "ou vai ou racha" para estabilizar os preços da commodity, mas muitos observadores do encontro veem chances reduzidas de consenso.

À espera do anúncio, o barril do petróleo WTI sai da mínima em duas semanas, atingida ontem, e sobe mais de 1%, voltando à marca de US$ 45. O dólar também avança, limitando os ganhos do petróleo. A moeda norte-americana acompanha o aumento nos rendimentos (yields) dos títulos nos EUA (Treasuries), com ambos beneficiados pela perspectiva de aperto monetário pelo Federal Reserve no mês que vem.

Nas bolsas, o sinal positivo também prevalece, em um comportamento nada usual dos mercados, que mostra uma ampla disposição por ativos neste último dia de negócios em novembro. O movimento pode estar relacionando ao embelezamento dos portfólios, com os investidores ajustando as posições antes da virada do mês.

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