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Temor com quebra de banco assusta mercados


O último dia de setembro, que traz também o fechamento do terceiro trimestre de 2016, é marcado por ajustes intenso de fim de mês. O temor dos investidores em relação à solvência do maior banco alemão, o Deutsche Bank, azeda o apetite por risco e estraga a performance daquele que deve ser o melhor trimestre do ano, com os mercados apreensivos em relação à quebra de mais uma instituição financeira, pouco mais de oito anos depois do Lehman Brothers eclodir a maior crise desde 1929.

O diretor executivo do Deutsche Bank, o maior banco da maior economia europeia, afirmou que a instituição financeira é "forte" e que "não há fundamento" para especulações, que mais se parecem a uma "percepção distorcida". As ações do banco caíram a um novo nível recorde de baixa, testando a faixa de 10 euros, em meio aos saques de clientes e à redução de exposição no papel pelos investidores.

Tudo começou depois que o Deutsche começou a enfrentar problemas com os Estados Unidos, que exigiram o pagamento de US$ 14 bilhões para encerrar uma investigação sobre a venda de títulos lastreados por hipotecas. A instituição disse que iria resolver o problema sem a ajuda do governo alemão, até porque a chanceler alemã, Angela Merkel, descartou um socorro financeiro ao banco.

Diante disso, as ações do setor financeiro caem em bloco na Europa, acelerando as perdas da bolsas da região, que giram em torno de 1%. Nem mesmo o aumento da inflação na zona do euro para o maior nível em quase dois anos, com o índice de preços ao consumidor (CPI) subindo 0,4% em setembro, em base anual, traz alento aos negócios.

Afinal, os dados sobre o mercado de trabalho na região da moeda única ajudam a explicar porque a pressão sobre os preços na zona do euro permanece fraca. A taxa de desemprego permaneceu em 10,1% pelo quinto mês consecutivo em agosto, em um patamar mais de duas vezes maior do que a taxa dos Estados Unidos. Apesar da estabilidade no dado, o número de pessoas sem emprego na Europa subiu levemente pela segunda vez em três meses.

Em reação aos dados e ao temor com os bancos, o euro perde terreno ante o dólar. Do outro lado do Atlântico Norte, os índices futuros das bolsas de Nova York recuam moderadamente. Na Ásia, as preocupações com o Deutsche Bank somaram-se ao receio com os cortes de produção do petróleo, atingindo em cheio os mercados.

O índice MSCI da região caiu 1%, sendo que o setor financeiro respondeu por um terço dessa queda. As perdas de 1,5% em Tóquio e de quase 2% em Hong Kong lideraram o movimento, com o fortalecimento do iene ante o dólar prejudicando a Bolsa japonesa. Em Xangai, a permanência do índice dos gerentes de compras (PMI) da indústria acima da linha divisória de 50 pelo terceiro mês seguindo, subindo a 50,1 em setembro, de 50 em agosto, garantiu ligeiros ganhos (+0,21%).

O movimento de busca por proteção enfraquece também as moedas correlacionadas às commodities. As matérias-primas, aliás, recuam, com o petróleo sendo negociado em baixa, na faixa de US$ 47 o barril. O ouro, por sua vez, sobe pela primeira vez em quatro dias, diante da fuga para ativos seguros, que beneficia também o rendimento dos títulos norte-americanos (Treasuries). O yield da T-note de 10 anos cedeu à mínima em três semanas.

O fato é que os principais bancos comerciais do mundo estão nessa situação calamitosa devido às taxas de juros zero ou negativas nas principais economias globais. Para dar algum alívio a essas instituições, os juros precisam subir, mas isso pode, em contrapartida, implicar em uma forte onda vendedora (selloff) por parte dos investidores, ávidos pela oferta abundante de recursos.

Esse é exatamente o problema que o Federal Reserve enfrenta. O Banco Central norte-americano sabe que é preciso subir os juros, a fim de se evitar um superaquecimento da economia dos Estados Unidos e produzir novos casos como do Deustche Bank no país, mas não pode promover uma normalização monetária de modo rápido, enxugando a liquidez de recursos agressivamente, o que assustaria os mercados pelo mundo.

“É parecido com o dilema de um general que no campo de batalha tem de recuar seu exército: ele tem de recuar não tão rápido que pareça covardia, nem tão devagar que pareça provocação....”, disse um economista, em um comentário recente. Essa estratégia é necessária porque o empoçamento da liquidez já não reflete mais a realidade econômica, que não consegue reativar o crescimento por causa da baixa demanda.

Aí, o excesso de dinheiro fácil pelo mundo, por causa do baixo custo de empréstimo resultante dos juros mínimos, cria preços artificiais nos ativos. Nessa espiral, os bancos não conseguem manter a atividade de vender e comprar dinheiro, pelo simples fato de que essa operação não traz retorno nenhum.

No caso do Brasil, onde paga-se juros fartos para quem quiser aplicar aqui, essa situação dos bancos não é problema. Ainda assim, o Banco Central brasileiro mostrou-se atento à essa 'disfuncionalidade' externa e resolveu elevar a atuação no mercado cambial, ofertando US$ 1,6 bilhão de dinheiro novo em leilão de dólares, que equivale à venda da moeda norte-americana no mercado à vista e recompra no futuro.

A operação, usual em dias de formação da taxa de referência do BC (Ptax) de fim de mês, parece uma ação da autoridade monetária para antecipar maiores distúrbios no dólar. Outros US$ 2,4 bilhões também serão ofertados nos contratos de rolagem, durante o chamado leilão de linha.

A agenda desta sexta-feira traz como destaque, no Brasil, um evento que reúne lideranças políticas e grande empresários, na capital paulista, durante todo o dia. Organizado por um dos maiores grupos de comunicação do país, o presidente Michel Temer comparece na abertura, onde discursa a partir das 9h. Na sequência, marcam presença com palestras os presidentes das estatais Petrobras, Pedro Parente, e Eletrobrás, Wilson Ferreira Júnior.

O tema geral das falas será sobre “um país em transição”. À tarde, entra em pauta “uma nova agenda para a economia”, com destaque para as palestras do secretário executivo do Programa de Parcerias e Investimentos (PPI), Moreira Franco, e da presidente do BNDES, Maria Silvia Bastos Marques. No encerramento do evento, às 17h, estará o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles.

Entre os indicadores de relevo, destaque para a taxa de desocupação no Brasil, que deve renovar o nível recorde de alta e subir a 11,70% no período referente aos meses de junho, julho e agosto, ante taxa de 11,6% no trimestre móvel imediatamente anterior. Com o aumento, o total de trabalhadores brasileiros sem emprego deve encostar nos 12 milhões.

Os números efetivos serão conhecidos às 9h. Antes, às 8h, saem as sondagens do comércio e do setor de serviços em setembro. Depois, às 10h30, o Banco Central publica a nota de política fiscal, com os dados consolidados do setor público.

No exterior, as atenções se voltam para os dados sobre renda e gasto pessoal nos Estados Unidos em agosto (9h30), juntamente com o índice PCE, além da leitura final de setembro do índice de confiança do consumidor norte-americano, medido pela Universidade de Michigan (11h).


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