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Mercado faz uma pausa


Os mercados financeiros fazem uma pausa nesta sexta-feira, após uma semana intensa para os negócios, que contou com aceitação de denúncia contra ex-presidente e prisão de ex-ministro no Brasil, além de decisões de políticas monetárias de bancos centrais no exterior. Os investidores recompõem o fôlego e acomodam suas posições, esgotando o recente rali e visando garantir os ganhos do mês e do trimestre, que chegam ao fim já na próxima semana.

As principais bolsas asiáticas fecharam no vermelho hoje, realizando os lucros recentes, e esse sinal negativo vindo do Oriente contamina a abertura dos negócios na Europa. A queda nas ações de mineradoras, petrolíferas e dos bancos pressiona as bolsas europeias, que encolhem os maiores ganhos semanais em mais de dois meses. O dado que mostrou que a maior economia da região, a Alemanha, está perdendo tração também pesa nos negócios.

O índice composto sobre a atividade alemã nos setores industrial e de serviços caiu ao menor nível em 16 meses, a 52,7 em na leitura preliminar de setembro, de 53,3 em agosto. A abertura do dado mostra que a estagnação do setor de serviços, a 50,6, ofuscou a melhora da manufatura, a 54,3, que alcançou o maior nível em três meses.

Na zona do euro como um todo, o índice dos gerentes de compras (PMI) composto recuou à mínima em 20 meses, a 52,6 na prévia deste mês. Da mesma forma, o dado de serviços caiu ao menor nível em 21 meses, a 52,1, encobrindo o avanço da indústria na região da moeda única para a máxima em três meses, a 52,6. Em reação ao dado, o euro está de lado.

Às 10h45, sai o índice PMI da indústria norte-americana na prévia do mês. Os índices futuros das bolsas de Nova York apontam para uma abertura em queda, penalizados pelo recuo nos preços do barril de petróleo, que interrompe quatro dias seguidos de valorização e retrocede do nível mais alto em duas semanas. O ouro sobe pela primeira vez na semana.

Já o dólar recupera terreno ante os rivais, após sofrer forte pressão vendedora nos últimos dias, diante do otimismo de que os principais bancos centrais vão manter a política de estímulos para o crescimento econômico. O dólar neozelandês lidera as perdas entre as moedas de países emergentes.

Internamente, a recente queda do dólar ante o real levou o mercado a se questionar se o Banco Central poderia novamente alterar a “ração diária”, mudando o total de lote ofertado nos leilões de swap cambial reverso – equivalente à compra de dólares no mercado futuro. Talvez até por isso, os investidores se anteciparam e puxaram a moeda norte-americana para cima ontem, após cair abaixo de R$ 3,20 durante a sessão.

Os players enxergam esse nível como um “piso” para o dólar, assim como vislumbram a faixa de R$ 3,30 como um “teto”, pois foi quando a taxa de câmbio rondou esses níveis que o BC atuou no volume de swaps. Porém, se a autoridade monetária mexer no total de contratos ofertados – se de 5 mil ou de 10 mil - pode sinalizar que está interferindo diretamente no preço do dólar.

E, nos últimos dias, o governo deu vários sinais de ingerência, tomado atitudes e dando declarações comuns à estratégia do tipo “vai que cola”. Primeiro foi a Petrobras. Após o presidente da (ainda) estatal petrolífera, Pedro Parente, afirmar que vai buscar a paridade dos preços dos combustíveis praticados no Brasil com o observado no exterior no longo prazo, veiculou-se na imprensa de que a gasolina cobrada nas bombas poderia cair.

Ninguém entendeu direito como uma empresa altamente endividada, com problemas de fluxo de caixa e tendo que se desfazer de vários ativos, poderia reduzir o preço cobrado em um dos seus principais produtos. Causou estranheza e voltou aquela sensação de que a Petrobras seria mais uma vez usada para fins políticos – e populistas, aliviando a inflação.

Depois, veio a polêmica declaração do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. Durante um evento em Nova York, onde a equipe econômica tentava “vender” o Brasil para os investidores estrangeiros, ele disse que é “altamente provável” um corte na taxa básica de juros (Selic) até o fim do ano, o que atrairia mais investimentos produtivos externos ao país, devido ao custo menor de financiamento.

Em reação, ontem, o mercado de juro futuro passou a enxergar 100% de chance de redução da Selic no próximo encontro do Comitê de Política Monetária (Copom), em outubro, ao ritmo de 0,25 ponto percentual. A Bovespa, por sua vez, subiu mais de 1%, garantindo a maior sequência de ganhos em dois meses, diante da perspectiva de corte nos juros, o que deixa a renda variável mais atrativa.

A fala de Meirelles atingiu todos os mercados domésticos, fazendo com que o dólar fechasse em alta, em meio à expectativa de Selic menor no mês que vem, o que reduz o ingresso de capital especulativo em busca de altos rendimentos. A assessoria da Fazenda disse que Meirelles se referia à taxa de juros estrutural da economia, mas não desmentiu (ou corrigiu) a declaração publicada por ele em uma agência de notícias. Tampouco Meirelles veio a público esclarecer o que, de fato, falou.

Foi, então, mais um episódio déjà vu, com as decisões do BC sendo influenciadas pela Esplanada dos Ministérios – ou mesmo pelo Palácio do Planalto – e arranhando a credibilidade que Ilan Goldfajn tenta reconstruir com tanto esforço desde que assumiu o comando da autoridade monetária.

Aliás, em evento à noite, Ilan repetiu o discurso da última ata do Copom, apontando as condicionantes que precisam evoluir para dar início ao ciclo de cortes no juro. Segundo ele, só recuo da inflação não faz a Selic cair, pois essa queda precisa ser sustentável. Além disso, o ajuste fiscal é essencial, sendo necessária a redução de incertezas sobre o encaminhamento das medidas que levarão ao equilíbrio das contas públicas.

Hoje, a agenda econômica está fraca no Brasil.

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