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Mercado busca proteção


O mercado doméstico mostra-se mais desanimado em relação ao desfecho do impeachment da presidente Dilma Rousseff, que vinha sendo desenhado pelos investidores como “favas contadas”. A sensação de que o jogo está completamente aberto, com o governo tentando angariar votos para arquivar o pedido ainda na Câmara dos Deputados, redobra a cautela nos negócios locais. E a busca por ativos seguros no exterior tende a potencializar uma fuga do risco no Brasil.

Ontem, a Bovespa caiu 3,5%, colocando no bolso os ganhos superiores a 15% acumulados no ano, inflados pelo desempenho verificado em março, quando registrou a maior alta mensal desde outubro de 2002, e impulsionado pelos aportes de recursos externos. Foram quase R$ 8,4 bilhões de entrada de capital estrangeiro na Bolsa apenas no mês passado, o que representa um recorde de ingresso para um único mês.

O dólar, por sua vez, largou na semana já com alta de cerca de 1,5%, voltando ao patamar de R$ 3,60, em meio a algum refluxo do otimismo em relação à saída de Dilma da Presidência da República. A permanência dela no poder é tida para os mercados locais como o pior dos cenários e sabe-se que ainda tem espaços para novos ajustes, caso o impeachment não seja levado às últimas consequências.

Feita a defesa de Dilma ontem pelo advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo, que apontou erros conceituais básicos no pedido de impeachment, alegando que o processo fere a Constituição, o relator da comissão especial na Câmara, Jovair Arantes, deve fazer um parecer, a ser votado pelo colegiado até segunda-feira (dia 11). Na sessão de apresentação do parecer, que pode ocorrer hoje mesmo, deve ser feito um pedido de vista coletivo.

Para o presidente da Casa, Eduardo Cunha, Cardozo "faltou com a verdade", ao exercer de forma "indigna" a defesa de Dilma. O assunto será incluído na "ordem do dia" da Câmara 48 horas após a publicação do parecer, que será votado, nominalmente, por 512 deputados. Se autorizada, a abertura do processo de impeachment será encaminhada ao Senado. Caso a denúncia tenho menos de 342 votos (2/3), o pedido é arquivado.

Nos bastidores, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva está contra-atacando, de modo a barrar o impeachment na Câmara. A investida do ex-presidente tem como alvo parlamentares do “baixo clero”, com base eleitoral nas regiões Norte e Nordeste, e também da bancada evangélica. Lula, aliás, segue confiante de que assumirá como ministro-chefe da Casa Civil nesta quinta-feira, quando espera tomar as rédeas do governo.

Desse modo, sem saber qual será a soma final dos votos dos deputados, que também pode ser prejudicada pelo total de abstenções, os investidores devem operar com larga prudência, evitando ficar expostos em posições mais arriscadas.

No exterior, que ainda se mostra imune ao noticiário político apesar do escândalo de corrupção global Panama Papers, os investidores já promovem uma busca por proteção, o que derruba as moedas de países emergentes, como o rand sul-africano e o won sul-coreano, ao mesmo tempo em que o iene japonês sobe à máxima em 17 meses.

Depois do salto dos mercados emergentes em março, que levou as moedas da região ao melhor ganho mensal desde 1996, os investidores estão buscando motivos para promover novas compras. Mas, enquanto esperam sinais dos bancos centrais, embolsam os ganhos recentes. O foco dos negócios está na ata do Federal Reserve, na quarta-feira, em busca de pistas sobre quando deve acontecer a próxima alta nos juros dos Estados Unidos.

Por ora, a novidade entre os BCs ficou com a Índia. O Banco Central do país (RBI), comandando pelo ex-economista-chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI), Raghuram Rajan, cortou a taxa básica de juros pela primeira vez em seis meses, ao menor nível desde março de 2011, a 6,5%, de 6,75%. A decisão era esperada por alguns economistas, mas não havia consenso para o movimento.

Ainda assim, a Bolsa da Índia fechou no menor patamar em seis semanas, ignorando os sinais do RBI de que novas quedas estão a caminho. Na Austrália, o Banco Central local (RBA) manteve o juro em 2%, mas observou que uma recuperação da moeda ("aussie") pode complicar o ajustes econômico em curso.

As principais bolsas europeias recuam mais de 1%, com o índice Stoxx Europe 600 sendo negociado no menor nível em cinco semanas. Na Alemanha, a queda do índice Dax é maior, beirando os 2%, após a inesperada queda nas encomendas à indústria alemã, em -1,2% em fevereiro, ante previsão de alta de 0,3%. Em reação, o juro do bund alemão de 10 anos caiu ao menor nível em cerca de um ano, a 0,094%.

Entre as commodities, o ouro engata um rali em meio à busca por ativos seguros, ao passo que o petróleo recua pelo terceiro dia seguido, já no aguardo dos estoques norte-americanos da commodity, amanhã. Os índices futuros das bolsas de Nova York também estão no vermelho.

Já a agenda econômica doméstica desta terça-feira está esvaziada e trouxe apenas o IPC-Fipe, que encerrou março com alta de 0,97%, acelerando-se ante a taxa de 0,89% em fevereiro. Dados sobre a atividade no setor de serviços no mês passado no Brasil, Estados Unidos, zona do euro, Reino Unido e China serão conhecidos ao longo do dia.

Além disso, das vendas no varejo da região da moeda única. Ainda no exterior, saem a balança comercial norte-americana e o relatório Jolts sobre o emprego e o número de vagas disponíveis nos EUA, ambos às 11h e referentes ao mês de fevereiro.

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