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A culpa é das estrelas


Depois do drama grego e do enigma no mercado chinês provocarem um verdadeiro sell off global, na última quarta-feira, as bolsas na Europa e em Nova York se recuperam. A quinta-feira de feriado em São Paulo foi um dia de apetite por risco e esta sexta-feira segue na mesma toada, com os índices futuros em Wall Street subindo ao redor de 1% nesta manhã, enquanto as praças europeias têm ganhos acelerados, assim como o euro. Já o juro dos bônus de países periféricos cai, com respectiva alta dos preços.

Tudo isso porque a Grécia submeteu, hoje, uma nova proposta econômica, similar àquela que já foi enviada no mês passado pelos credores e que será apresentada ao Parlamento grego nesta sexta-feira. A cúpula da União Europeia (UE) volta a discutir os termos para um terceiro programa de resgate a Atenas no domingo, em um último esforço para manter o país mediterrâneo na região da moeda única. Porém, não está descartada uma decisão ainda hoje.

Somada a esse fator grego, está também a recuperação da Bolsa de Xangai, que saiu da mínima em três meses atingida no dia 8 e registrou o maior ganho em dois dias desde 2008, acumulando uma expressiva valorização de 5,2% na semana, ao final. Hoje, o índice Xangai Composto avançou 4,5%, um dia após saltar outros 5,8%.

Os negócios seguiram suspensos com as ações de mais de 1,3 mil companhias chinesas, impedindo as negociações com ao menos 50% do mercado. Assim, cerca de 90% dos papéis que foram negociados atingiram o limite de alta diário de 10%.

A melhora do mercado chinês ocorre em meio a uma intervenção sem precedentes do governo de Pequim, que batalha para restaurar a confiança e conter a debandada em um mercado que perdeu quase US$ 4 trilhões em menos de um mês. Era um indício de que da mesma forma que subiu muito rápido, como vinha acompanhando o blog A Bula do Mercado em relação ao maior rali do mundo neste ano, os investidores resolveram que a correção também seria na mesma velocidade.

Porém, as autoridades têm adotados medidas quase todas as noites, implantando a mão pesada do Estado para evitar a queda abrupta dos preços das ações e minar um mercado que tem agora mais de 90 milhões de investidores individuais, superando os membros do Partido Comunista. Na quarta-feira, foi proibido a grandes acionistas vender participação em empresas listadas por seis meses.

Restrições para novas ofertas também foram impostas, em uma tentativa de estabilizar o mercado financeiro que, em 2013, teve reconhecido o seu papel “decisivo” na economia chinesa. Desde ontem, os bancos vão poder rolar os empréstimos lastreados em ações.

O órgão regulador do mercado mobiliário chinês foi além e se juntou à polícia chinesa para investigar um “malicioso” sistema de venda a descoberto de ações, esforço que deve interromper o derretimento do mercado de ações na China. Já o Banco Central chinês, chamado PBOC, injetou US$ 5,7 bilhões no mercado monetário por meio das operações de mercado aberto. Foi a quinta semana consecutiva de injeção de recursos nesses acordos regulares de recompra reversa (repo), que se seguem desde 25 de junho.

Portanto, as fortes oscilações no mercado de ações da China precisam, primeiro, parar de assustar, pois, o primeiro fator a provocar a forte global de venda de ativos, como se viu na quarta-feira, é a incerteza. Movidos desse sentimento, e cientes dos controles que detêm o Partido Comunista da China, os investidores mostraram certo pânico e resolveram sair do risco.

Os mercados emergentes, como o Brasil, e as commodities sentiram os efeitos de modo mais abrupto. Ontem, o preço do minério de ferro subiu 9,5%, um dia depois de despencar 11% e atingir a menor cotação em 10 anos. Nesta manhã, porém, o petróleo recua, após a Agência Internacional de Energia (AIE) afirmar que os preços da matéria-prima vai cair mais, à medida que a demanda segue fraca.

Aliás, esse movimento de ajuste nos preços das commodities e dos ativos de empresas e de países parceiros comerciais da China, como os BRICS, tende a continuar. Afinal, não é de hoje que os indicadores mostram que a economia na China está caminhando em direção a um “novo normal”, com taxas de expansão estáveis, porém ainda elevadas. Na inflação, houve uma ligeira alta dos preços ao consumidor em junho, mas a deflação no atacado bateu uma sequência de 40 meses.

Mas à medida que o vaivém de Xangai mostrar sinais de diminuição, os olhos dos agentes financeiros e econômicos devem se voltar para agenda de reformas e o crescimento da nação. De olho nisso, a presidente Dilma Rousseff encerra a participação da cúpula dos BRICS, na Rússia, com uma mensagem do presidente chinês, Xi Jinping, que comparou as relações bilaterais China-Brasil a galhos de uma árvore frondosa, pronta para se desenvolver vigorosamente.

Hoje, ela se desloca para a Itália, onde se reúne com o presidente, Sergio Mattarella, e o primeiro-ministro, Matteo Renzi. Entre os indicadores econômicos, saem os números regionais da produção industrial em maio e também os dados sobre o fluxo de veículos nas estradas com pedágio. Nos Estados Unidos, o único indicador previsto é sobre os estoques no atacado em maio.
Mas as atenções estarão mesmo voltadas para o pronunciamento que a presidente do Federal Reserve, Janet Yellen, faz hoje. O discurso pode ser a cereja do bolo que faltava para fechar esta semana, com potencial de ainda mexer os mercados financeiros freneticamente.
Afinal, após os temores de instabilidade global vistos na quarta-feira, notadamente pelo “crash” na Bolsa de Xangai e da crise grega, os investidores passaram a apostar que essa confluência de fatores coloca em risco qualquer aumento rápido na taxa de juros norte-americana. A conferir.
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