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Vivendo no limite


Os mercados financeiros devem continuar vivendo no limite nesta quarta-feira, dia de decisão de política monetária nos Estados Unidos. Ontem, os negócios se afastaram da beira do caos com os investidores se apoiando na perspectiva de que os dados mistos sobre a economia norte-americana e o impasse sobre a dívida grega pode diminuir o ritmo no processo de normalização da taxa dos Fed Funds.

Em meio a essas apostas de uma lentidão maior no aperto monetário pelo Federal Reserve, os índices futuros das bolsas de Nova York mantêm o tom positivo nesta manhã, embalando ainda uma recuperação da Ásia. A Bolsa de Xangai subiu 1,7%, interrompendo uma sequência de dois dias de queda e ditando uma recuperação dos ativos de países emergentes.

Na Europa, porém, perde força o peso das declarações de ontem da chanceler alemã, Angela Merkel, de que fará tudo o que for possível para manter a Grécia na zona do euro. Assim, as bolsas da região e o euro sofrem para encontrar uma direção única, monitorando os desdobramentos envolvendo Atenas. As atenções se voltam, agora, para as reuniões de ministros e líderes europeus, amanhã e também dos dias 25 e 26.

Fora da região da moeda única, a Bolsa de Londres e a libra esterlina digerem a ata do Banco Central inglês (BoE), que não alterou a expectativa de alta do juro britânico no início do ano que vem.

Já no Brasil, a situação segue complicada, principalmente em Brasília. A presidente Dilma Rousseff ficou reunida até tarde da noite, ontem, com senadores da base aliada para definir uma proposta alternativa para as aposentadorias. Apesar do apelo dos aliados, Dilma deve mesmo vetar a alteração no fator previdenciário, já aprovada no Congresso, que criou a fórmula 85/95.

Ela avisou, porém, que enviará ao Legislativo uma proposta que prevê um mecanismo progressivo, que mudará a cada período de acordo com a expectativa de vida da população.Com um texto alternativo, a presidente espera, então, arrefecer a reação das centrais sindicais e do Congresso ao veto.

Ainda no front político, o projeto de desoneração da folha de pagamentos – uma das principais medidas do ajuste fiscal – deve ser apresentado hoje na Câmara e o texto pode ser votado até amanhã. Contudo, o relator do projeto e líder do PMDB na Casa, Leonardo Picciani (RJ), deve excluir alguns setores da economia dessa reversão, de modo que as alíquotas de algumas atividades subam menos que o desejado pela equipe econômica.

Aliás, o trio formado pelos ministros Joaquim Levy (Fazenda), Nelson Barbosa (Planejamento) e Alexandre Tombini (Banco Central) já incorpora a possibilidade de rebaixamento do rating soberano pela Moody’s, segundo informações da imprensa veiculadas hoje. A preocupação, então, seria impedir que o “downgrade” seja acompanhado de uma perspectiva negativa da nota.

Enquanto aguarda a visita do analista sênior da Moody’s, Mauro Leos, ao Brasil, no próximo mês, Levy recebe hoje mais dois governadores, da Paraíba e do Piaui, à tarde. Pela manhã, ele tem reuniões com a bancada de deputados do PR e do PP. Já a presidente Dilma recebe os empresários Jorge Paulo Lemann e Joe Kaeser, entre outros compromissos.

Na agenda doméstica do dia, destaque para o Índice de Atividade Econômica do BC, o IBC-Br, referente ao mês de abril. Enquanto na comparação mensal o indicador pode apurar, no máximo, uma estabilidade (mediana de -0,45%), em base anual, a queda esperada, na mediana, é de, pelo menos, -2,5%.

Os números da arrecadação federal em maio também são aguardados, sendo que a mediana das previsões é de quase R$ 94 bilhões. Contudo, declarações não oficiais dão conta de que o governo já fala abertamente quanto ao não cumprimento da meta fiscal de 2015, uma vez que o recolhimento menor de tributos federais no mês passado teria deixado as contas do governo central no vermelho. Vai depender, agora, do recolhimento de junho, para uma eventual mudança na meta de superávit primário em relação ao PIB.

Essas dúvidas fiscais e o cenário político no Brasil devem agitar os negócios locais, neste dia de decisão do Fed. O comunicado que acompanhará o anúncio da atualização da taxa básica de juros nos EUA, às 15 horas, bem como a entrevista coletiva da comandante, Janet Yellen, na sequência, devem garantir uma dose extra de volatilidade.

Levantamento na imprensa internacional mostra que os investidores reduziram, de 53% na sexta-feira para 47%, ontem, as apostas de que a primeira alta dos juros norte-americanos desde 2006 ocorrerá em setembro. Agora, crescem as apostas de que o aperto terá início apenas no último trimestre deste ano – em outubro ou em dezembro, sendo que alguns ainda têm a esperança de que o Fed pode atrasar o processo para 2016.

Com isso, a linguagem do comunicado e a fala de Yellen, hoje, se tornam ainda mais importantes. Pois, ao que tudo indica, nunca há um “momento perfeito” para iniciar a normalização das taxas de juros da maior economia do mundo.

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