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Não era alívio, era volatilidade


Passada a correção ontem nos ativos globais dos exageros da segunda-feira, o mercado financeiro retoma o sinal negativo hoje. E a intensidade da queda apontada para o dia é acentuada, sugerindo mais volatilidade nos negócios, com os investidores embarcando em uma montanha-russa, à medida que as incertezas sobre a economia global se avolumam, com os casos confirmados de coronavírus nos Estados Unidos chegando a mil e na Itália superando os 10 mil.


Os índices futuros das bolsas de Nova York amanheceram no vermelho, exibindo queda ao redor de 2%, com os investidores levantando dúvidas quanto à eficácia das medidas fiscais sinalizadas pela Casa Branca. Além da falta de detalhes, o Congresso já mostrou ceticismo em relação à aprovação de corte de impostos sobre os salários para reforçar a economia dos EUA.


Na Ásia, a principais bolsas da região fecharam no vermelho, com Tóquio e Seul liderando as perdas e recuando mais de 2%, enquanto Xangai e Hong Kong caíram menos de 1%. Na Austrália, Sydney cedeu mais de 3%. Já as bolsas da Europa abrem reagindo ao corte emergencial de meio ponto nos juros pelo Banco Central da Inglaterra (BoE), para 0,25%.


A decisão unânime ocorreu um dia antes da reunião do BC da zona do euro (BCE) e foi acompanhada de um novo plano de financiamento de longo prazo a pequenas e médias empresas. Segundo o BoE, a medida foi tomada para combater o “choque econômico” causado pelo surto de coronavírus.


Em reação, a libra esterlina perde terreno para o dólar, que, por sua vez, cai em relação ao euro e ao iene, ao mesmo tempo em que o rendimento (yield) dos títulos norte-americanos (Treasuries) recua, com os investidores buscando proteção em ativos seguros. Já o petróleo volta a cair, mas o barril dos tipos WTI e Brent segue cotado acima de US$ 30.


Volatilidade reina


O fato é que as incertezas econômicas continuam - e se avolumam - depois que os sauditas resolveram lançar um segundo cisne negro nos mercados globais, juntando-se ao coronavírus, que já se espalha pelo mundo. Portanto, o repique visto ontem nos ativos de riscos teve um caráter puramente técnico e a volatilidade volta a reinar.


A dúvida, agora, é qual movimento dos ativos terá continuidade - se de alta ou de baixa - ainda que não na mesma intensidade vista nos últimos dias. A resposta vai se concentrar nas medidas a serem adotadas pelos governos e pelos bancos centrais. Ainda assim, é necessário um apoio significativo à atividade econômica para resolver o problema, em meio a tantos choques (de oferta, de demanda e de confiança).


Portanto, isso não significa que uma combinação de estímulos nos âmbitos monetário, fiscal e regulatório irá permitir que os mercados voltem à normalidade, cessando o intenso vaivém dos ativos globais, nem que será suficiente para conter as crises atuais. No caso do coronavírus, é preciso verificar o que está sendo feito para combater a doença in loco.


Por ora, o controle da epidemia tem tido mais êxito na Ásia do que na Europa, com Japão e Coreia do Sul seguindo as rígidas medidas adotadas na China mais do que a Itália. O bloqueio no país europeu pode até interromper a propagação do vírus entre as cidades, mas não dentro delas, já que as pessoas infectadas estão ficando em casa - e não nos hospitais. Além disso, os ocidentais tem maior rejeição ao uso de máscara facial.


Somente quando essa etapa for superada - assim como foi na China, onde o coronavírus está “praticamente contido”, conforme palavras do presidente Xi Jinping - é que os investidores poderão fazer as contas do impacto no mundo do surto na economia real e do efeito das medidas adotadas. O problema é que esse ponto de virada global ainda parece distante, sob o risco de espalhar o vírus novamente em locais hoje livres da doença.


Diante disso, a volatilidade continua sendo a única certeza e deve seguir ditando o rumo dos mercados no curto prazo, tendo como ingrediente extra a disputa entre os dois maiores exportadores de petróleo do mundo. Ainda assim, os investidores clamam por mais cortes de juros pelo mundo, com o Federal Reserve conduzindo o movimento e sendo já seguido pelos BCs da Inglaterra (BoE) e Canadá (BoC).


Em breve, BCE e o BC brasileiro (Copom) devem entrar nesse time, com a Selic renovando o piso e levando o país a juros reais negativos, o que mantém o câmbio pressionado e eleva a necessidade de oferta de dólares em leilão - hoje, serão ofertados US$ 1 bilhão em swap cambial. Enquanto isso, o governo Bolsonaro mantém o discurso e diz que a solução para combater os impactos do coronavírus na economia são as reformas.


Desse modo, o mercado financeiro se divide entre os que mergulham na liquidez injetada pelos bancos centrais, mantendo o apetite por risco, e os que apostam no fim da era do mercado de alta (bull market). E quando a divisão chega a tal ponto é o vaivém que predomina nos negócios...


Inflação na agenda


A agenda econômica desta quarta-feira está recheada de dados de inflação. Os destaques ficam com os índices de preços ao consumidor brasileiro e norte-americano em fevereiro. A previsão é de que o IPCA desacelere a alta a 0,15%, no menor resultado para o mês em 20 anos. Com isso, a taxa acumulada em 12 meses deve ficar abaixo de 4%, em 3,90%.


Os dados efetivos serão conhecidos às 9h, juntamente com dados sobre o custo da construção civil. Antes, às 8h, sai a primeira prévia deste mês do IGP-M. Depois, às 14h30, é a vez dos dados parciais sobre a entrada e saída de dólares do Brasil (fluxo cambial), que podem indicar se as retiradas de capital externo da Bolsa brasileira estão deixando o país.


Lá fora, o calendário norte-americano enfim ganha força, trazendo a inflação ao consumidor (CPI) no mês passado (9h30); os estoques semanais de petróleo bruto e derivados (11h30) e o orçamento do Tesouro em fevereiro (16h). Na Europa, saem dados do Reino Unido sobre a produção industrial e a balança comercial, logo cedo.







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