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Mercado testa a sorte com bancos centrais


O mercado financeiro vai tentar tirar a limpo a história contada pelos bancos centrais do Brasil e dos Estados Unidos na semana passada, quando deram a entender que a ação de política monetária chegou ao limite. Os documentos do Copom a serem publicados amanhã e quinta-feira, além de três pronunciamentos do presidente do Fed, Jerome Powell, no Congresso norte-americano concentram as atenções.


Com isso, os ativos globais devem alternar momentos de cautela e de volatilidade nos próximos dias. Nesses eventos envolvendo os BCs, os investidores esperam compreender o que levou à pausa na adoção de estímulos, ainda que tudo o que já foi feito até o momento não tenha sido capaz de reerguer a economia real dos efeitos causados pela pandemia, que já dá sinais de uma segunda onda de contágio de covid-19 na Europa, elevando as incertezas sobre a recuperação econômica global.


No caso brasileiro, é crescente a percepção de que o Copom está prestes a reverter a estratégia e iniciar um ciclo de alta da Selic em breve - mas não agora - diante do acúmulo de riscos inflacionários e fiscais. Ao final da semana passada, as dúvidas sobre o andamento da agenda de reformas, o refinanciamento da dívida pública e o “teto dos gastos” empinaram a curva de juros futuros, enquanto o Ibovespa caiu novamente abaixo dos 100 mil pontos e o dólar voltou a superar a marca de R$ 5,30.


O movimento do mercado doméstico tende a ficar refém da ata da reunião do Copom neste mês e do Relatório de Inflação (RI) referente ao terceiro trimestre, seguido de uma entrevista do presidente do BC, Roberto Campos Neto. Se repetir o tom suave (“dovish”), visto no comunicado que acompanhou a decisão de interromper o ciclo de cortes de nove cortes consecutivos, a capacidade da autoridade monetária em sustentar os juros baixos por um tempo pode ser questionada.


Afinal, os indicadores econômicos têm mostrado elevada distorção, por causa dos impactos diversos da disseminação de coronavírus em diferentes setores da atividade (e de preços), o que, por sua vez, tem deixado os ativos domésticos disfuncionais - e com muitos riscos. O receio, então, é de contaminação de toda a história, com a menor disposição para consumir e investir resultando em menos crescimento econômico e uma grave situação fiscal.


O que mais vem chamando a atenção é o descompasso entre os preços no atacado e ao consumidor, que vem sendo evidenciado pelos Índices Gerais de Preços (IGPs), em meio à valorização do dólar. Um repasse (pass through) por parte do produtor para o varejo ameaça o cenário benigno da inflação oficial. A prévia do índice deste mês (IPCA-15), na quarta-feira, já deve mostrar pressão inflacionária vinda dos alimentos.


Powell três vezes; coronavírus, duas


Lá fora, Powell também terá chance de explicar porquê a injeção de liquidez sem precedentes e a derrubada dos juros norte-americanos para perto de zero não foram suficientes para superar a crise causada pela pandemia, ao mesmo tempo em que os EUA registram o maior número de casos de coronavírus em 14 dias. Na semana passada, o Fed passou a bola para a Casa Branca, instando um novo pacote trilionário de socorro aos cidadãos e empresas, de modo que o dinheiro chegue nas mãos de quem precisa.


Desta vez, ele irá falar três vezes no Congresso dos EUA, sendo dois depoimentos na Câmara dos Representantes, amanhã e quarta-feira, e um perante o Senado, no dia seguinte. Em todos eles, o tema será o coronavírus e as medidas adotadas pela autoridade monetária, o que tende a tornar cada sessão demorada. Será a oportunidade do presidente do Fed cobrar dos legisladores e do governo Trump ações mais eficazes pela via fiscal.


Isso em um momento em que republicanos e democratas ainda tentam chegar a um consenso sobre um novo pacote de ajuda econômica, cerca de um mês em meio antes das eleições presidenciais. Em contrapartida, deputados e senadores podem cobrar maior responsabilidade do Fed, uma vez que permitir que a inflação fique acima do desejado, ainda que por algum tempo, mina o poder de compra das pessoas.


Quase só da Fed na agenda econômica no exterior nesta semana. Ainda assim, também merecem atenção os dados preliminares sobre a atividade nos setores industrial e de serviços nos EUA e na zona do euro, na quarta-feira. À espera desses eventos, as atenções dos investidores se voltam para os sinais de uma segunda onda de contágio de covid-19 na Europa, diante do aumento de casos em vários países europeus.


Enquanto a França bateu recorde de novos casos, crescem as especulações de um segundo bloqueio (lockdown) no Reino Unido e a Alemanha alertou que a tendência crescente da doença no velho continente é “preocupante”. Em reação, as principais bolsas da região exibem perdas aceleradas, de mais de 2%, com as ações de companhias aéreas e das agências de viagens liderando as perdas. O euro e a libra também recuam.


Os papéis do setor financeiro pesam na Europa, em meio a suspeitas de lavagem de dinheiro entre bancos e o Tesouro dos EUA durante a campanha presidencial de Donald Trump em 2016. Os índices futuros das bolsas de Nova York também reagem a essa notícia caem mais de 1%. Na Ásia, as ações do HSBC pressionaram Hong Kong (-2%), enquanto Xangai cedeu menos (-0,6%). Já o petróleo volta a testar a faixa de US$ 40 por barril.


Confira a seguir os principais destaques desta semana, dia a dia:

*Horários de Brasília

Segunda-feira: Como de praxe, a semana começa com as tradicionais publicações no Brasil, a saber, o relatório de mercado Focus do Banco Central (8h25) e os dados semanais da balança comercial (15h). O dia por aqui conta ainda com a divulgação da prévia deste mês da sondagem da indústria (8h). No exterior, o calendário econômico está esvaziado.


Terça-feira: O presidente do Fed, Jerome Powell, depõe na Câmara dos Representantes dos EUA, na primeira de três aparições previstas para esta semana. Por aqui, a ata da reunião do Copom na semana passada é o destaque da agenda do dia. Entre os indicadores econômicos, saem dados preliminares sobre a confiança do consumidor na zona do euro neste mês e números do setor imobiliário norte-americano em agosto.


Quarta-feira: A prévia deste mês da inflação oficial ao consumidor brasileiro (IPCA-15) divide as atenções com dados preliminares (PMI) sobre a atividade nos setores industriais e de serviços na zona do euro e nos EUA. Powell, do Fed, volta a falar aos deputados. Também serão conhecidos o índice de confiança do consumidor brasileiro, além dos dados semanais sobre o fluxo cambial no país e sobre os estoques norte-americanos de petróleo.


Quinta-feira: O BC brasileiro volta à cena, desta vez, com a publicação do Relatório Trimestral de Inflação. Depois, o presidente da autoridade monetária, Campos Neto, concede entrevista coletiva. Já o presidente do Fed discursa novamente, agora no Senado norte-americano. Entre os indicadores econômicos, saem a sondagem do comércio brasileiro neste mês e os pedidos semanais de auxílio-desemprego feitos nos EUA.


Sexta-feira: A semana chega ao fim com uma agenda mais fraca, trazendo apenas a confiança do setor de construção civil no Brasil e as encomendas de bens duráveis nos EUA.


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