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Mercado tenta manter o sangue-frio



Junho começa com o mercado financeiro digerindo dados mais fracos que o esperado sobre a atividade industrial na China e também avaliando protestos violentos no Brasil e nos Estados Unidos, em plena pandemia de coronavírus. Ainda assim, os investidores tentam manter o sangue-frio e se apoiar na retomada da economia global, embora novas ameaças testem esse otimismo.


O sinal positivo positivo prevalece entre as bolsas no exterior, que ainda ecoam a coletiva de imprensa feita pelo presidente dos EUA, Donald Trump, na última sexta-feira. A percepção é de que a resposta de Washington à nova lei de segurança nacional para Hong Kong não foi tão ruim quanto se temia, sem a adoção de medidas punitivas, o que abre espaço para ganhos expressivos.


O índice Hang Seng, por exemplo, subiu mais de 3%, liderando as altas na Ásia, enquanto Xangai avançou 2,2% e Tóquio, pouco menos de 1%. Os negócios na região relegaram os números que mostram a lenta recuperação das fábricas chinesas, deixando no ar as incertezas sobre a velocidade da recuperação econômica. O índice oficial dos gerentes de compras (PMI) da indústria na China caiu a 50,6 em maio, de 50,8 em abril.


A previsão era de alta a 51,0. A abertura do dado mostra que os pedidos de exportação continuaram encolhendo e que o emprego nas fábricas também seguiu em queda. Já o total de novos pedidos registrou expansão, com a melhora refletindo quase que inteiramente a demanda doméstica. Por sua vez, o PMI do setor de serviços chinês subiu a 53,6, de 53,2 no período.


Na Europa, as principais bolsas mantêm o foco na reabertura das economias da região, embora algumas praças estejam fechadas hoje devido a um feriado. O euro é negociado no nível mais alto desde meados de março, em meio às expectativas sobre um fundo de resgate da União Europeia (UE). Já os índices futuros das bolsas de Nova York apagaram as perdas exibidas ontem e têm alta moderada nesta manhã.


Barril de pólvora


Wall Street monitora a jornada de protestos nos EUA, que registraram ontem a sexta noite de cenas de violência em várias cidades norte-americanas, indo desde Los Angeles a Nova York, com os manifestantes desafinando o toque de recolher após a morte de um homem negro por policiais brancos em Minnesota. A preocupação é de que tais atos possam atrapalhar os esforços para reavivar a atividade, em meio à flexibilização da quarentena.


Também houve manifestações fora dos EUA, com atos em Toronto, Londres e Berlim. Em sua conta no Twitter, Tump parabenizou a atuação da Guarda Nacional e criticou o movimento antifascista “Antifa”, que será designado como “organização terrorista”. Ele também acusou a imprensa de “fomentar o ódio e a anarquia”. Além disso, os protestos nos EUA elevaram o clima de tensão com a China, por causa de Hong Kong.


O episódio envolvendo a ex-colônia britânica é apenas o mais recente em meio à escalada da tensão entre as duas maiores economias do mundo, que pode colocar em risco a recuperação da atividade em um cenário pós-coronavírus. A tentativa de Trump de incluir Austrália, Coreia do Sul, Índia e Rússia no próximo encontro do G7 evidencia os esforços dos EUA de conquistar aliados no conflito contra a China.


Já no Brasil, a Avenida Paulista foi palco de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro, que exibiam símbolo neonazista, e participantes de um ato organizado por torcidas de futebol em defesa da democracia. Os lados opostos se hostilizaram e a Polícia Militar entrou em confronto e usou bombas de gás para dispersar os torcedores, que atiraram pedras e paus.


Enquanto isso, na capital federal, manifestantes pró-governo ocuparam a Esplanada dos Ministérios carregando faixas que pediam o fechamento do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Congresso Nacional, além da intervenção militar. Bolsonaro sobrevoou o local de helicóptero e acenou para os apoiadores, andando também a cavalo durante o ato. O presidente, aliás, se apropriou da publicação de Trump para também chamar antifas de organização terrorista.


Essas cenas de agitação nas ruas formam um contraste sombrio com o otimismo do mercado financeiro, já que os protestos também são sintomáticos da profundidade dos problemas econômicos e da insatisfação social. E o caos ocorre logo nos dois países que registram o maior número de casos de coronavírus, sendo que o Brasil é o novo epicentro da pandemia, com mais de meio milhão de infectados por Covid-19 e quase 30 mil óbitos.


Portanto, o novo mês deve ser marcado pela volatilidade, com os ativos de risco oscilando ao sabor de notícias sobre vacinas contra o coronavírus e a reabertura gradual da economia, de um lado. De outro, estão a preocupação com uma segunda onda de contágio por Covid-19, em meio a indícios de novos casos com mutação do vírus, e o acirramento da tensão política, tanto entre EUA e China quanto os Três Poderes em Brasília.


Semana de agenda cheia


E a agenda de indicadores e eventos econômicos tem de tudo um pouco nesta primeira semana de junho. De hoje até quarta-feira, serão conhecidos dados de atividade no Brasil e no exterior, de modo a aferir o impacto da pandemia de coronavírus no desempenho da indústria e do setor de serviços. Também saem índices de preços no atacado aqui e lá fora.


Mas a atenção fica dividida entre os dados de emprego nos EUA e a decisão de juros na zona do euro (BCE). O relatório oficial sobre o mercado de trabalho (payroll) sai na sexta-feira e deve mostrar a eliminação de cerca de 10 milhões vagas no país, levando o declínio acumulado para perto de 30 milhões de postos de trabalho desde fevereiro.


Com isso, a taxa de desemprego nos EUA deve superar a marca de 20%. Na quarta-feira, o relatório da ADP sobre o emprego no setor privado norte-americano tende a ajustar essas expectativas. Um dia depois, o foco se volta para a Europa, onde o Banco Central Europeu (BCE) reúne-se e a presidente Christine Lagarde concede entrevista coletiva.


Confira a seguir os principais destaques desta semana, dia a dia:

*Horários de Brasília

Segunda-feira: A semana começa com as tradicionais publicações domésticas do dia, a saber, o relatório de mercado Focus, do Banco Central (8h25), e os dados da balança comercial referentes a maio (15h). No exterior, saem dados sobre a atividade no setor industrial no mês passado nos EUA e na zona do euro, ao longo da manhã.


Terça-feira: A agenda econômica perde força e traz apenas dados de atividade no setor de serviços na China, no fim do dia.


Quarta-feira: Novos indicadores de atividade serão conhecidos hoje, desta vez, sobre o desempenho da indústria brasileira em abril, bem como sobre o setor de serviços nos EUA e na zona do euro. Também merecem atenção o relatório da ADP sobre o emprego no setor privado dos EUA no mês passado, além de números sobre o desemprego e os preços ao produtor (PPI) na zona do euro.


Quinta-feira: O calendário econômico fica esvaziado no Brasil, o que desloca as atenções para o exterior, onde o destaque fica com a decisão de política monetária do Banco Central Europeu (BCE), seguida de entrevista coletiva da presidente da instituição, Christine Lagarde. Já nos EUA, saem o resultado da balança comercial em abril, os pedidos semanais de auxílio-desemprego e os dados revisados sobre a produtividade e o custo da mão de obra.


Sexta-feira: A semana chega ao fim trazendo como destaque o chamado payroll, que deve apresentar números assustadores sobre o mercado de trabalho nos EUA. Já no Brasil, sai o IGP-DI de maio.



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