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Mercado mede condições para voar em agosto



Agosto começa com dados sobre o desempenho da indústria na China, nos Estados Unidos e na zona do euro no mês passado, que podem lançar luz sobre o ritmo da recuperação global, diante dos impactos causados pela pandemia do coronavírus. Mas enquanto há dúvidas sobre uma retomada econômica em forma de “V”, o mercado financeiro já engatou essa trajetória e acumula ganhos expressivos desde o tombo entre março e abril, em meio à injeção de liquidez por parte dos governos e bancos centrais.


Mas o novo mês pode testar o apetite por ativos de riscos, diante dos “ventos contrários” (headwinds) que estão ganhando força, mas continuam sendo ignorados pelos investidores. O sopro mais forte continua vindo do movimento na economia real. Com a produção ociosa e a demanda deprimida, o nível da atividade sinalizado nos últimos meses pode ser frágil, resultando em uma recuperação mais anêmica e profunda, em formato de “U” ou “L”.


Além disso, o risco de uma segunda onda de contágio de covid-19 no outono/inverno (no Hemisfério Norte) antes que uma vacina eficaz seja desenvolvida aumenta o perigo de um duplo mergulho na recessão, sob a forma de “W”, principalmente nos dois lados do Atlântico Norte, onde o tombo recorde da atividade no segundo trimestre já deixou essa marca. E aí, não se pode descartar o “D”, de Grande Depressão - inclusive no Brasil, onde a primeira onda parece não ter fim e já soma quase 100 mil óbitos pela doença.


Com isso, parece difícil entender toda a euforia dos mercados, em especial o de ações, com o Ibovespa firme nos 100 mil pontos. Ainda mais diante da proximidade da eleição nos EUA, para a qual o então favorito presidente Donald Trump aparece agora como azarão, em meio aos fracassos coletados tanto na economia quanto no combate ao coronavírus. E essas derrotas internas tendem a manter as provocações contra a China, em um esforço para atrair eleitores.


Aliás, a retórica xenofóbica vinda de Washington tem provocado uma intensa venda de títulos do Tesouro dos EUA (Treasuries) pelos principais detentores - sendo Pequim o maior deles - com os países migrando para um ativo geopoliticamente mais seguro, como o ouro. Além do risco geopolítico crescente, o aumento da dívida do EUA, com os grandes déficits fiscais atiçando a inflação e enfraquecendo o dólar, também explica tal diversificação.


Volatilidade reina


Por tudo isso, deve-se esperar uma dose extra de volatilidade no mercado financeiro ao longo do novo mês, embora a resposta das políticas fiscal e monetária pelos principais bancos centrais e governos do mundo e a esperança de uma iminente vacina, bem como de uma recuperação em “V” da economia global, continuem sendo a saída encontrada pelos investidores para seguir em frente.


Mas ao contrário do início da semana passada, quando a expectativa de um novo pacote de US$ 1 trilhão em estímulos adicionais nos EUA alimentou ganhos firmes entre os ativos de risco, a ausência de resposta quanto à restauração do benefício de US$ 600 semanal aos milhões de desempregados inibe os mercados hoje. A lista de negociações entre republicanos e democratas segue ampla e sem sinais de progresso.


Com isso, os índices futuros das bolsas de Nova York amanheceram na linha d’água, monitorando as negociações no Congresso dos EUA em relação a mais um pacote fiscal. O noticiário corporativo também é destaque, em meio à divulgação do balanço de 130 empresas listadas no S&P 500, incluindo Walt Disney e Uber. Os investidores aguardam novidades sobre a proibição do TikTok em território norte-americano, ventilada por Trump no sábado, e as tratativas com a Microsoft para adquirir as operações da chinesa nos EUA.


Na Ásia, a notícia em relação ao aplicativo de vídeos da ByteDance e os comentários do secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, sobre softwares chineses conectados ao Partido Comunista Chinês (PCCh) trouxe nervosismo aos negócios. A sessão na região acabou encerrando de forma mista, com perdas em Hong Kong (-0,7%) e altas em Tóquio (+2,2%) e em Xangai (+1,8%), que reagiu também ao salto da indústria na China para o maior nível em mais de nove anos em julho.


O índice dos gerentes de compras (PMI) sobre a atividade industrial chinesa subiu a 52,8 no mês passado, de 51,2 em junho, em meio à aceleração da produção pelo quinto mês seguido e à recuperação da demanda interna e externa, segundo dados do Caixin/Markit. Ainda pela manhã, serão conhecidos os índices PMI da indústria na zona do euro. À espera dos números, as bolsas europeias exibem ganhos, digerindo os resultados corporativos.


Nos demais mercados, o dólar ganha terreno em relação às moedas de países desenvolvidos e emergentes, o que inibe o petróleo. O barril do tipo WTI é cotado levemente abaixo de US$ 40. Já o ouro segue testando a faixa de US$ 1.990 por onça-troy, ao passo que o juro projetado pelo título norte-americano de 10 anos (T-note) segue abaixo de 0,55%, depois de tocar o menor nível em mais de 230 anos na última sexta-feira.


Agenda intensa na semana


E o vaivém do mercado financeiro deve ganhar força ao longo desta semana, diante da agenda carregada de indicadores e eventos econômicos relevantes. Além dos dados de atividade no eixo China-Europa-EUA - que traz ainda o desempenho do setor de serviços, na quarta-feira - por aqui, sai o resultado de junho da produção industrial, amanhã, que também pode lançar luz sobre a trajetória da atividade econômica. No relatório de mercado Focus, a estimativa de queda do PIB brasileiro neste ano vem melhorando há um mês.


A ver o que traz o documento do Banco Central hoje. O BC rouba a cena na quarta-feira, quando se reúne para decidir sobre a taxa básica de juros. A expectativa é de corte residual na Selic, de 0,25 ponto, para 2%, com o Comitê de Política Monetária (Copom) colocando em prática o que havia sinalizado no encontro anterior. O comportamento ainda benigno da inflação e o andamento da agenda de reformas favorecem esse ajuste final.


Aliás, no campo político, o presidente Jair Bolsonaro deu aval ao ministro Paulo Guedes (Economia) em relação à criação de um imposto nos moldes da extinta CPMF. Segundo ele, “se o povo não quiser” não haverá a nova cobrança, mas tem que “botar os dois lados da balança”. Trata-se, portanto, de um “balão de ensaio” do Executivo, que pode convencer o Congresso em recriar o tributo se houver a contraparte sobre os salários pagos.


Mas a folha de pagamentos não tem mais o mesmo peso para as empresas, diante dos números alarmantes do desemprego. Na quinta-feira, o IBGE deve divulgar os números sobre o mercado de trabalho no Brasil até junho, que estavam previstos para serem divulgados na semana passada. No dia seguinte, o instituto volta à cena para anunciar a inflação oficial ao consumidor (IPCA), que perde relevância por sair após o Copom.


Outra decisão de política monetária que merece atenção é a do BC da Inglaterra (BoE), na quinta-feira, quando deve manter a taxa de juros britânica em níveis baixos e amplas medidas de estímulo. Já nos EUA, também estão em destaque dados sobre o mercado de trabalho, que deve seguir mostrando melhora. Na quarta-feira, sai a pesquisa ADP sobre o emprego no setor privado do país e, na sexta-feira, é a vez do relatório oficial (payroll).


Confira a seguir os principais destaques desta semana, dia a dia:

*Horários de Brasília

Segunda-feira: A semana começa com as tradicionais publicações do dia no Brasil, a saber, o relatório de mercado Focus, do Banco Central (8h25), e os dados da balança comercial em julho (15h). Na safra doméstica de balanços, destaque para o resultado trimestral do Itaú. Já no exterior, saem as leituras finais de julho dos índices sobre a indústria nos EUA e na zona do euro, ao longo da manhã.


Terça-feira: Novos indicadores de atividade, desta vez, sobre a produção industrial brasileira, pela manhã, e sobre o setor de serviços na China, à noite, estão em destaque. Ao longo do dia, também serão conhecidos o índice de preços ao produtor (PPI) na zona do euro e as encomendas às fábricas nos EUA, ambos referentes ao mês de junho. Na safra de balanços, atenção apenas para o resultado da Disney.


Quarta-feira: A decisão de política monetária do Copom é o destaque do dia, mas será conhecida apenas após o fechamento do pregão local. Antes da abertura, saem balanços das “elétricas”, além de Embraer. Durante o dia, merecem atenção os dados da ADP sobre o saldo de vagas de emprego no setor privado norte-americano em julho, bem como as versões revisadas dos índices sobre a atividade no setor de serviços nos EUA e na zona do euro no mês passado, além das vendas no varejo na região da moeda única em junho.


Quinta-feira: Mais uma decisão de política monetária, desta vez, do BC inglês (BoE) é destaque do dia. Também será conhecido o Relatório de Inflação do BoE. Já nos EUA saem os pedidos semanais de auxílio-desemprego. No Brasil, o dia traz o IGP-DI de julho e os dados da Pnad sobre o mercado de trabalho, além do balanço do Banco do Brasil. No fim do dia, é esperado o resultado da balança comercial chinesa em julho.


Sexta-feira: A semana chega ao fim repleta de divulgações relevantes. No Brasil, sai o índice oficial de preços ao consumidor (IPCA), enquanto nos EUA, serão conhecidos os números sobre o desemprego (payroll), ambos referentes a julho. Ainda na agenda norte-americana, têm os estoques no atacado e dados do crédito ao consumidor, ambos em junho.


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