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Dúvida fiscal persiste, em dia de dados de atividade


A sexta-feira começa com dados mistos sobre a atividade na China e traz ainda pela manhã mais indicadores sobre o ritmo da recuperação econômica nos Estados Unidos e no Brasil, que devem aguçar o vaivém do mercado financeiro ao longo do dia. Enquanto digerem os números, os negócios locais não conseguem esconder o mal-estar em torno da questão fiscal, após o apoio protocolar do presidente Jair Bolsonaro ao teto dos gastos.


Os investidores seguem ressabiados em relação à austeridade fiscal e ao andamento da pauta de reformas no Congresso, o que levou a um ajuste de posições nos ativos domésticos, reduzindo a exposição ao risco e demandando maior prêmio. A dúvida é se as propostas ultraliberais do ministro Paulo Guedes ainda terão espaço no governo ou se Bolsonaro vai apostar em uma agenda mais popular, já de olho na reeleição em 2022.


Ainda mais agora que a pesquisa Datafolha revelou que a aprovação do presidente é a melhor desde o início do mandato. Segundo o levantamento, a rejeição a Bolsonaro caiu dez pontos desde junho, quando ocorreu a prisão de Fabrício Queiroz, passando de 44% para 34%. Já os brasileiros que consideram o atual governo ótimo ou bom subiu de 32% para 37% no período, quando o auxílio emergencial à população mais pobre ganhou passo.


Tanto que menos de 24 horas após ter defendido o controle das despesas, Bolsonaro voltou a falar sobre o assunto, mas em sentido contrário. Segundo ele, “a ideia de furar o teto existe, o pessoal debate. Qual é o problema?”. Agora, o presidente defende o aumento dos gastos públicos, direcionando recursos para obras e investimentos, de modo a amortecer o impacto da pandemia na economia.


Bolsonaro aproveitou a ocasião para pedir “patriotismo” ao mercado financeiro - logo ele, tão pragmático. “O mercado reage. O dólar sobe, a bolsa cai. Mercado tem de dar um tempinho né? E um pouquinho de patriotismo não faz mal a eles…”, disse, lembrando que as decisões no âmbito econômico estão 99,9% com Guedes, mas esse 0,1% que cabe a ele tem o poder de vetar as ações do ministro. A ver, então, se aflora esse sentimento nacionalista entre os investidores [locais]...


Exterior no vermelho


Por ora, o cenário externo em nada contribui para melhorar o dia de negócios. O sinal negativo prevalece entre as bolsas, antes de dados de atividade, com os investidores lá fora se perguntando se não estariam otimistas demais em relação a uma rápida recuperação econômica global. Até mesmo os indicadores vindos da China mostram que a retomada sob a forma de “V” será de forma bem mais gradual (e desigual) que o esperado.


Isso porque a produção industrial chinesa cresceu menos que o esperado em julho, em +4,8% em relação a um ano antes, mantendo o ritmo de alta observado em junho, mas menos que os +5,0% previstos. Já as vendas no varejo chinês caíram 1,1% no mês passado, em base anual, após o recuo de 1,8% no mês anterior e contrariando a previsão de estabilidade. Por sua vez, os investimentos em ativos fixos têm queda menor no ano.


Em reação aos dados, Xangai conseguiu fechar em alta (+1,2%), mas Hong Kong caiu (-0,2%) e Tóquio teve leves ganhos (+0,2%). O comportamento na Ásia trouxe pouca inspiração à abertura do pregão europeu, que acompanha as perdas exibidas em Wall Street, onde o impasse sobre a um novo pacote fiscal trilionário encurta o fôlego de alta. Nos demais ativos, o dólar mede forças com as moedas rivais e o petróleo cai.


Mais dados de atividade


O dia ainda reserva novos indicadores econômicos. Às 9h, sai o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), que compila os dados sobre a ótica da oferta (agronegócio, indústria e serviços). A previsão é de aceleração do ritmo de recuperação, com alta de 5% em junho em relação a maio, quando se recuperou do tombo de dois dígitos em abril. Já na comparação anual, o indicador deve recuar 7%.


Ainda assim, é válido ressaltar que apesar da melhora da atividade na indústria e no varejo, a retomada no setor de serviços tem sido mais lenta - por causa do impacto mais forte das medidas de isolamento social - o que reduz o ímpeto da recuperação da economia doméstica. Por sua vez, a produção agrícola vem inibindo o pessimismo em relação à retração do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro.


Antes, às 8h, ainda no calendário local, sai o primeiro IGP do mês, o IGP-10. Depois, o foco se volta para o exterior. Às 9h30, saem os dados sobre o varejo nos EUA em julho e a previsão é de desaceleração ainda maior no ritmo das vendas, para +2%, após crescimento de 7,5% em junho, vindo de um salto de 18,2% em maio. No mesmo horário, serão conhecidos os números sobre a produtividade e o custo da mão de obra.


Depois, às 10h15, merece atenção também os dados sobre a produção industrial em julho. A expectativa é de aumento de 3,1%, ante +5,4% e +1,4% em maio, o que, se confirmando, tende a reforçar o comportamento errático e desigual da atividade nas fábricas. Ainda no calendário norte-americano, saem os estoques das empresas em junho e a prévia de agosto sobre a confiança do consumidor, ambos às 11h.


Logo cedo, na zona do euro, sai a segunda leitura do PIB da região da moeda única no trimestre passado. Na primeira estimativa, foi divulgada uma queda histórica de 12,1% em relação aos três primeiros meses deste ano, adentrando o bloco de países europeus em recessão técnica. No confronto anual, o tombo recorde foi de 15%. Também serão conhecidos a taxa de desemprego e o saldo comercial.


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