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BC sobe o tom agora e os juros, em breve


Copom emite comunicado duro, fecha a porta para novos cortes e aponta alta na Selic em 2021, de olho na inflação e no risco fiscal


O Copom emitiu um comunicado duro (“hawkish”) ontem ao indicar que os motivos para segurar a Selic em 2% mudaram, após a terceira manutenção seguida da taxa básica de juros. O Comitê excluiu o parágrafo sobre a possibilidade de estímulo adicional e sinalizou que as condições para manter a orientação futura (“forward guidance”) podem cair em breve. Ou seja, o Banco Central fechou a porta para novos cortes e apontou para uma alta - porém não iminente.

Façam, então, suas apostas. De imediato, o BC deve retirar na próxima reunião, em janeiro, a ferramenta do forward guidance, preparando o terreno para uma mudança de postura na condução da Selic no encontro seguinte, em março. Porém, o Copom alertou que o fim dessa estratégia não implica imediata elevação da taxa básica, pois a economia doméstica ainda prescreve grau extraordinário de estímulo.

Mas certamente o primeiro aperto monetário foi antecipado e, talvez, ocorra no primeiro semestre - quiçá, trimestre - de 2021. O timing vai depender do momento em que a atividade apresentar firme recuperação e as expectativas de inflação seguirem longes da meta. No comunicado, as projeções para o IPCA estão acima da meta neste e nos próximos dois anos, caso a Selic siga em 2%, sendo que 2022 se tornou mais relevante.

O problema é que não só a inflação preocupa, mas o fiscal também. O risco de o governo “furar” o “teto dos gastos”, em meio à prolongada onda da covid-19 no Brasil, voltou a incomodar o mercado doméstico nesta semana. Mas os investidores ainda parecem subestimar a turbulência política à frente, que começou a se formar desde a decisão da Suprema Corte (STF) de impedir a reeleição dos atuais titulares nas Casas Legislativas.

Déjà vu

Ainda é fresco na memória que o estopim da desestabilização do último governo eleito começou pela oposição do então presidente da Câmara. Não é o caso hoje, mas tampouco é à toa a antecipação da reforma ministerial, com o presidente Jair Bolsonaro cedendo cargos ao Centrão, em troca de apoio à candidatura de Arthur Lira. Do lado oposto, um bloco de deputados se formou no entorno de Rodrigo Maia para emplacar um sucessor.

Toda essa agitação em Brasília não é boa para o andamento das reformas, esvaziando ações práticas do compromisso do governo com o ajuste fiscal. Para piorar, a gastança pode continuar no ano que vem, com uma “contabilidade criativa” prolongado o auxílio emergencial. Juntas, a frustração com as mudanças estruturais e a manutenção das políticas de resposta à pandemia elevam o prêmio de risco, pressionando a inflação.

Em contrapartida, sabe-se que o fim do benefício fiscal tende a encurtar o ritmo de recuperação da atividade, como devem apontar os dados sobre as vendas no varejo em outubro. A previsão é de que o comércio interrompa cinco meses seguidos de crescimento, oscilando em baixa de 0,10% em relação a setembro. Já na comparação anual, o varejo deve registrar o quinto resultado positivo consecutivo, de +6,00%.

Os números efetivos serão conhecidos às 9h. No mesmo horário, saem os dados atualizados da safra de grãos em novembro. Na pauta do mercado, o dia reserva também o tradicional leilão de títulos públicos do Tesouro Nacional e o BC realiza oferta extraordinária de swap cambial (venda de dólar no mercado futuro). Isso significa que enquanto o Copom pressiona a curva de juros futuros para cima, o BC influencia na queda do dólar à vista.

Ainda tem BCE

Já o Ibovespa pode tentar se desvencilhar do risco fiscal no Brasil e apoiar-se no ambiente externo, embora saiba-se que um ciclo de alta dos juros por aqui torna a renda variável menos atrativa. Porém, com a inflação rondando a faixa de 4% até 2022, a Selic teria de subir muito para tornar o rendimento da renda fixa um banquete aos investidores. Tudo vai depender, então, do apetite dos estrangeiros, que seguem ávidos por maiores retornos.

Lá fora, os mercados internacionais lutam para firmar uma direção, com os índices futuros das bolsas de Nova York na linha d’água, sem viés definido, enquanto as praças europeias ensaiam ganhos, antes da decisão de juros do Banco Central Europeu (BCE), às 9h45. A expectativa é de adoção de mais estímulos monetários, ampliando o prazo e o montante dos programas existentes, em 500 bilhões de euros para até dezembro de 2021.

Por isso, merece atenção a entrevista coletiva da presidente do BCE, Christine Lagarde, a partir das 10h30. Ainda na Europa, o impasse nas negociações entre Reino Unido e União Europeia (UE) para o acordo do Brexit derruba a libra, ao passo que o euro avança à espera do BCE. Na Ásia, prevaleceu o sinal negativo entre as bolsas, em meio às renovadas tensões sino-americanas. Já o petróleo e os metais básicos avançam.

Na agenda econômica norte-americana, saem os dados sobre a inflação ao consumidor (CPI) no mês passado e sobre os pedidos semanais de auxílio-desemprego feitos nos Estados Unidos, ambos às 10h30. Mas as atenções seguem nas tratativas entre republicanos e democratas sobre um novo pacote fiscal, após o impasse sobre a ajuda aos governos estaduais e locais e das contrapartidas empresariais.

*Aviso: a partir de 14/12/2020, A Bula do Mercado será semanal, publicada apenas às segundas-feiras. Em 11/01/2021, os textos voltam a ser diários.


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