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Acabou o amor


Guedes fala em volta do auxílio emergencial e Bolsonaro prioriza “pauta de costumes” no Congresso, gerando desconfiança no mercado sobre a agenda de reformas e o ajuste fiscal


A lua de mel do mercado financeiro com o governo não durou muito. Depois de celebrar o resultado das eleições na Câmara e no Senado, bastou o presidente Jair Bolsonaro colocar como prioridade a “agenda de costumes” para os investidores ficarem com o pé atrás em relação ao andamento da agenda de reformas. Para piorar, o aval do ministro Paulo Guedes pela volta do auxílio emergencial deve estragar de vez o clima nos negócios locais.

Em pronunciamento ontem à noite no Ministério da Economia, ao lado do recém-eleito presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, Guedes afirmou que o benefício aos mais vulneráveis pode voltar a ser pago, desde que seja apertado o “botão da calamidade pública”, ainda em razão da pandemia. Segundo ele, o socorro financeiro seria oferecido à metade dos beneficiários que receberam o pagamento em 2020, ou pouco mais de 30 milhões de pessoas.

Mais cedo, ainda ontem, em encontro com o presidente da Câmara, Arthur Lira, o ministro havia deixado claro que o governo já sabe como lidar com os efeitos econômicos provocados pela disseminação do novo coronavírus. Já existe um “protocolo da crise” e, por isso, Guedes enfatizou a importância de retomar a agenda de reformas, para que a saúde e a economia possam andar juntas.

Mas o revés veio do próprio Executivo. Ao apresentar uma “lista de desejos” com 35 prioridades para os próximos dois anos de governo, o presidente Bolsonaro optou por dar ênfase às chamadas pautas de costumes, com medidas como a que regulamenta a educação domiciliar (homeschooling) e o combate a lutas identitárias, mas que também tem um caráter fundamentalista, como a que prevê a liberação total de armas e munições.

Daí então que o mercado doméstico entendeu que, se tudo é prioritário, nada é. Ainda mais com Guedes ventilando a favor da volta do auxílio emergencial à metade dos beneficiários e com Bolsonaro reclamando da Lei de Responsabilidade Fiscal (LFR). Os investidores ficaram em polvorosa, temendo uma piora adicional do endividamento, em meio à falta de compromisso do governo com o rigor nos gastos públicos.

Como resultado, a curva de juros disparou, recompondo prêmios, ao passo que o Ibovespa interrompeu uma sequência de três altas seguidas, cravando o primeiro pregão do mês no vermelho. Já o dólar aproximou-se da faixa de R$ 5,45, sendo influenciado também por fatores externos, em meio ao avanço no rendimento (yield) do título norte-americanos de 10 anos (T-note), diante da expectativa de recuperação da economia dos Estados Unidos.

Payroll move exterior

Nesta manhã, porém, os mercados internacionais estão em compasso de espera pelos números do relatório oficial sobre o mercado de trabalho nos EUA (payroll) em janeiro. Após o fechamento de 140 mil vagas no país em dezembro, os ativos de risco têm oscilações laterais, em meio à cautela antes dos dados. Os índices futuros das bolsas de Nova York exibem leves ganhos, enquanto o dólar recua e a T-note projeta juro de 1,14%.


A expectativa é de que tenham sido criadas 50 mil postos de trabalho nos EUA no mês passado, o que manteria a taxa de desemprego estável em 6,7%. Porém, a criação de vagas pode ser maior, após a pesquisa ADP mostrar a geração de 174 mil postos no setor privado norte-americano em janeiro. Por outro lado, os pedidos iniciais de auxílio-desemprego apresentaram uma tendência um pouco mais alta neste início de ano.


Os dados oficiais serão conhecidos às 10h30. Seja como for, os números mostram uma recuperação ainda lenta do mercado de trabalho nos EUA e não há nada que sugira que a situação do emprego irá retornar aos níveis pré-pandemia tão logo, com as grandes empresas também tendo dificuldades, após um impacto mais concentrado nas pequenas e médias. Vai depender de uma queda significativa nos casos e óbitos da covid-19 no país.


Por isso, ainda que a situação esteja ruim, os investidores devem se apoiar na perspectiva de manutenção dos estímulos monetários e fiscais, por parte do Federal Reserve e da Casa Branca, até que a economia dos EUA volte aos trilhos, o que tende a sustentar o apetite por risco. Somado a isso, está o otimismo com o progresso da vacinação contra a covid-19 no mundo, com o números de vacinados já superando o total de infecções por coronavírus.


Mais Agenda


Ainda na agenda econômica do dia, nos EUA, também às 10h30, sai o resultado da balança comercial em dezembro. À tarde, é a vez do crédito ao consumidor norte-americano em dezembro (17h). Por aqui, o destaque fica com o IGP-DI de janeiro (8h), que deve voltar a ganhar força e subir 2,70%, depois de desacelerar fortemente em dezembro, a 0,76%. Com isso, a taxa acumulada em 12 meses deve seguir “salgada”, com alta de 26,36%.


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