Dia de PIB e payroll
Setembro começa com divulgações econômicas de peso no Brasil e nos Estados Unidos, que pedem passagem ao noticiário político nesta sexta-feira esvaziada em Brasília, uma vez que os indicadores podem lançar pistas em relação aos próximos passos do Comitê de Política Monetária (Copom) e do Federal Reserve (Fed). As atenções por aqui estão nos números do Produto Interno Bruto (PIB) do país no segundo trimestre deste ano, enquanto lá fora o destaque são os dados de agosto do mercado de trabalho norte-americano (payroll).
Após a surpresa com o crescimento de 1% da economia brasileira nos três primeiros meses de 2017, o desempenho da atividade no período seguinte, de abril a junho, deve ter sido bem pífio. Ainda assim, o PIB não deve ter voltado ao terreno negativo, depois de ter interrompido oito trimestres consecutivos de queda no início deste ano, e deve ter ficado, no mínimo, estável no segundo trimestre.
A mesma estimativa é projetada para a comparação com o segundo trimestre de 2016, o que, se confirmada, irá interromper uma sequência de 12 trimestres seguidos de resultado negativo, no confronto anual. Os números oficiais serão divulgados às 9h pelo IBGE. Ainda na agenda doméstica, saem os preços ao consumidor em agosto (8h), indicadores industriais em julho (11h) e o resultado do mês passado da balança comercial (15h).
Os investidores ainda estarão digerindo os dados sobre a composição do PIB - com informações sobre os setores industrial, agropecuário e de serviços, além dos investimentos fixos (FBCF), do consumo das famílias e do setor externo, entre outros - quando já terão de ajustar o foco para o ambiente externo. Afinal, às 9h30 será conhecida a criação de postos de trabalho nos EUA no mês passado.
A previsão é de abertura de 180 mil vagas, abaixo das 209 mil criadas em julho, mas com a taxa de desemprego permanecendo em 4,3%. Historicamente, a média de criação de vagas nos meses de agosto nos EUA é baixa, por causa das férias de verão, o que pode ocasionar um ruído estatístico, turvando o cenário quanto à chance de o Federal Reserve ainda promover mais uma alta na taxa de juros norte-americana até o fim do ano.
Essa perspectiva perdeu força ontem, após a ausência de pressão inflacionária apontada pelo índice de preços para os gastos pessoais (PCE), que é usado como referência pelo Fed para medir a inflação e que se situa bem abaixo do alvo, com alta de 1,4% no mês passado, em base anual. Ainda assim, esse cenário tende a permitir o início do plano do Fed de reduzir a quantidade de ativos no balanço patrimonial, que hoje soma US$ 4,5 trilhões.
Ainda no calendário econômico do dia no exterior, merecem atenção os dados de atividade em agosto a serem conhecidos nos EUA e na Europa, além do índice de confiança do consumidor norte-americano no mês passado. Logo cedo, a China anunciou números fortes sobre a indústria, com o índice dos gerentes de compras (PMI) do setor subindo a 51,6 em agosto, de 51,1 em julho.
A coleta recente de indicadores econômicos positivos anima os mercados internacionais, diante dos sinais de crescimento global. As principais bolsas europeias e os índices futuros das bolsas de Nova York estão em alta, com destaque para os ganhos das mineradoras, que estendem o rali diante do avanço nos preços dos metais industriais. O petróleo devolve a alta registrada ontem, enquanto a gasolina cai pela primeira vez em nove dias.
O dólar e os títulos norte-americanos (Treasuries) estão de lado, antes do payroll. Os investidores estão à procura de pistas para confirmar a expectativa de que o Fed só deve subir o juro novamente em 2018, o que tende a manter os recursos em países mais arriscados, como o Brasil. Aqui, aliás, podem crescer as apostas sobre um corte mais ousado na taxa básica de juros (Selic), se o PIB vier muito fraco.
Para o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, o número deve ser próximo de zero ou até mesmo um pouco negativo e esse cenário ainda recessivo da economia brasileira tende a aguçar as chances de cada vez maiores de a Selic ficar perto de 7% ou mesmo abaixo disso. A reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) acontece na semana que vem e o anúncio sobre a Selic será feito no mesmo dia em que sai a inflação (IPCA) oficial no país.
Juntos, PIB e IPCA podem animar as apostas para o encontro seguinte do Copom, em outubro, abrindo caminho para o BC manter o ritmo e promover um quinto corte seguido de um ponto porcentual (pp) no juro no mês que vem - considerando uma queda dessa magnitude neste mês. Já nos EUA, com a economia indo bem e a inflação sem pressão, é o emprego que pode definir os próximos passos no processo de aperto monetário. A conferir.