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Dia de festa?


O presidente Michel Temer mostrou que tem capital político não só para permanecer no cargo até 2018 como também para dar andamento à agenda de reformas no Congresso e, quiçá, barrar uma segunda denúncia contra ele, caso seja feita pela Procuradoria-Geral da República (PGR). A vitória na votação ontem da Câmara, que arquivou a denúncia contra ele, foi comemorada pelo governo e deve ser festejada nos mercados domésticos hoje.

Para a consultoria Eurásia, a vitória de Temer mostra que o governo tem uma base fiel e o sucesso na agenda de reformas depende da habilidade do governo em manter esse apoio dos aliados. Agora, a pauta sobre a Previdência e as eleições de 2018 entram de vez no foco, com maiores chances de o presidente encerrar o mandato ao final do ano que vem.

Em discurso após o resultado final, o presidente afirmou que a "vitória não é pessoal", mas sim uma "conquista do Estado democrático de direito". Ele agradeceu a "decisão soberana" na Câmara e prometeu fazer "as demais reformas estruturante que o país necessita", citando a simplificação do sistema tributário brasileiro.

Que a denúncia seria barrada, já estava no preço dos ativos brasileiros. O que os investidores não esperavam era que o processo fosse concluído de modo tão rápido, o que eleva a chance de o texto sobre a Previdência passar, ainda que de modo diluído. Para ser aprovada no Congresso, a pauta deve ser encaminhada ao Senado até outubro - exatamente um ano antes das eleições.

Mas há quem diga que o placar, com 263 votos a favor da rejeição e 227 contra, não foi tão bom assim. A margem justa de vantagem pró-governo mostra uma oposição crescente ao Palácio do Planalto e não alcança os 308 votos necessários para passar a reforma da Previdência pelos deputados. Houve, ainda, 19 ausências e duas abstenções.

Ao mesmo tempo, o resultado final da votação mostra a força do chamado "centrão", que já mira cargos do PSDB do governo. Para barrar a denúncia, o presidente precisava de 172 votos. Seja como for, a votação mostrou que Temer segue com governabilidade e condições para reorganizar a base aliada e retomar logo as negociações em torno do ajuste fiscal.

O fato é que a reforma da Previdência, mesmo em versão mais enxuta, voltou a ser uma aposta. Ainda que seja uma medida impopular, Temer pode conseguir o aval dos parlamentares a uma versão mais limitada do que a original. Talvez o que pode passar pelo Congresso seja a adoção da idade mínima e da regra de transição.

Somando os votos "sim", os ausentes, as abstenções e os tucanos que votaram contra Temer (21), mas que devem votar a favor das reformas, o total encosta no quórum mínimo para aprovação de uma emenda constitucional (PEC). Assim, as chances de uma versão diluída ser aceita pelo Congresso ainda neste ano giram acima de 50%.

Essa nova expectativa surge em um momento delicado das contas públicas e tende a compensar a provável mudança na meta fiscal deste e do próximo ano, aprofundando o rombo. Uma retomada rápida das negociações em torno da reforma da Previdência pode influenciar as avaliações das principais agências de classificação de risco sobre a nota de crédito soberano (rating) do Brasil, evitando um rebaixamento (downgrade).

Em meio a esse novo cenário, os mercados domésticos devem comemorar. O dólar pode testar a marca de R$ 3,10, ao passo que a Bovespa deve encostar-se ao 70 mil pontos, um dia após encerrar no maior patamar desde o início da crise político, em 17 de maio. Desse modo, pode até haver espaço para uma realização de lucros, uma vez que os ativos brasileiros já se anteciparam à melhora do front político.

Mas a pressão vinda do exterior pode atrapalhar a festa programada nos negócios locais. O sinal negativo prevalece nas bolsas no exterior, ao passo que o dólar ganha terreno em relação aos rivais. Nas commodities, o petróleo recua, mostrando fraqueza para sustentar a marca de US$ 50.

Os investidores estão à espera dos números sobre o mercado de trabalho (payroll), amanhã, que devem calibrar a aposta sobre uma nova alta na taxa de juros nos Estados Unidos. Por ora, os recentes dados norte-americanos reforçaram a avaliação de que o Federal Reserve pode atrasar o aperto para o início do ano que vem, diminuindo as chances de que tal movimento ocorra em dezembro.

Além disso, os investidores também avaliam os episódios de instabilidade política envolvendo o governo Trump. A sensação de que falta profissionalismo à Casa Branca tem reduzido a confiança de que alguma medida pró-crescimento, como aumento dos gastos em infraestrutura e corte de impostos, seja aprovada nos EUA ainda neste ano.

Na agenda econômica do dia, o calendário doméstico está esvaziado. Já no exterior, merecem atenção os indicadores dos Estados Unidos sobre a atividade no setor de serviços em julho (10h45 e 11h), as encomendas às fábricas em junho (11h) e os pedido semanais de auxílio-desemprego feitos no país (9h30).

Na Europa, destaque para a decisão de política monetária do Banco Central da Inglaterra (BoE), às 8h. O anúncio será feito juntamente com a publicação ata da reunião e do relatório trimestral de inflação, que traz as projeções para a inflação e os juros no país. Logo cedo, saem dados de atividade na zona do euro.

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