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Fim de uma semana intensa


Após uma semana intensa, em termos de divulgações e eventos políticos e econômicos, os mercados financeiros fazem uma pausa nesta sexta-feira para recompor o fôlego. Os negócios no exterior estão de lado, sem uma direção única, em meio à falta de fatores capazes de gerar volatilidade nos ativos. No Brasil, os investidores mantêm o apetite por risco, o que sustenta a Bovespa e derruba o dólar, blindando-se do "efeito Cunha" no front político.

O governo Temer prepara uma ofensiva para evitar que a prisão do ex-deputado Eduardo Cunha contamine a base aliada, comprometendo a pauta do ajuste fiscal em curso. A estratégia adotada pelo Palácio do Planalto é de enfatizar a imagem de um "clima de normalidade". Ontem, o presidente Michel Temer fez vários contatos, dando início às articulações.

O receio é de que o impacto da prisão possa atrasar o cronograma das votações e estimular a ausência de deputados na Câmara na próxima terça-feira, data prevista para a votação do segundo turno da proposta (PEC) que fixa um teto para os gastos públicos por até 20 anos. A aproximação de Temer se dá, principalmente, entre os parlamentares do chamado "centrão".

Em contrapartida, o ex-presidente da Câmara contratou mais um escritório de advocacia. Desta vez, trata-se de uma banca especializada em acordos de delação premiada, responsável pela colaboração de empresários na Operação Lava Jato. Mas os mercados domésticos mantêm o clima de "mil maravilhas", seguindo a linha do governo.

As atenções do dia se voltam, então, para a prévia da inflação oficial do Brasil, medida pelo IPCA-15 (9h). As estimativas são de que o indicador tenha mantido em outubro o ritmo de alta apurado em setembro e avance 0,22%. Se confirmado, será o menor resultado para o mês desde 2009 (+0,18%). Já a taxa acumulada em 12 meses deve desacelerar a 8,30%, de +8,78% no período até o mês passado.

O foco dos investidores se concentra ainda mais nos números de inflação, após o Comitê de Política Monetária (Copom) deixar em aberto os próximos passos na condução da taxa básica de juros. O tom duro (“hawkish”) no comunicado que se seguiu à decisão de cortar a Selic de modo comedido, em 0,25 ponto na quarta-feira, condicionou o ritmo e a magnitude do ciclo de cortes à evolução dos preços e também das reformas fiscais.

Desse modo, as apostas do mercado para o último encontro do Copom neste ano, em novembro, estão divididas entre 0,25 e meio ponto, sendo que a possibilidade de aumento da dose perdeu espaço. Da mesma forma, os investidores também diminuíram as chances quanto à carga total de flexibilização, prevendo um ciclo menor e mais moderado.

No exterior, o calendário do dia está bem mais fraco, trazendo apenas a leitura preliminar de outubro do índice de confiança do consumidor na zona do euro (12h) e sem divulgações programadas nos Estados Unidos, após o terceiro e último debate entre os candidatos à Casa Branca não alterar o cenário para a eleições do próximo mês. Por ora, os índices futuros das bolsas de Nova York recuam, enquanto as praças europeias ensaiam ganhos.

Os investidores mostram-se carentes de um direcionador para o dia, cientes de que daqui a menos de dois meses o Federal Reserve deve promover um novo aumento na taxa de juros norte-americana. Se, por um lado, o movimento do Fed sinaliza que a maior economia do mundo está em uma recuperação sólida; por outro, reduz a ampla liquidez que tem garantido uma busca por maiores rendimentos, sobretudo nos países emergentes.

O maior deles, aliás, a China, assustou os mercados hoje, após o yuan afundar ao nível mais baixo em seis anos, em reação à decisão do Banco Central local (PBoC) de promover a maior baixa na taxa de referência diária desde agosto. Com isso, a moeda chinesa rompeu a barreira de 6,70 por dólar e é negociada na faixa de 6,75 por dólar, já atingindo um nível que era previsto para ser alcançado apenas no fim do ano. A Bolsa de Xangai teve leve alta, enquanto Hong Kong ficou fechada por causa da passagem de um tufão.

As demais moedas de países emergentes também se enfraquecem, com destaque para o ringgit malaio, que cai pela primeira vez em quatro dias. Nas divisas fortes, o euro também perde terreno para o dólar, reavendo patamares vistos pela última vez na esteira do referendo que decidiu pela saída do Reino Unido da União Europeia (UE), nos níveis mais baixos desde março.

A moeda única europeia ainda ecoa a fala do presidente do BC da região, Mario Draghi, que descartou qualquer alteração no prazo do programa mensal de recompra de bônus, elevando as expectativas para o último encontro do ano do BCE, em dezembro. Esse fortalecimento do dólar penaliza também as commodities, com o petróleo cedendo mais de 2%, diante do pessimismo quanto ao limite na produção.

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