BCs geram expectativa pelo risco
O governo japonês tenta roubar a cena dos bancos centrais. Antecipando-se à reunião do BC do Japão (BoJ), amanhã, o primeiro-ministro Shinzo Abe deve anunciar um plano de mais de 28 trilhões de ienes (US$ 265 bilhões) em estímulos econômicos, em um esforço para impulsionar a economia do país. A medida, ainda que sem muitos detalhes, reforça o quadro de elevada liquidez global e alimenta o apetite por risco, ampliando o debate sobre um aumento na taxa de juros nos Estados Unidos, em dia de decisão do Federal Reserve, à tarde.
O iene reagiu em baixa ante o dólar, em meio à notícia sobre o pacote de estímulo de Abe, que deve incluir 13 trilhões de ienes em "medidas fiscais", mas sem especificar se haverá novos gastos ou onde o dinheiro será usado. A Bolsa de Tóquio, porém, subiu 1,72%, blindando-se da queda de 1,91% da Bolsa de Xangai, em meio a relatos de que o órgão regulador está considerando restrições que podem afetar investimentos em ações.
Ainda na região Ásia-Pacífico, destaque para o vaivém do dólar australiano, em reação à aceleração da inflação no país. As moedas de países emergentes recuam, penalizadas pela queda do barril de petróleo. A commodity estende as perdas e é negociada nos níveis mais baixos desde abril, diante da expectativa de avanço nos estoques semanais norte-americanos de petróleo bruto e derivados, que saem às 11h30.
No Ocidente, as principais bolsas europeias avançam pelo terceiro dia seguido, apoiadas nos balanços corporativos. Os negócios em Londres são impulsionados pelo crescimento acima do esperado do Produto Interno Bruto (PIB) do Reino Unido no segundo trimestre deste ano, de 0,6% ante o período imediatamente anterior, ante previsão de +0,4%. Na comparação com igual trimestre de 2015, a alta foi de 2,2%, ante +1,9% estimado.
Em Wall Street, o sinal positivo também prevalece, em meio aos resultados financeiros das empresas e no aguardo da decisão do Fed. Não é esperada nenhuma ação de política monetária hoje. Tampouco o BC dos EUA deve deixar claro quando deve voltar a agir. Mas os investidores apostam em um tom mais duro (“hawkish”) no comunicado que acompanhará o anúncio da decisão, o que deve calibrar as expectativas por um aperto monetário ainda em 2016. Em contrapartida, um comunicado mais suave ("dovish") pode ser uma surpresa.
A expectativa é de que o Fed volte a colocar na mesa a possibilidade de um aumento no juro norte-americano neste ano, diante da melhora da conjuntura econômica e financeira nos EUA desde o último encontro, em junho. Porém, não deve haver um consenso entre os membros do colegiado, deixando em aberto a chance de o aperto acontecer (ou não) em setembro, novembro ou dezembro.
O mesmo fez o Comitê de Política Monetária, ontem. Sob nova direção, o Copom reiterou que não há espaço para iniciar um ciclo de cortes na taxa Selic, o que mantém a atratividade do país ao capital externo, diante dos juros elevados. Mais que isso, o Banco Central local passou a bola para o Palácio do Planalto e o Congresso Nacional, condicionando o processo de queda dos juros básicos à aprovação de medidas austeras e a um programa robusto de cortes de gastos.
As preocupações com os riscos fiscais já estão no radar dos mercados domésticos. A divergência entre Planalto e a equipe econômica do Ministério da Fazenda e do BC apontam para a crença de que as decisões políticas sobre a economia são mais dependentes de vontade do que de possibilidade.
E essa premissa pode acabar configurando uma nova crise política em Brasília. O clima pode ficar mais tenso em agosto, quando também deve ser definido o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, podendo entrar em ebulição em outubro. Afinal, o calendário político não é favorável para negociar medidas impopulares antes de novembro.
Para hoje, as atenções se voltam totalmente à decisão do Fed, às 15h. Antes, saem as encomendas de bens duráveis nos EUA (9h30) e as vendas pendentes de imóveis (11h), ambas referentes ao mês de junho.
No Brasil, têm a sondagem do comércio em julho (8h) e a nota do BC sobre operações de crédito (10h30) em junho. A partir das 16h, são esperados os números sobre o emprego com carteira assinada no país (Caged) no mês passado. Na safra de balanços, destaque para os números do Santander, antes da abertura do pregão local, e de Natura e Pão de Açúcar, após o fechamento.