Copom e PIB em segundo plano
Mal terá tempo para reagir à decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), ontem, e o mercado doméstico já receberá os dados do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil em 2015 hoje. O Banco Central manteve o placar da reunião anterior, de 6 votos pela manutenção da taxa Selic e 2 a favor do aumento em 0,50 ponto porcentual, e citou as incertezas domésticas e externas para segurar o juro básico em 14,25% pela quinta vez, em meio aos dados negativos da economia a serem apresentados nesta manhã.
Goleada, por enquanto, somente no placar do Supremo Tribunal Federal (STF), cuja maioria votou pela aceitação da denúncia contra o presidente da Câmara, Eduardo Cunha. Seis dos 11 ministros votaram pela abertura do processo criminal por corrupção e lavagem de dinheiro, mas o julgamento foi interrompido e será retomado às 14h, quando votam os outros cinco ministros.
Caso nenhum ministro mude o voto, a decisão de ontem torna-se definitiva e Cunha vira réu. Mas o Palácio do Planalto acompanhou o caso com cautela e teme que o deputado faça retaliações durante votação de projetos no Congresso Nacional, por causa da decisão no STF. O maior temor é de que o presidente da Câmara acelere as pautas-bomba.
No Copom, os diretores Sidnei Corrêa Marques e Tony Volpon mantiveram o "call" de aumento da Selic para 14,75% pela terceira reunião seguida, o que pode afastar as apostas de que o próximo passo do Copom seria de corte de juros - e estaria perto de acontecer. Na verdade, o que se enxerga é um BC não muito animado em subir os juros, mas também sem elementos para cortar. E, assim, a taxa básica fica onde está - talvez ao longo deste ano.
De qualquer forma, o juro brasileiro segue no nível mais elevado desde agosto de 2006, da mesma forma que o país se mantém na liderança isolada do ranking mundial dos maiores pagadores de juros reais, levemente abaixo de 7%. À essa posição amarga soma-se a brutalidade da recessão doméstica em curso (e seu viés desinflacionário). Afinal, a economia brasileira teve queda livre em 2015.
O IBGE deve confirmar, às 9h, a queda do PIB pelo quarto trimestre consecutivo entre outubro e dezembro do ano passado em relação aos três meses imediatamente anteriores. A previsão é de recuo de 1,6%, em um ritmo ligeiramente menos intenso que o observado entre julho e setembro de 2015, quando o PIB caiu 1,7%, também em base trimestral.
Assim, o PIB brasileiro deve acumular queda de 3,9% em 2015, no maior recuo da série histórica, revisada em 1996. Já na comparação anual, o PIB deve cair 6% no quarto trimestre do ano passado em relação a igual período de 2014, no sétimo trimestre consecutivo de resultado negativo nessa base de comparação (desde o segundo trimestre de 2014) e na maior queda nesse confronto também desde o início da série.
Além disso, a abertura dos indicadores de atividade são desanimadores. Em base trimestral, o PIB da indústria deve cair pelo sétimo trimestre consecutivo, sendo que a formação bruta de capital fixo, que se refere aos investimentos produtivos, deve acumular o décimo trimestre seguido de retração entre outubro e dezembro. O setor de serviços deve ter acumulado baixa em todos os quatro trimestres de 2015, penalizado pela queda do consumo das famílias, também pela quarta vez.
Já o agronegócio é dúvida, e pode tanto voltar a cair ao final de 2015 ante os três meses anteriores, ou ter mostrado recuperação e subido. Por sua vez, os gastos do governo devem ter subido pelo terceiro trimestre seguido, na mesma comparação. De positivo, apenas as exportações, que devem ter retomado a trajetória de alta nos três meses finais do ano passado, enquanto as importações devem ter caído pelo quarto trimestre seguido.
Mas os negócios locais estão mais interessados é com a questão política. Ontem, a Bovespa renovou o maior nível do ano, pelo segundo dia consecutivo, ao passo que o dólar foi abaixo de R$ 3,90, na menor cotação de 2016, em meio aos acordos de delação premiada no âmbito da Operação Lava Jato. Ambos os ativos retrocederam a patamares de dezembro.
As apostas dos investidores são de que as informações de executivos de empreiteiras podem complicar de vez a situação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e esclarecer pontos sobre as campanhas presidenciais de 2006, 2010 e 2014, elevando as chances do impeachment da presidente Dilma Rousseff. Ao mesmo tempo, esse cenário gera um quadro desfavorável ao ajuste fiscal e às reformas macroeconômicas.
Desse modo, não deve ter muito efeito o ligeiro sinal negativo que prevalece nas bolsas internacionais nesta manhã, ao passo que o petróleo avança e o dólar testa forças ante os rivais. A Ásia devolveu os ganhos da véspera e fechou em queda, ao passo que as principais bolsas europeias abriram a sessão no vermelho. Nos Estados Unidos, os índices futuros das bolsas de Nova York estão na linha d’água, antes dos indicadores econômicos do dia.
Na agenda norte-americana, às 10h30, saem os pedidos semanais de auxílio-desemprego feitos no país e a produtividade da mão de obra no quarto trimestre de 2015; às 12h, é a vez do índice ISM do setor de serviços em fevereiro e das encomendas de bens duráveis em janeiro. Antes, às 11h45, tem o PMI da Markit. Na Europa, pela manhã, serão conhecidos indicadores sobre a atividade na indústria e no setor de serviços, alem das vendas no varejo.