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China dá impulso aos mercados


O vento deve continuar favorável ao impeachment da presidente Dilma Rousseff, com as fortes rajadas nos ativos brasileiros recebendo um impulso externo hoje. O salto das exportações da China em março para o maior nível em um ano embala os mercados emergentes e as commodities no exterior, o que deve intensificar os ganhos da Bovespa e a queda do dólar no Brasil, alimentando o apetite pelo risco.

As exportações chinesas cresceram 11,5% em termos dolarizados no mês passado em relação a um ano antes, frente a uma queda de 25% nas vendas do país ao exterior em fevereiro. Já as importações recuaram pelo décimo sétimo mês, mas com uma queda menor, de -7,6%, na mesma base de comparação. Com isso, o superávit comercial chinês foi de apenas US$ 29,9 bilhões, o menor saldo em um ano.

Os números foram recebidos pelos mercados internacionais como encorajadores e sugerem que a China cresceu mais que o esperado nos três primeiros meses de 2016, com uma expansão de 6,7% no período. O dado oficial será conhecido na sexta-feira. De qualquer forma, a retomada das contas externas indicam que a segunda maior economia do mundo está conseguindo evitar um pouso forçado da atividade, com uma melhora da demanda.

Em reação, a Bolsa de Xangai subiu 1,42%, fechando no maior nível em três meses e reduzindo as perdas acumuladas no ano para 13%. As bolsas de Hong Kong (+3,19%) e de Tóquio (+2,84%) tiveram ganhos ainda mais acelerados. Nos mercados emergentes, as ações avançam ao maior nível desde novembro, ao passo que as moedas se fortalecem, com destaque para o ringgit malaio, que sobe pelo sexto dia seguido.

A divisa da Malásia é beneficiada também pelo avanço do petróleo, após o barril do Brent alcançar o maior nível em quatro meses. Nesta manhã, porém, a commodity realiza lucros, após subir mais de 10% em três dias, mas se mantém acima da marca de US$ 40, à espera do encontro do cartel de petróleo, em Doha, no domingo, quando os líderes decidirão sobre o congelamento da produção. A importação recorde de óleo pela China também pesa.

Na Europa, as ações de mineradoras conduzem o avanço das bolsas da região para a maior sequência de ganhos em um mês, diante do otimismo com a estabilização da economia chinesa. Os índices futuros das bolsas de Nova York também sobem, em meio à menor busca por proteção na segurança do ouro, do iene e da T-note.

Os investidores aguardam, agora, os indicadores econômicos do dia nos Estados Unidos, com destaque para as vendas no varejo e os preços ao produtor (PPI) em março (ambos às 9h30), além dos estoques das empresas em fevereiro (11h) e da divulgação do Livro Bege (15h). Às 11h30, saem os estoques norte-americanos de petróleo na semana passada. Logo cedo, tem a produção industrial na zona do euro.

No Brasil, com a leitura do parecer vindo da comissão especial do impeachment ontem e a publicação do documento hoje, no diário oficial da Câmara, as atividades no Congresso fazem uma pausa e devem voltar com forças apenas na sexta-feira, quando o tema entra na “ordem do dia” no plenário da Casa. A votação do impeachment ficou marcada para as 14h do domingo e a expectativa é de que o resultado seja conhecido entre 21h e 22h.

O presidente da Câmara, Eduardo Cunha, disse que só na hora da votação anunciará o critério de chamada dos deputados, mas ele deve começar pela região Sul, a fim de criar uma onda pró-impeachment, deixando os parlamentares do Norte e do Nordeste para o final. Enquanto isso, nos bastidores, a movimentação é intensa.

A oposição tenta ampliar para mais de 60% à adesão contra o mandato de Dilma, enquanto o governo libera ministros e segue negociando com os “nanicos” para alcançar os 171 votos. Porém, a ruptura das bancadas do PP e do PRB e a saída do líder do PR minaram as chances de apoio, fortalecendo a posição pró-impeachment. Já a decisão do PMDB de liberar a votação da bancada sobre o impeachment tem duas leituras.

De um lado, “os votos com a consciência” da até pouco tempo maior base aliada enfraquece a estratégia do Palácio do Planalto de barrar o processo. Por outro, pode ser visto como um revés ao vice-presidente da República, Michel Temer, e uma vitória possível do líder do partido na Câmara, Leonardo Picciani. Afinal, a liberação significa que o partido não se posiciona nem contra nem a favor do afastamento de Dilma.

O fato é que o governo segue vivo na disputa, mas a possibilidade de impeachment também não está enterrada. Não se pode subestimar o peso político da vitória da oposição na comissão, nem o apoio relevante que o governo já conseguiu reunir. No placar da imprensa, são 306 votos a favor do impeachment, dos 342 necessários para avançar o processo ao Senado, e 125 contra. Há ainda 40 deputados indecisos e 42 não quiseram responder.

Na agenda de indicadores econômicos do dia, saem a pesquisa mensal do setor de serviços (PMS) em fevereiro, às 9h, e os números semanais do fluxo cambial (12h30). Na Bovespa, hoje é dia de vencimento de índice futuro e de opções sobre índice e a briga entre “comprados” e “vendidos” explica a puxada na Bolsa brasileira ontem, quando fechou no maior nível do ano, retomando os 52 mil pontos, em alta de mais de 3,5%.

Já o dólar conseguiu se desvencilhar da artilharia pesada do Banco Central e seguiu abaixo de R$ 3,50, fechando no menor nível desde agosto. Nem mesmo a realização de cinco leilões de swap cambial reverso (equivalente à compra de dólares no mercado futuro), totalizando US$ 8 bilhões, ao longo da sessão conteve a força do real brasileiro ante a moeda norte-americana.

Ainda assim, diante do otimismo do mercado com a perspectiva de saída de Dilma, o BC aproveitou para reduzir a posição vendida (aposta na queda) em swaps cambiais, que foi alvo de crítica. O estoque de swaps, que superava US$ 100 bilhões, deve cair abaixo dessa marca com os leilões de ontem, pela primeira vez desde outubro de 2015.

A estratégia oportunista (e inteligente) do BC é de que se todo mundo corre para o real em meio à expectativa de mudança política, é preciso haver um movimento contrário. Afinal, os investidores não podem esquecer que a direção dos negócios pode mudar com facilidade, trazendo volatilidade aos mercados domésticos.

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