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Totalmente fora de contexto



Uma confusão sobre os comentários feitos pelo conselheiro econômico da Casa Branca, Peter Navarro, sobre a guerra comercial entre Estados Unidos e China, agitou o mercado financeiro ainda ontem à noite, roubando a cena da agenda econômica do dia. A afirmação de que o acordo assinado em janeiro estava encerrado afundou os índices futuros das bolsas de Nova York e derrubou o yuan (renminbi). O movimento, porém, foi revertido, após o mesmo Navarro afirmar que a declaração foi tomada “totalmente” fora de contexto.


Nesta manhã, os índices futuros em Wall Street exibem ganhos, o que anima a abertura do pregão europeu, onde as bolsas também são embaladas pela recuperação da atividade na região. A prévia deste mês do índice dos gerentes de compras (PMI) da indústria na França subiu ao maior nível em 21 meses, enquanto na Alemanha retornou ao patamar de três meses atrás. Também houve melhora nos PMIs do setor de serviços desses dois países.


Na Ásia, a sessão também foi de ganhos, liderados Hong Kong (+1,5%) liderando as altas, enquanto Xangai ainda mostrou-se abalada pela fala de Navarro e oscilou com +0,2%. Nos demais mercados, o dólar segue perdendo terreno em relação às moedas rivais, ao passo que o juro projetado pelo título norte-americano de 10 anos (T-note) está de lado. Já o petróleo avança e se sustenta na faixa de US$ 40 por barril. O ouro também sobe.


Apesar dessa melhora rápida dos ativos de risco, os investidores mostram-se mais sensíveis já sentiram o gosto do que está por vir nas relações sino-americanas, em um momento em que a escalada da tensão entre os dois países em direção a uma versão 2.0 da Guerra Fria parece ser perigosamente real e cada vez pior. Ainda mais depois que Navarro tentou consertar a fala, dizendo que se referia à “falta de confiança” do governo Trump nas tratativas com Pequim.


Assim, o que parecia ser uma sinalização positiva para o mercado financeiro, acabou sendo uma distorção e a retomada do otimismo entre os investidores também está totalmente fora de contexto, pois não parece haver uma maneira realista de EUA ou China manterem os termos do acordo, à medida que se aproxima a eleição presidencial. Será que a Casa Branca vai mudar o jeito de lidar com Pequim dependendo de quem levar o pleito?


Logo após a fala de seu conselheiro econômico, o presidente Donald Trump twittou que “o acordo comercial com a China está totalmente intacto” e espera que o país asiático cumpra os termos do acordo. Obviamente, à medida que novembro se aproxima, Trump quer mostrar vitória sobre a segunda maior economia do mundo, mas não se pode descartar que ele volte a usar sua artilharia comercial contra a China, a depender de como evoluir nos debates com o rival democrata Joe Biden e nas pesquisas eleitorais.


Atividade e Ata do Copom em destaque


Passada a confusão envolvendo as duas maiores economias do mundo, a atenção dos investidores se volta hoje para a agenda do dia. Dados de atividade na zona do euro e nos EUA e a ata da reunião da semana passada do Copom, pela manhã, podem definir uma direção mais firme para os ativos de risco, que vem oscilando dentro de um intervalo e com dose de volatilidade, seja rompendo os níveis atuais ou abrindo espaço para uma correção.


Por aqui, o destaque fica com a ata do Copom (8h). O documento refere-se ao encontro deste mês do Banco Central, quando decidiu, por unanimidade, cortar a taxa básica de juros pela oitava vez seguida, repetindo o ritmo da reunião anterior, de 0,75 ponto. No comunicado, a autoridade monetária manteve a porta aberta para um ajuste “residual”, já em agosto, o que renovaria o piso histórico da Selic para 2%.


Porém, o BC sinalizou que já está se aproximando do limite inferior para a taxa nominal de juros, o que indica que qualquer eventual próximo passo será dado com cautela redobrada. Por isso, é importante buscar, na ata, pistas sobre algum dissenso entre os membros do Copom em relação à condução da Selic, bem como justificativas (reformas econômicas, ajuste fiscal etc.) para um balanço de risco mais assimétrico para a inflação.


Ainda assim, os danos causados pela pandemia de coronavírus na atividade combinados com o ambiente benigno para o índice de preço ao consumidor, que está abaixo da meta perseguida pelo BC e livre de pressões cambiais, reforçam a percepção de que a porta não foi fechada e há espaço para novos estímulos. De qualquer forma, o autoridade monetária deve se mostrar mais dependente dos dados para tomar as próximas decisões de juros, evitando, assim, que qualquer declaração no documento seja tirada do contexto.



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