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Sexta-feira de cautela




A última sexta-feira do mês deve ser marcada por uma dose extra de cautela, diante do aval da equipe econômica para o valor de R$ 300 ao auxílio emergencial, prorrogado até o fim do ano. Resta saber quais serão as fontes de recurso, o que eleva a desconfiança dos investidores às vésperas da apresentação da proposta do Orçamento para 2021. O risco fiscal tem descolado o mercado doméstico do exterior, que também vive um dilema.


Afinal, o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, foi didático ao dizer que a inflação nos Estados Unidos pode até subir, e ficar acima do desejado, mas isso não significa que o movimento será acompanhado de uma alta na taxa de juros, já que o desemprego no país tende a seguir elevado, o que sugere que a recuperação econômica norte-americana será lenta. E essa lógica mantém o mercado financeiro fora de compasso da economia real.


Anestesiados pela injeção de liquidez sem precedentes, os investidores devem continuar buscando retorno em ativos mais arriscados. Mas não será a manutenção dos juros baixos por um período prolongado que será capaz de gerar emprego nos EUA, dinamizando a atividade e o consumo. Portanto, enquanto o apetite por risco é elevado, a recuperação econômica é baixa, em um contexto de aumento da dívida pública no mundo.


Talvez por isso, o mercado doméstico defenda o caminho das reformas e do ajuste fiscal, alimentando esperanças de que governo e equipe econômica irão colocar o Brasil na rota da prosperidade. Mas o discurso populista do presidente Jair Bolsonaro e a “fritura” interna do ministro Paulo Guedes acendem o sinal de alerta sobre o que pode vir pela frente, mergulhando os ativos locais em uma espiral negativa que será difícil de ser revertida.


A decisão do Conselho Monetário Nacional (CMN) ontem de repassar R$ 325 bilhões do lucro do Banco Central ao Tesouro Nacional reflete a gravidade do problema fiscal no país e as dificuldades de liquidez que a autarquia vem enfrentando para rolar a dívida pública. E a demanda do Tesouro era ainda maior, de R$ 445 bilhões. Esse cenário já tem elevado a demanda por prêmio no mercado de títulos, em meio à desconfiança dos investidores.


Ainda mais agora que o ministro e a equipe econômica terão de fazer malabarismo para encaixar a prorrogação e o valor de R$ 300 do auxílio emergencial nas contas do governo. Ao menos o anúncio do Renda Brasil ficou para um segundo momento. Mesmo assim, se Guedes não conseguir apresentar uma explicação convincente de como tais programas que irão aumentar os gastos serão compensados, o impacto nos ativos locais será negativo.


Política externa


Já no exterior, a atenção do mercado continua centrada na corrida presidencial pela Casa Branca. O presidente dos EUA, Donald Trump, oficializou formalmente ontem a candidatura à reeleição, repetindo a tática de 2016. Ao falar por mais de uma hora para uma plateia sem máscara, Trump chamou o rival, Joe Biden, de “fraco”, disse que a China será “dona dos EUA” se o democrata vencer e pregou “lei e ordem” ao citar os protestos no país.


Mas as palavras duras do presidente não mexem com Wall Street, que está mais sensibilizado com o tom suave (“dovish”) na fala de Powell ontem. Os índices futuros das bolsas de Nova York amanheceram em alta, dissecando a mudança de política monetária do Fed, que prometeu tolerar uma inflação acima da meta de 2%, mas sem promover um aumento na taxa de juros. Ele, porém, não indicou estímulos adicionais à economia.


Já as principais bolsas europeias abriram sem uma direção única, penalizadas pela sessão na Ásia. O destaque por lá ficou com a queda de 1,4% da Bolsa de Tóquio, reagindo à notícia de que o primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, irá renunciar ao cargo, devido a problemas de saúde. Ele é o chefe de governo mais longevo do Japão, considerando-se o mandato iniciado em 2012.


O iene, por sua vez, perde terreno para o dólar, mas a moeda norte-americana está mais fraca em relação aos demais rivais de países desenvolvidos e também relacionados a commodities, sob efeito da nova estrutura de pensamento do Fed. Já o petróleo recua, monitorando a temporada de furacões nos EUA, enquanto o ouro avança.


Agenda em destaque


E a agenda econômica do dia traz como destaque dados sobre a inflação nos EUA e sobre as contas públicas no Brasil, temas tão recorrentes nos últimos dias. A sexta-feira reserva números sobre a renda pessoal e os gastos com consumo nos EUA (9h30), além do índice de preços PCE, e tem também a leitura final da confiança do consumidor neste mês (11h).


Logo cedo, sai o índice de sentimento econômico na zona do euro em agosto. Por aqui, merecem atenção o resultado de agosto do IGP-M e a sondagem do setor de serviços neste mês, ambos às 8h, os dados do Banco Central sobre as operações de crédito no mês passado (9h30) e a nota do Tesouro sobre as contas públicas em julho (10h).


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