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Mercado teme efeito dominó



Um efeito dominó na Europa pode levar outros países a seguirem a decisão de Alemanha e França ontem de voltar a impor o lockdown, com a segunda onda de coronavírus ganhando força. Não se pode descartar que os Estados Unidos também retomem medidas, assim que a disputa pela Casa Branca for definida, em meio ao salto de casos por lá. Já no Brasil, o acúmulo de riscos fiscais e inflacionários formam um tsunami, mas que não assusta o Banco Central.


O Copom não ajustou o discurso e manteve um tom suave (“dovish”) no comunicado que acompanhou a decisão de manter a Selic em 2%, pela segunda vez, afirmando que o choque de preços é “temporário” e que o regime fiscal “não foi alterado”. Também manteve o trecho em que vê espaço para um corte adicional no juro básico, ainda que “pequeno”, e avalia que as condições para a “prescrição futura” (forward guidance) seguem satisfeitas.


A postura contrariou a expectativa mais conservadora (“hawkish”) e pode corroer a credibilidade da autoridade monetária se o cenário se agravar. Ainda mais levando-se em conta que o anúncio foi feito em um dia de forte deterioração dos ativos de risco, com o dólar fechando no maior valor desde meados de maio, já acima da faixa de R$ 5,75, e o Ibovespa registrando o maior tombo desde abril, de volta à marca dos 95 mil pontos.


É fato que o desempenho dos negócios locais ontem refletiu uma pressão essencialmente global, pois se o mercado internacional já sabia que novos surtos da covid-19 eram esperados, o que assustou os investidores foi o retorno das medidas de restrição à atividade, com impactos ainda incertos na recuperação econômica. Por tudo isso, as bolsas dos dois lados do Atlântico Norte amargaram perdas de até 4% ontem.


Exterior se recupera


Nesta manhã, porém, os índices futuros das bolsas de Nova York e as principais praças europeias abriram em alta, mostrando recuperação do maior declínio em meses, embora o sinal negativo tenha prevalecido na Ásia - exceto em Xangai (+0,1%). O dólar também devolve boa parte dos ganhos da véspera, aliviando a pressão no petróleo, enquanto os rendimentos (yields) do título do Tesouro dos EUA segue ao redor de 0,8%.


Ainda assim, a preocupação com o aumento das infecções por coronavírus e com a adoção de bloqueios mais rígidos à atividade segue no radar dos investidores, em meio às incertezas sobre os impactos de um novo ciclo da pandemia na economia. O receio é de que a piora no número de casos possa prejudicar a demanda, provocando o chamado “duplo mergulho” da atividade, dando sinais de uma recuperação sob a forma de “W”.


Bélgica, Espanha, Polônia e Itália podem acompanhar os governos alemão e francês, anunciando o fechamento parcial de bares e restaurantes, além de impor o distanciamento social, com os encontros limitados a dez pessoas. A circulação nas ruas em alguns lugares da Europa já precisa ser justificada, com as empresas devendo privilegiar o trabalho dentro de casa, mas as escolas permanecem abertas.


O fato é que o mercado financeiro estava subestimando a probabilidade de uma segunda onda severa de coronavírus neste inverno [no Hemisfério Norte], após evitar um ciclo ruim durante as estações mais quentes. Ao mesmo tempo, os investidores estavam superestimando a eficácia de uma vacina contra covid-19, mostrando-se otimistas diante do progresso com tratamentos mais eficientes da doença, que está menos letal.


Tudo isso permitiu aferir que qualquer novo impacto por causa da disseminação do vírus seria limitado. Esse sentimento era sustentado por uma injeção de recursos sem precedentes injetada pelos principais bancos centrais, que empurraram os investidores para os ativos de risco, notadamente o mercado de ações, à medida que empurraram as taxas de juros para perto de zero (ou menos).


Aliás, o BC do Japão (BoJ) manteve hoje a política monetária ultra-frouxa, mas piorou as perspectivas para a economia, prevendo uma queda de 5,5% do Produto Interno Bruto (PIB) japonês neste ano, dizendo que os riscos para a atividade e os preços pioraram devido à pandemia. Agora, as atenções se voltam para o BC da zona do euro (BCE), que deve tratar da escalada de casos na região e lançar pistas sobre estímulos adicionais.


Dia de agenda cheia


E o dia ainda promete ser intenso, diante da agenda carregada de indicadores e eventos econômicos relevantes. A começar com o anúncio de mais uma decisão de política monetária, desta vez, do BCE, às 9h45. Em seguida, às 10h30, a presidente do BCE, Christine Lagarde, concede entrevista coletiva.


Entre os indicadores econômicos, destaque para a primeira estimativa do PIB dos EUA no terceiro trimestre deste ano. A previsão é de alta de 30% na taxa anualizada, praticamente revertendo as perdas de 31,4% registradas no período anterior. Ambas as leituras são históricas. Os números efetivos serão conhecidos às 9h30.


No mesmo horário, saem os pedidos semanais de auxílio-desemprego feitos no país e, depois, às 11h, é a vez das vendas pendentes de imóveis residenciais em setembro. Logo cedo, será conhecido o sentimento do consumidor na zona do euro. Também pela manhã, às 8h, tem o IGP-M e a confiança do setor de serviços, ambos referentes a outubro.


Já na safra de balanços, a temporada norte-americana traz os resultados trimestrais das gigantes do setor de tecnologia Facebook, Apple, Alphabet e Amazon.com. Aqui, serão conhecidos os demonstrativos contábeis de B2W, Lojas Americanas e Ambev.


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