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Mercado se prepara para o confronto


Maio chega ao fim hoje para o mercado financeiro, com os investidores se preparando para o confronto. No dia da divulgação do impacto da pandemia de coronavírus no PIB do Brasil, as atenções estão concentradas na coletiva de imprensa que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, concede hoje (sem horário definido) para falar sobre a China.


A notícia inverteu a trajetória das bolsas de Nova York na reta final do pregão ontem, apagando os ganhos e deixando Wall Street no vermelho ainda nesta manhã. Os índices futuros do Dow Jones e do S&P 500 apontam para uma continuidade dessa queda hoje, com o otimismo dos investidores abalado em meio à escalada da tensão sino-americana.


As principais bolsas europeias também abriram no vermelho, à espera do pronunciamento de Trump, com o índice Stoxx 600 caindo pela primeira vez em cinco dias. Na Ásia, apenas Xangai oscilou em alta (+0,2%), enquanto Hong Kong caiu 0,8%, diante das incertezas envolvendo a ex-colônia britânica. O petróleo cai, enquanto o dólar se enfraquece.


O anúncio da coletiva de Trump elevou a preocupação de que a piora nas relações entre as duas maiores economias do mundo pode colocar em risco a recuperação da atividade em um cenário pós-coronavírus. A declaração conjunta de EUA, Austrália, Canadá e Reino Unido sobre a lei de segurança nacional em Hong Kong exacerbou os ânimos com Pequim.


Entre as medidas, Trump deve punir autoridades chinesas com a revogação de vistos, sob a acusação de aprisionar mais de um milhão de muçulmanos em campos de concentração. Além disso, a declaração de que Hong Kong perdeu sua autonomia pode levar à retirada do status comercial especial, provocando uma saída maciça de capital externo da região.


Do outro lado, a China já deixou claro que rejeita a "mentalidade de Guerra Fria" entre os dois países e defende a cooperação mútua para a recuperação econômica global em um cenário pós-pandemia. Ainda assim, o primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, evitou ontem, durante entrevista coletiva, falar sobre a tensão com os EUA envolvendo Hong Kong.

Verdade Conveniente


Em outra frente, Trump realmente assinou uma ordem executiva para impedir a censura nas plataformas digitais, revisando as leis governamentais sobre a atividade nas redes sociais. Segundo o chefe da Casa Branca, as empresas de mídia social não possuem “poder incontrolável” para “censurar e restringir” o discurso. “Estamos cansados disso.”


Ainda assim, nesta manhã, o Twitter colocou um aviso em uma mensagem de Trump publicada na rede social, sob a acusação de “glorificar a violência”. O tweet do presidente fala sobre a onda de violência em Minneapolis, que enfrentou ontem a terceira noite de protestos após um homem negro ter sido sufocado até a morte por um policial da cidade.


Ontem, durante a sessão regular, as ações do Twitter fecharam em queda de mais de 4% e as do Facebook recuaram 1,6%. Aliás, também chamou atenção ontem a declaração da porta-voz da Casa Branca, Kayleigh McEnany, de que essas duas empresas recebem dinheiro da China para permitir que Pequim dissemine notícias falsas na internet.


Portanto, a batalha entre a disseminação de fake news e a liberdade de expressão tende a se acirrar. À medida que se aproximam as eleições presidenciais nos EUA, o candidato republicano à reeleição, que aparece atrás nas pesquisas, já deixou claro que a estratégia do partido é atacar a China, principalmente responsabilizando país pela pandemia.


Da mesma forma, aqui no Brasil, o inquérito de fake news evidenciou a importância da disseminação de notícias falsas pelas redes sociais como estratégia política na internet. Ex-aliados do presidente Jair Bolsonaro deram detalhes sobre o modus operandi do chamado “Gabinete do Ódio”.


Trata-se de uma possível associação criminosa que desfere ataques ofensivos a pessoas públicas, autoridades e instituições, com subversão da ordem democrática e incentivo à quebra da normalidade institucional. Talvez, por isso, a maioria dos ministros da Suprema Corte (STF) defende a manutenção da investigação, conduzida por Alexandre de Moraes.


Buy in May


E o mês acaba hoje contrariando a própria fama. Ao invés de venderem e irem embora (Sell in May and go away), os investidores foram às compras e aproveitaram o período que antecede as férias de verão no hemisfério norte para recuperar boa parte das fortes perdas registradas em março.


O Ibovespa, por exemplo, deve encerrar o mês com resultado positivo pelo segundo ano seguido. Mas se engana quem acha que é lenda a história que marca os meses de maio. Afinal, 2019 foi a primeira vez em dez anos que o principal índice acionário da Bolsa brasileira não ficou no vermelho em maio - e 2009 foi um ano de recuperação pós-crise.


O mesmo fator, então, marca o mês de maio de 2020. Após cair quase 30% em março, quando registrou recorde de circuit breakers em um único mês e cravou o segundo pior resultado mensal da história da Bolsa, era natural que houvesse um repique. Ainda assim, os ganhos acumulados desde abril não anulam o estrago causado na renda variável.


Talvez porque algo ainda não mudou: o fato de que o Brasil ainda não é atraente aos olhos dos investidores estrangeiros. Diante da imagem negativa do país no exterior, em meio às crises política e sanitária para tratar da Covid-19 - além, é claro, dos frágeis indicadores econômicos - a saída de capital externo segue maciça. E não apenas na via financeira.


A crise entre os poderes, confrontando ora o Congresso, ora a Corte Suprema (STF), mostra que a instabilidade em Brasília não deve cessar logo. Ao menos, por ora, o risco de impeachment do presidente Jair Bolsonaro é baixo, o que mantém a crença de que, em algum momento, a agenda de reformas, ajuste fiscal e privatizações será retomada.


Essa aposta permitiu que os investidores locais (fundos institucionais e pessoa física) reduzissem a posição defensiva (hedge) em dólar, que se afastou da marca de R$ 6,00. Aliás, maio deve ser o primeiro mês de queda da moeda norte-americana neste ano. Ainda assim, a formação da taxa referencial Ptax pode trazer volatilidade ao pregão hoje.


Dia de agenda cheia


Em meio aos ajustes de fim de mês e ao noticiário político mais tenso, os investidores recebem ainda uma agenda econômica carregada de indicadores e eventos relevantes. O destaque por aqui fica com os números do Produto Interno Bruto nos três primeiros meses deste ano (9h).


Sob os efeitos iniciais das medidas de isolamento social e bloqueio (lockdown) da atividade, a economia brasileira deve interromper três trimestres seguidos de crescimento e cair 2,5%, no primeiro resultado trimestral negativo desde o fim de 2016. Já na comparação anual, a previsão é de queda menor, de 1%, mas há quem espere até uma alta.


Aliás, tem causado certa controvérsia os dados divulgados pelos órgãos do governo, que não parecem refletir a realidade dos impactos econômicos do coronavírus. A polêmica mais recente girou em torno dos números sobre o desemprego, mas o desempenho da atividade também gera dúvidas, uma vez que a recuperação já vinha frágil na virada do ano.


Seja como for, o IBGE anuncia, também às 9h, o índice de preços ao produtor (IPP) em abril, que mede o custo dos produtos “na porta de fábrica” - sem impostos, nem fretes. Depois, às 9h30, o Banco Central publica a nota sobre o desempenho consolidado das contas públicas, com o déficit fiscal do mês passado já refletindo a pandemia.


No exterior, o calendário norte-americano traz os dados sobre a renda pessoal e os gastos com consumo (9h30) em abril e o índice de confiança do consumidor neste mês (11h). Entre os eventos de relevo, o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, discursa via webcast em um evento na Universidade de Princeton, a partir das 12h.


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