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Mercado convive com incerteza

Vai ficar tudo para depois das eleições, no Brasil e nos Estados Unidos. Os presidentes Jair Bolsonaro e Donald Trump jogaram um balde de água fria no mercado financeiro ontem, ao afirmarem, separadamente, que qualquer novidade sobre o Renda Cidadã e um novo pacote fiscal costurado entre republicanos e democratas só será conhecida após o pleito de novembro. E até lá, os investidores terão de conviver com essa incerteza.


Ou seja, a apresentação do novo programa social, prevista agora só para semana que vem, não deve trazer a fonte de financiamento dos recursos. Ontem, a notícia de que o presidente só irá avalizar propostas polêmicas sobre de onde virá o dinheiro após as eleições municipais reverteu a direção dos ativos locais. A pá de cal veio com a decisão de Trump de suspender as negociações sobre estímulos adicionais nos EUA.


O que se viu, então, foi um intenso vaivém dos negócios, com destaque para o dólar, que chegou a cair abaixo de R$ 5,50 na cotação mais baixa do dia e acabou encerrando colado à faixa de R$ 5,60. Nas bolsas, as perdas foram mais acentuadas em Nova York, de mais de 1%, ao passo que o Ibovespa seguiu abaixo da marca dos 100 mil pontos. Já nos juros futuros, a demanda por prêmio seguiu firme, diante dos riscos fiscais.


A sensação é de que, por mais que o ministro Paulo Guedes tenha retomado a condução do debate fiscal e que a paz tenha sido selada entre ele o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, os obstáculos não foram superados. Afinal, as recentes desavenças têm ocorrido dentro do próprio governo, em uma disputa entre a equipe econômica, que defende a pauta liberal, e a ala política, comandada por Bolsonaro, já de olho nas eleições de 2022.


Para o mercado financeiro, o que realmente importa é a perspectiva de avanço da agenda de reformas combinado com uma disciplina fiscal que respeite a regra do “teto dos gastos”. Se isso não acontecer, o humor dos investidores tende a azedar de vez, trazendo nervosismo aos negócios locais. E essa piora pode ter reflexo na trajetória das contas públicas e na inflação.


Essa combinação pode obrigar o Banco Central a apertar a Selic antes do esperado, encurtando o período de juros baixos. Por outro lado, uma política fiscal mais austera tende a travar a recuperação econômica no ano que vem, além de ser impopular. Já uma postura mais frouxa, iria apoiar a demanda doméstica, dando ritmo à retomada da atividade. Diante desse dilema, é difícil prever quem ganha a queda-de-braço.


Exterior confuso


Os mercados internacionais foram atingidos por uma enxurrada de postagens de Trump pelo Twitter nas primeiras horas desta quarta-feira, elevando a volatilidade nos negócios. No total, o presidente dos EUA, que mantém o tratamento da covid-19 na Casa Branca, tweetou ou retuitou cerca de 40 mensagens em pouco mais de duas horas. De um modo geral, ele afirmou que iria aprovar várias medidas independentes de estímulo.


As mensagens acabaram anulando as perdas dos índices futuros das bolsas de Nova York, que amanheceram em alta, reagindo às declarações de Trump, de que a Câmara e o Senado dos EUA devem aprovar imediatamente US$ 25 bilhões em apoio às companhias aéreas, outros US$ 135 bilhões a pequenas empresas e mais US$ 1,2 mil às famílias, via programas de proteção. Os tweets também influenciaram o pregão na Ásia.


Já as principais bolsas europeias abriram sem um rumo definido, com os investidores se debatendo em relação aos sinais confusos emitidos por Trump. Ontem, a decisão de suspender as negociações sobre um novo pacote fiscal até novembro foi feito horas depois de o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, reforçar a mensagem de que a economia norte-americana ainda tem um longo caminho de recuperação pela frente.


Mais que isso, Powell reafirmou que o auxílio fiscal do governo durante a pandemia deu um “suporte vital” às famílias. Daí, então, que fica fácil entender a frustração dos investidores. Afinal, a recuperação dos ativos de risco desde março foi impulsionada por estímulos monetários e fiscais sem precedentes lançados por bancos centrais e governos em todo o mundo, sendo que grande parte veio dos EUA. E, agora, uma rodada adicional foi adiada.


Ao mesmo tempo, os investidores continuam monitorando o impacto da pandemia de coronavírus na recuperação econômica, em meio ao temor de uma segunda onda de contágio de covid-19 em vários países, à medida que se aproxima o inverno no hemisfério norte. Diante de tamanha desordem, o dólar mede forças em relação às moedas rivais, ao passo que o petróleo segue incrustado na faixa de US$ 40 o barril.


Ata do Fed em destaque


A agenda doméstica começa a ganhar força hoje e traz o IGP-DI de setembro (8h), além dos dados do Banco Central sobre o fluxo cambial (14h30), que deve seguir apontando saída recorde de dólares do país. Já o IGP-DI deve registrar leve desaceleração, mas seguir “salgado”, com alta mensal ao redor de 3,5%, levando à taxa acumulada em 12 meses para perto de 20%.


No exterior, o foco se concentra na ata da última reunião do Fed (15h), que pode trazer mais detalhes sobre a mudança de estratégia, anunciada no fim de agosto, que permite um viés mais inflacionário, até que a meta de emprego seja alcançada. No front político, à noite, acontece o primeiro e único debate entre os candidatos a vice-presidente dos EUA, Kamala Harris, pelos democratas, e o republicano Mike Pence, atual vice.


Entre os indicadores econômicos, também serão conhecidos os estoques semanais norte-americanos de petróleo bruto e derivados (11h30) e os dados sobre o crédito ao consumidor nos EUA em agosto (16h).


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