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Mercado busca direção


A agenda de indicadores e eventos econômicos ganha força hoje e deve definir o rumo do mercado financeiro, que vem buscando uma recuperação desde que atingiu o fundo do poço na crise do coronavírus, em meados do mês passado. Apesar dos sinais crescentes de que os estragos na economia global são maiores que o estimado, a liquidez injetada pelos bancos centrais desde então impede que os ativos de risco fiquem fora de controle.


Mas os dados do dia tendem a refletir a realidade que os investidores têm dificuldades em ver, confiantes de que as ferramentas dos BCs serão capazes de blindar o impacto global da pandemia nos mercados - mas não necessariamente na atividade real. Por ora, os números preliminares sobre o desempenho dos setores industrial e de serviços na zona do euro indicam contração, o que embute um viés negativo nas bolsas europeias.


O índice dos gerentes de compras (PMI) do setor de serviços na região da moeda única caiu ao mínimo histórico, de 11,7 na prévia de abril, ante 26,4 em março, Já o PMI da indústria na zona do euro atingiu o menor nível em mais de 11 anos, a 33,6 em meados deste mês, de 44,5 no mês passado. A previsão era de leituras melhores, a 24 e a 39,2, respectivamente.


Da mesma forma, os índices futuros das bolsas de Nova York amanheceram com leves perdas, à espera dos pedidos semanais de auxílio-desemprego feitos nos EUA (9h30). A expectativa é de aumento de pouco menos de 5 milhões de solicitações, totalizando 25 milhões em quatro semanas, o que reforça a visão de que o mercado de trabalho norte-americano está destruído.


Já na Ásia, a sessão foi mista, com ganhos acelerados em Tóquio (+1,5%), moderados em Hong Kong (+0,4%), mas ligeira baixa em Xangai (-0,2%). A recuperação nos preços do petróleo, que caiu abaixo de zero no início desta semana, abriu espaço para a melhora dos mercados na região, impulsionados pelos ganhos da véspera em Wall Street. Mas a preocupação com a disseminação da Covid-19 nos países asiáticos preocupa.


Ou seja, a postura atual do mercado financeiro é uma reminiscência do estágio em que se encontrava no cenário pré-coronavírus e uma tentativa de retorno a esse “normal”. Mas, como já dito aqui, mesmo após o fim do isolamento social e a reabertura da economia global, haverá um novo normal. E, se for esse o caso, a capitulação dos ativos de risco ainda está por vir - mesmo com a “exuberância irracional” sustentada pelos BCs.


Caminho sem volta


Por aqui, o mercado doméstico deu ontem sinais claros de que está satisfeito com a queda de 30% na Bolsa brasileira acumulada no ano e aceita realizar o prejuízo, desde que o Banco Central continue cortando a taxa básica de juros e intervenha de modo previsível no dólar. Afinal, foi apenas a possibilidade de haver cortes mais agressivos na Selic que içou o Ibovespa para os 80 mil pontos ontem, no maior nível desde o fundo atingido em março.


Tal comportamento ignorou o ajuste negativo já contratado na bolsa devido à ausência do pregão local durante o feriado nacional, na terça-feira, quando houve fortes perdas no exterior. Naquele dia, uma onda de aversão ao risco provocada pelo petróleo atingiu os recibos de depósito de ações (ADRs) brasileiros negociados em Nova York, onde o índice que replica o Ibovespa (EWZ) caiu 3%.


Ao mesmo tempo, o dólar escalou para novos topos históricos, fechando acima de R$ 5,40. E nada impede a moeda norte-americana de alcançar níveis ainda mais elevados, pois não há nenhum motivo aparente para esperar qualquer alívio. Ao contrário, todos os fatores conspiram contra o real: política monetária, deterioração fiscal, ruídos políticos e nenhum crescimento econômico.


Ou seja, os investidores resolveram celebrar a situação surreal de que o Brasil está ficando mais pobre: sem nenhum crescimento econômico nos últimos anos e com uma maxi depreciação cambial. E essa comemoração tende a continuar, já que o Banco Central mudou o tom e mostrou uma postura mais frouxa (“dovish”), sem sinalizar que uma queda de 0,75 ponto em maio, para 3%, é o nível terminal da Selic neste ano.


Mas enquanto os mercados emergentes comemoram e parecem estar feliz com novos cortes nos juros básicos, à medida que a inflação desaparece, o caminho lá na frente pode ser doloroso. Obviamente, juros mais baixos nesses países significam um dólar ainda muito mais forte - e, portanto, preços menores das commodities e economia global mais fraca. Talvez, por isso, o FMI já registre um número recorde de pedidos de socorro.


Atividade domina agenda


A agenda econômica desta quinta-feira traz como destaque dados preliminares de abril sobre a atividade nos setores industrial e de serviços nos EUA, ao longo da manhã. Ainda nos EUA, também serão conhecidos dados do setor imobiliário em março (11h). No Brasil, não há indicadores em destaque.


Entre os eventos de relevo, merece atenção a participação (fechada à imprensa) do presidente do BC, Roberto Campos Neto, em uma live do Morgan Stanley (13h30). Na última segunda-feira, foi a mudança de tom na fala dele em outra live que afundou os prêmios dos juros futuros, disparou o dólar e içou a Bolsa.


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