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Liderança em disputa


Na semana em que milhões de brasileiros vão às urnas escolher seus representantes, a corrida presidencial parece empatada pela liderança - em um cenário ainda não previsto pelo mercado financeiro. Embora aparente estar consolidada a ida de Jair Bolsonaro e Fernando Haddad para o segundo turno, o levantamento da CNT/MDA, divulgado ontem, apontou pela primeira vez um empate técnico entre os candidatos do PSL e do PT, com 28,2% contra 25,2%.

Já o Datafolha conhecido na sexta-feira passada apenas tirou o atraso e confirmou o Ibope mais recente, mostrando também seis pontos de distância entre o primeiro e o segundo colocado, com 28% para Bolsonaro e 22% para Haddad. À noite, o Ibope publica uma nova pesquisa, cuja coleta com pouco mais de 3 mil eleitores vai até hoje. Mas a semana reserve pesquisa eleitoral todo dia...

A novidade, por ora, fica com os números da CNT/MDA. Enquanto o candidato do PSL ficou estável, Haddad cresceu, vindo de 17,6% na pesquisa anterior, divulgada em 17 de setembro. Ciro Gomes, por sua vez, oscilou de 10,8% para 9,4%, enquanto Geraldo Alckmin foi de 6,1% para 7,3%. Já Marina Silva passou de 4,1% para 2,6%.

O levantamento da CNT/MDA também mostrou derrota de Bolsonaro em todas as simulações para o segundo turno, porém com oscilações dentro da margem de erro, de 2,2 pontos, nos confrontos contra o PT e o PSDB. Contra o rival direto, Haddad assumiu a dianteira, ficando com 42,7% contra 37,3%; de 39% para o PSL versus 35,7% antes.

Já o tucano reduziu a desvantagem anterior (de 38,2% versus 27,7%), mas ainda perde com 33,6% contra 37,0%. Um dos quesitos capaz de explicar o desempenho de Bolsonaro é a rejeição, que chegou a 55,7% na pesquisa da MDA, vindo de 51%. Haddad, por sua vez, é rejeitado por 48,3%, de 47,1% antes.

A pesquisa encomendada pela CNT foi feita entre quinta e sexta-feira passada (dias 27 e 28) e apenas abre uma semana de divulgação das últimas sondagens sobre a intenção de voto às vésperas do primeiro turno das eleições, no domingo. Aliás, além do Ibope desta segunda-feira, está previsto um novo levantamento do mesmo instituto na quarta-feira. Amanhã e na quinta-feira, é a vez dos números do Datafolha.

Nessas pesquisas, os dois mais tradicionais institutos do país podem (ou não) sinalizar também uma situação de empate técnico entre Bolsonaro e Haddad em primeiro lugar. Ambos vão a campo para captar o retrato mais recente da disputa presidencial, após milhares de pessoas irem às ruas no para protestar contra a candidatura de Bolsonaro, em atos proporcionalmente maiores que os de manifestantes a favor durante o fim de semana.

Sem nenhuma estimativa oficial por parte da Polícia Militar, para ambos os lados, há quem diga que os protestos ocorridos em várias cidades brasileiras foram semelhantes aos de três anos atrás. Não se pode descartar, com isso, a possibilidade de mudança de voto entre os eleitores - que, talvez, nem seja capturada nas sondagens, antes do dia 7 de outubro.

Em meio à propagação do voto útil entre os eleitores de direita e anti-PT, é possível até que haja uma mudança no porcentual entre os candidatos, com alguns ganhando competitividade (e outros perdendo). É o que já mostra o mais recente levantamento encomendado pelo BTG, feito pelo Instituto FSB via ligação telefônica, com 2 mil eleitores, durante o fim de semana.

Segundo as instituições privadas, Bolsonaro oscilou em baixa, passando de 33% para 31%, enquanto Haddad oscilou em alta, indo de 23% para 24%. A novidade, entretanto, ficou com o crescimento de Alckmin, que foi de 8% para 11%, mas segue empatado com Ciro, que oscilou de 10% para 9%. A margem de erro da pesquisa é de 2 pontos percentuais.

Portanto, é com esse cenário eleitoral ainda totalmente em aberto e indefinido na reta final da disputa que o mercado financeiro brasileiro terá de lidar. Nesse sentido, é complicado falar que “não dá para aceitar o resultado das urnas” ou que se irá “tomar o poder”, com mais de um terço dos eleitores podendo mudar de decisão na última hora e reafirmando a soberania da democracia.

É bom lembrar que os investidores encerraram o mês de julho, logo após o fim da Copa do Mundo na Rússia, apostando que Alckmin iria decolar por causa do maior tempo de TV durante o horário eleitoral gratuito e das coligações partidárias. Essa aposta permitiu ao dólar interromper, à época, cinco meses consecutivos de alta, e à Bovespa registrar o primeiro mês de resultado positivo sólido desde janeiro.

No período seguinte, em meio ao imbróglio com a candidatura do PT, os ativos de risco não embutiram no preço o peso da transferência de voto do ex-presidente Lula ao candidato por ele apoiado. Depois, Bolsonaro começou a ganhar a simpatia dos investidores, por causa das ideias liberais de seu provável ministro da Economia, Paulo Guedes, enquanto o tucano andava de lado entre os eleitores.

Agora, o mercado financeiro brasileiro coloca em xeque a imparcialidade das pesquisas eleitorais, confiando mais em institutos privados de menor relevância, e questiona também o viés da imprensa, uma vez que Haddad deslanchou, enquanto Bolsonaro, fora da campanha desde o ataque a faca sofrido no início do mês passado, coletou uma série de polêmicas, envolvendo seu “posto Ipiranga”, seu vice e até sua ex-mulher.

Com isso, os investidores tendem a redobrar a postura defensiva ao longo dos próximos dias, uma vez que a disputa tende a ficar ainda mais acirrada, em uma semana decisiva. O ápice da troca de farpas pode ficar com o tradicional debate entre os presidenciáveis na TV Globo, na quinta-feira. Já de alta médica, mas ainda em recuperação, a dúvida é se Bolsonaro irá participar do evento.

Ontem, mesmo não estando presente no penúltimo debate na TV, o candidato do PSL foi alvo de críticas, com Marina Silva dizendo que ele “amarela” e que “já está com medo da derrota”. De olho em uma vaga no segundo turno do pleito, Haddad também foi criticado, com os rivais citando casos de corrupção envolvendo o PT.

Com o cenário eleitoral em primeiro plano, a agenda econômica deve ficar relegada. Ainda assim, merece atenção os dados sobre o desempenho da indústria brasileira em agosto, amanhã, e sobre o comportamento da inflação ao consumidor (IPCA) em setembro, na sexta-feira.

No mesmo dia, no exterior, sai o relatório oficial sobre o mercado de trabalho nos Estados Unidos. O chamado payroll deve manter o ritmo de criação de 200 mil vagas de emprego por mês e é o grande destaque do calendário econômico lá fora, que traz também dados de atividade na zona do euro e na China.

Aliás, o gigante emergente faz uma pausa de uma semana a partir de hoje, em homenagem ao aniversário dos 69 anos da República Popular. Com isso, a guerra comercial também fica suspensa, ainda mais após o acordo firmado entre EUA e Canadá em torno do Nafta. O anúncio feito ontem à noite deve animar Wall Street, que pode ter uma nova sessão recorde.

Os índices futuros das bolsas de Nova York têm ganhos acelerados nesta manhã, indicando um início de mês em alta, após encerrar mais um trimestre com valorização. As principais bolsas europeias acompanham o sinal positivo, porém com menos vigor, em meio às incertezas políticas na Itália e após uma sessão de volume reduzido na Ásia e na Oceania.

Entre as moedas, o peso mexicano e o dólar canadense também são destaques de alta, negociados nos maiores níveis em várias semanas, enquanto o iene se enfraquece e cai ao patamar mais baixo em 11 meses. Nas commodities, o petróleo segue se beneficiando da desaceleração na perfuração de poços nos EUA e está na máxima em quase quatro anos.

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