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Frustração com pacote de Guedes deve pesar


A frustração com o anúncio do pacote do ministro Paulo Guedes, apelidado por ele mesmo de “Big Bang”, pode pesar no mercado financeiro doméstico hoje. Os investidores já estavam desconfiados sobre como a equipe econômica iria conseguir alinhavar os programas com apelo popular, atendendo às demandas eleitorais do presidente Jair Bolsonaro, sem “furar” o “teto dos gastos” no ano que vem.


E o motivo que levou ao adiamento do pacote, agora sem data prevista para divulgação, confirma essa desconfiança. Bolsonaro não teria gostado do valor inferior a R$ 300 proposto por Guedes para o Renda Brasil, bandeira para a reeleição, e pediu para que a equipe econômica chegasse a um meio-termo - “não com R$ 600 nem com R$ 200”. Mas a falta de consenso em torno do auxílio emergencial é apenas uma das divergências.


Há dúvidas ainda sobre a abrangência do programa, que deve substituir o Bolsa Família, e sobre como as despesas serão custeadas sem evitar uma expansão descontrolada das despesas. Guedes quer propor a revisão de programas considerados ineficientes, como o abono salarial e o seguro-defeso, mas esses benefícios precisam ser extintos no Congresso sob a forma de PEC (proposta de emenda à Constituição).


Se o ministro não conseguir apresentar uma explicação detalhada e consistente de como tais programas do governo que irão aumentar os gastos serão compensados pela redução das despesas, o impacto nos ativos locais tende a ser negativo, descolando-os do comportamento no exterior, que amanheceu no positivo. Afinal, é à sinalização de medidas de ajuste fiscal e desindexação do Orçamento que o mercado financeiro está atento.


À primeira vista, a combinação de cortes nas despesas e extinção de assistências consideradas ineficientes com o incentivo ao investimento privado e à privatização, somado ao estímulo ao emprego, soa como música aos ouvidos dos investidores. Só que os ruídos vindos de Brasília sobre como a equipe econômica irá conciliar os anseios do presidente sem aumentar os gastos públicos tende a elevar a cautela por aqui.


Mas não foi só o Renda Brasil que não saiu do papel. O novo Pacto Federativo e a nova CPMF também não ficaram prontas a tempo, reduzindo o impacto do Big Bang, que deveria ser um pacote bem mais amplo que o Pró-Brasil, lançado pela ala militar e desenvolvimentista em abril e que contemplava as demandas do Palácio do Planalto por aumento das despesas em prol do retomada econômica em tempos de pandemia.


IPCA-15 é certeza na agenda


Enquanto aguardam novidades sobre o anúncio do pacote econômico, os investidores recebem hoje a prévia deste mês da inflação oficial ao consumidor brasileiro. O IPCA-15 será conhecido às 9h e deve subir 0,20%, desacelerando-se levemente em relação à alta apurada no período anterior (+0,30%).


No mês passado, o resultado bem abaixo do esperado consolidou as apostas de corte na Selic em agosto, para 2%, e a expectativa é de que se o número vier novamente comportado, crescem as chances de queda adicional no juro básico em setembro. Afinal, o Banco Central deixou uma fresta para novos ajustes, ainda que pequeno, o que levaria o país a ter juros negativos (taxa nominal descontada a inflação projetada para o ano).


Isso porque a taxa acumulada em 12 meses pelo IPCA-15 até agosto deve ficar em 2,30%, seguindo abaixo do piso do intervalo de tolerância perseguido pelo BC neste ano (2,50%) pelo quarto mês seguido. Os números oficiais são o grande destaque da agenda doméstica, que traz ainda a confiança do comércio em agosto (8h).


No exterior, pela manhã, saem dados do setor imobiliário norte-americano e sobre a confiança do consumidor nos Estados Unidos. Diante da agenda econômica mais fraca lá fora, o mercado internacional se anima com relatos de progresso nas negociações comerciais entre EUA e China, após uma “conversa construtiva” entre os representantes dos dois lados por telefone. Não foram divulgados detalhes.


Mas o empenho de ambas as partes para garantir o sucesso da primeira fase do acordo comercial, assinado no início deste ano, se contrasta com o tom da campanha eleitoral do presidente Donald Trump. Por isso, os índices futuros das bolsas de Nova York amanheceram com alta firme, embalando a abertura do pregão europeu, após uma sessão mista na Ásia. Já o petróleo oscila em baixa, enquanto o dólar cai.



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